I | Castanho

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  Hawkins, Indiana
Outono de 2013.

     As ruas estavam úmidas, o vento cortava e pouco se via com toda a neblina, o outono deixava as noites mais deprimentes do que o normal. Max também percebia a mudança no humor da cidade, poucas pessoas vão ao cinema, diferente do que acontece no verão quando as sessões lotam. As noites no trabalho eram longas e tediosas sem clientes, não que gostasse de atender uma legião de pessoas, mas o tempo passava mais rápido.

      Fora do trabalho Maxine gostava do outono, sem o calor irritante e pegajoso, o ar fresco que a deixava mais liberta. Max gostava da sensação da qual o vento de outono trazia nos momentos em que andava de skate tendo o seu rosto lavado pelo ar frio, era libertador. Durante o longo período em que morou na Califórnia passou a odiar o verão, e todas as outras coisas que a estação mais quente do ano trazia junto de si.

      O outono tinha seus defeitos, por exemplo, volta ás aulas. Talvez Maxine odiasse voltar para a escola mais do que trabalhar em um lugar vazio. Seu primeiro ano estudando na escola de Hawkins soava igual a deixá-la nua nas florestas do Canadá durante o inverno; ela provavelmente não acabaria bem. Ser adolescente em uma cidade grande era horrível, porém ser uma adolescente cheia de problemas em uma cidade pequena era pior ainda. Ter que se esconder de todos para evitar perguntas quais você provavelmente não quer responder, tentar fazer amigos, ou tentar esquecer da culpa. Max odiava Hawkins mais do que voltar para a escola.

      Maxine via claramente o rosto apavorado da garota enquanto os demais se divertiam com a situação. Era extremamente angustiante para alguém como ela quem sempre sofreu bullying por "ser esquisita" não conseguir fazer nada, ficar parada sem esboçar reação alguma, talvez fosse pelas inúmeras lembranças ruins da Califórnia passando pela sua cabeça em loop.

      Voltou a órbita quando o pátio se esvaziou destacando a garota abaixada com os materiais esparramados pelo chão. Max nem percebeu, mas seu corpo a levou onde a até então estranha estava. O raciocínio de Mayfield parecia não funcionar direito. Se abaixou silenciosamente em frente para a outra garota, sem falar qualquer coisa começou a ajudar guardar os materiais. A garota de cabelos castanhos lhe encarou confusa, contudo, não negando sua ajuda, só... parecia estranhar a atitude repentina.

— Obrigada — disse quase em um sussurro.

— Tá tudo bem, não foi nada —  Max olhou nos olhos da garota pela primeira vez.

— Primeiro dia agitado — sorriu fechando a mochila — Mas, achei gentil da sua parte — as duas levantaram para entrar na escola.

— Bem vinda ao meu mundo — colocou o fone ouvindo a voz de Kate Bush, deixando a garota no pátio com sua tragédia.

      Maxine havia a ajudado, não se envolveria mais em algo que não a desrespeita, queria uma ano escolar sem problemas. Mayfield já tinha problemas demais.

      Francês era sua primeira aula. Max era boa com linguagens, tinha facilidade em aprender quando o professor lecionava direito, ainda não conhecia seu professor, entretanto, não seria pior que o anterior. Pôs seu caderno sobre a mesa esperando a entrada do professor. Os outros alunos conversavam entre si, seus olhos andavam pela sala, sua parada foi na garota de cabelos castanhos do pátio sentada ao fundo do outro lado da sala, ela estava concentrada enquanto desenhava algo em seu caderno, parecia mais bonita quando não estava sofrendo bullying. Desviou o olhar quando uma mulher loura entrou na sala, Max sorriu quando percebeu que teria uma professora; a primeira professora de francês qual teve em todos esses anos.

— Bonjour - sua professora colocou seus pertences em cima de sua mesa - Não vou falar apenas em francês, fiquem tranquilos. Sou a nova professora de francês de vocês, me chamo Robin Buckley. Também não vou pedir apresentações, nos conheceremos durante o ano, estamos entendidos? - Sim, todos disseram, menos Max, ela estava muito encantada para dizer algo — Certo, vamos começar — com um sorriso discreto Max abrirá o caderno.

      Max saiu da escola fazendo parte do clube de jornalismo, por pura estratégia. Se precisasse de extracurriculares não seria atletismo ou esportes em geral, então, a escolha mais apropriada era o jornal da escola por ser boa com redações e ter boa oratória.  Não havia o que ser destacado sobre a escola, apenas, que seu enigma nomeada garota de cabelos castanhos foi embora no quinto horário, sem explicação. Maxine não se importava, porém estava intrigada. Ou achava não se importar.

      A volta para casa foi a melhor parte do dia da garota, o silêncio reconfortante com a falta de outros humanos ao seu redor.

      Mayfield mora junto da mãe, seu padastro e o filho dele, em um bairro pobre de Hawkins. Estar em casa era a pior parte da existência de Max. Normalmente as pessoas se sentem seguras, confortáveis, e aliviadas quando estão nas suas respectivas casas, Maxine não é uma dessas pessoas! Sua casa parecia ser assombrada por vivos, todos sempre bravos, e não havia comunicação, apenas violência. Neil batia em Billy como corretivo para suas desobediência, e Billy descontava em Max, a garota por sua vez não conseguia desabafar com sua mãe a qual está cega de amor.

— Mãe! — Max chamou por Susan ao entrar em casa.

— Estamos na cozinha, filha — respondeu a mais velha. Maxine adentrou o cômodo onde os três estavam almoçando.

— Só vou trocar de roupa, tenho que ir para o trabalho — disse após se rejeitar sentar na mesa — Com licença — se virou.

— Não vai nos cumprimentar, Maxine? — Neil questionou.

— Não tinha visto vocês aí — forçou um sorriso — Boa tarde, Neil... e Billy — saiu sem esperar uma resposta.

      Oito pessoas, era o total de pessoas dentro da lanchonete qual Max parou para almoçar. Munson's Coffe, a garota adorava aquele lugar, ficava no final da cidade perto de sua casa. É um lugar frequentado por ela e algumas senhoras que também moram perto dali, o dono é um solteirão qual não conseguiu se livrar de Hawkins.

     A garota saboreava sua fatia de torta acompanhada por uma xícara de café em uma mesa ao fundo da cafeteria. Max poderia ficar em casa e tentar ter uma refeição tranquila "em família", mas em meio á tantas tentativas falhas, ela julga não precisar. A garota afastou o prato da torta quando terminou de comer, esperando seu horário chegar. 17:35. Faltava quarenta e cinco minutos.

      Aquela manhã foi a mais fria durante o outono em Hawkins. E Maxine, ela retirou o que disse sobre gostar da estação! Eles não a davam carona nem mesmo nos dias frios, e se Neil não dissesse que não, Susan não a levaria de carro até escola. Max andava o caminho até a escola amaldiçoando o dia em que sua mãe conheceu aquele homem. Seu corpo estava congelando, pensava sobre o verão californiano e chegou a sentir falta, muita falta, mas não tinha o que fazer já que estava em Indiana. Nem mesmo The Runnaways a deixou animada.

      O diretor da escola, que aparentemente era um charlatão, começou uma reunião no ginásio sobre o jogo de futebol americano na próxima semana e mais algumas coisas quais Max não prestou atenção, porque estava ocupada demais procurando a garota de cabelos castanhos até que a achou sentada na primeira arquibancada junto de quatro garotos. A garota também parecia procurar por ela já que seus olhos se encontraram em um determinado momento, porém Maxine desviou no mesmo segundo, porque segundo a mesma, ela não se importava.

      Durante o recreio Max passou na biblioteca para pegar um livro para pesquisa e também porque era o melhor lugar naquela escola. Enquanto passava pelas prateleiras encontrou diversos clássicos, brigou com si mesma para não pegar todos os que viu, no final pegou apenas aquele que procurava a princípio. Sentou–se em um mesa aleatória na grande biblioteca vazia, folheando livro de biologia com a própria companhia.

      A garota se encontrava concentrada no livro, entretanto, sua concentração foi embora assim que alguém sentou ao seu lado, Max tentou não olhar, para não começar uma conversa, mas foi impossível.

— Você não é a garota do cinema? — um garoto questionou.

— Sou — respondeu — Max.

— Lucas Sinclair — o garoto respondeu sorrindo.

Max conversou pouco, mas o pouco que conversou a fez perceber que talvez tivesse feito um novo amigo, porém, não criaria expectativas, para não ter consequências.

...

Não pude deixar de colocar Lumax ao menos como amigos. Adoro esses dois queridos 🙂

Não esperem muito de mim.

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