CAPITULO NOVE
Lia
De volta a casaChego em casa e como esperado, ela esta vazia, peguei um voo não tão lotado, mas minha cabeça parece prestes a explodir
Ainda bem que a policia deixou que voltássemos para nossa cidade, já estava com medo de ficar muito tempo naquele hotel, mas não temos permissão de sair da nossa cidade
Mamãe esta trabalhando mas provavelmente chega daqui uma hora. Então entro no chuveiro e fico por um bom tempo chorando, o pânico me toma conta e começo a ter dificuldade para respirar, me seco e vou para o quarto da minha mãe, pego uns calmantes dela e levo por meu quarto, ela tem tantos que nem vai sentir falta, e se eu pedisse ela provavelmente não daria
Deito e durmo, quando acordo vejo que já esta escurecendo, vou pra cozinha pegar agua e minha mãe está la
—Oi filha, que saudades, tá bem ? Não quis te acordar meu amor
Ela me abraça forte e solto algumas lágrimas em silencio tentando manter o controle
—To com dor na cabeça, mas acho que tô ok
Ela sorri fraco e me entrega um copo d'água
—Filha, eu tava pensando, acho que seria bom você ir ao psicólogo
Quando eu era pequena fui algumas vezes, mas odiava e só me deixava mais mal ainda
—Eu mal cheguei mãe, você sabe que não preciso ir ao psicólogo, não vou enlouquecer por conta disso
Primeiramente eu não tinha certeza disso, e em segundo lugar, sabia muito bem que nada que eu falasse tiraria isso da cabeça da minha mãe, então completei
—Mas ok, eu vou assim que tiver com vontade de sair de casa
Saio da cozinha e volto pro meu quarto, choro na cama, depois choro em frente a pia, depois em frente ao espelho enquanto tento sorri para me sentir melhor, então sem nem ter comido uma coisa se quer no dia, durmo de novo e só acordo no outro dia na hora do almoço
—Filha, estou preocupada com você, sei que você passou por uma experiência terrível, mas você não pode deixar isso te abalar querida
Fico em silêncio então decido conversar com ela, afinal ela é minha mãe, e eu não tenho ninguém mais para contar o que tô sentindo e receber apoio, só ela, olho para o teto e começo a dizer, escolhendo bem as palavras por precaução
—Eu amei ele muito mãe, mas ultimamente, já não era a mesma coisa, nem sei se algum dia ele chegou a me amar.Talvez não, talvez sim, mas sabia que ultimamente ele não sentia nada por mim mais
Continuo encarando o teto, minha mãe escuta em silencio e isso me conforta, ela realmente quer que eu fale com ela
—E apesar disso, lógico que foi a coisa mais horrível que me aconteceu, eu daria de tudo pra esquecer, ele no chão, o olhar vidrado e vazio, o sangue saindo pelo nariz e um pouco pelo ouvido, sempre que fecho os olhos é isso que vem a minha mente, é terrível
Ela respira fundo e engole em seco, começo a olhar para a mulher na minha frente como se já não tivesse medo de ser julgada por nada, como se eu não estivesse errada
—A gente tinha brigado muito ultimamente, ele não gostava mais de mim, só queria que eu sempre estivesse por perto, como uma garantia de alguém pra ele ficar. Me pergunto se eu tivesse terminado antes talvez ele não teria, sabe, não teria ficado na casa exatamente naquela hora, ele teria na casa dele, com outra pessoa, mas vivo pelo menos.
Uma lágrima escorre involuntariamente
—Eu sei que os pais dele devem me odiar agora, mas não vou conseguir não ir ao velório, seria impossível, eu já amei tanto ele, achei que isso ia ser pra sempre
Minha mãe estica a mão na mesa e entrelaça nossos dedos como forma de apoio
—Sinceramente, não queria dar de cara com ninguém da família dele
Ela assenti e me olha atentamente
—Filha, saiba que eu tô aqui pra te ouvir, você pode ser sincera, eu vou te ajudar, se for o motivo para eu dar broncas eu irei, mas mesmo assim, sou sua mãe, acima de tudo eu vou te ajudar
Inspiro me acalmando e falo
—Desse jeito, ate parece que você acha que eu que matei ele
Minha mãe faz uma cara de choque e diz ofendida
—Filha, nunca acharia isso de você, mas se você tivesse feito, eu não iria odiar você
E é isso, todos temos problemas com pais, no meu caso tenho uma mãe presente, carinhosa e liberal, mas um pouco, digamos, que doida
—Mãe, eu quero que você prometa que nunca vai minimizar qualquer erro que eu cometer, não é pra isso que temos mães sabe
Ela solta uma risadinha
—Querida eu sempre vou te proteger, você é tudo que eu tenho
Fecho os olhos e consigo por um breve segundo sentir paz, graças ao amor que minha mãe tem por mim
Passo um bom tempo vendo TV, mas evitando jornais, é péssimo ver minhas fotos borradas na TV
Hoje é dia de ser interrogada novamente, só quero que isso tudo seja encerrado logo, mas estou com medo
VOCÊ ESTÁ LENDO
Hawthorne
Teen FictionQuando recém formandos vão comemorar o fim do último ano em um lugar afastado, as coisas acabam saindo do controle, e um deles jamais voltará vivo da casa Quem é o culpado ?