Amigos

5 0 0
                                    

Era uma tarde escura de outono, sexta-feira. Tinha convidado uns amigos lá pra casa para completarmos um trabalho da escola. Estávamos em 5, sendo eu, Alan, Nicole, o Mike e a novata, Soph.

A Soph era aquele tipo de pessoa que emana umas energias sinistras, sabe? O visual dela lembrava muito um estereótipo gótico moderno, o olhar se mantinha estático, profundo, frio e analítico ao mesmo tempo, como se ela estivesse decifrando cada detalhe ínfimo sobre a sua vida. Os cabelos longos, lisos e escuros constantemente despencavam para frente e cobriam o rosto, escondendo praticamente tudo que poderíamos saber sobre sua forma de expressar-se. Não, ela não costumava falar. Sempre respondia com frases curtas, grunhidos monossilábicos e acenos lentos de cabeça.

Nicole é tímida, extrovertida, bem-humorada e seu intelecto surpreende com a quantidade abissal de informações que guarda na cachola. Ela é o oposto da Soph, praticamente. A Nicole tem uma opinião sobre toda porção de coisa e tem um visual caótico-organizado que combina cores, arte abstrata e um leve senso de seletividade que te faz pensar na vastidão de seu armário. Divertida, carismática e de personalidade forte, posso dizer que de todos que estavam ali, ela é a única com quem me sinto absolutamente confortável em conversar e expressar meus pensamentos.

O Alan era – intenso. Irresolúvel. Indecifrável. Imprevisível. Idiota. Um completo… imbecil.

E bem… o Mike. Ok. Ele é legal. Bonito e inteligente sem parecer um estereótipo de homem branco padrão. Compassivo, focado, determinado e otimista. Um olhar castanho cintilante e um sorriso doce que forma covinhas logo acima da ponta dos lábios. Ele tentava muito puxar assunto com a Soph, mesmo com todos nós sussurrando nos ouvidos dele sobre o quanto seus esforços pareciam estar sendo inúteis. Nós dois não somos tão chegados assim, mas conheço o bastante sobre ele para saber que se eu precisar de alguma ajuda, posso pedir ao Mike sem medo.

E por fim, eu. Não sou ninguém tão importante. Sou apenas um jovem de 17 anos que viu uma simples e divertida tarde com amigos se transformar num inferno tão pesado que nem mesmo 1 ano de terapia intensiva seria capaz de, ao menos, borrar os rostos desesperados daquelas cabeças decapitadas ou acinzentar a cor do sangue que escorria nas paredes ou até mesmo distorcer o timbre dos gritos angustiosos de medo dos meus amigos.

Até hoje a minha garganta dói, sabia?

A EspiralOnde histórias criam vida. Descubra agora