night changes • gabriel barbosa

001: O começo

Mariah Mattos

Sair de casa nunca é fácil, principalmente quando você faz a mudança radical de um estado para outro. Mas, foi necessário, não podia ficar em um lugar onde eu via que a chance para realizar meu sonho jamais iria chegar. Ainda mais quando na sua família tiveram vários que fracassaram ao tentar viver da música, e esse era o meu maior medo, afinal... eu vivia para ela.

Aos 21 anos decidi deixar o Amazonas e ir embora para o Rio de Janeiro... a cidade maravilhosa, a casa de grandes artistas, dos mais renomados poetas. Nos primeiros meses foi difícil arrumar um trabalho, e fazia pequenos "shows" em festas universaitárias durante a noite, e durante o dia eu trabalhava nos serviços gerais de uma escola para sobreviver.

A boa parte era que eu não precisava arcar com as despesas sozinhas. Ao chegar aqui conheci Maria Luiza, ou Malu, como costumo chamá-la... decidimos alugar um apê juntas e nossa parceria deu certo como devia de ser.

Após mais um dia de trabalho eu peguei o metrô pra casa. Sexta a noite já começava a correria para tocar nos bares em que eu havia fechado contrato. Ao chegar no apê já pude ver Malu jogada no sofá, mas esta logo abriu um sorriso ao me ver.

— Vejam só, a minha cantora favorita. — ela disse levantando-se do sofá e correu para me abraçar.

— Ih, Maria Luiza... quer alguma coisa? Dinheiro? Não tenho. — falei e rimos juntas enquanto separávamos do abraço.

— Meu Deus! Olha o que pensas de mim! — ela disse fingindo estar ofendida, e ri mais uma vez.

— É claro! — ri e me sentei ao seu lado tirando meus sapatos. — Céus! Eu estou morta... queria tanto não ter mais nenhuma obrigação hoje. — choraminguei.

— É só não ir, boba! Desliga o celular e finge que não fechou contrato com ninguém para esse final de semana. — rimos juntas mais uma vez.

— Eu queria muito ter esse poder de escolha. — suspirei derrotada. — Mas ainda não sou rica e tenho muitas contas a pagar, além de ter que me alimentar para não morrer.

— Quantos lugares esse final de semana?

— Cinco. — suspirei. — Dois hoje, dois amanhã e um no domingo... e pra piorar ainda preciso trabalhar amanhã de manhã.

— Mas amanhã é sábado! — Malu disse indignada.

— É, eu sei. — sorri sem humor.

— Cara, eu trabalho de segunda a sexta e não aguento. Imagina você que faz mil coisas! — ela riu. — Eu definitivamente não queria ser você, ou estar na sua pele.

— Preciso me arrumar, afinar o violão... — respirei fundo e ri logo em seguida.

— Vou fazer um lanche pra você antes de ir. — Malu disse.

— Está tão amigável que estou estranhando. — rimos juntas. — Mas eu aceito seu lanche.

— Ótimo! — ela sorriu.

Levantei-me e fui para o banheiro. Tirei aquela roupa suada e fedida, e logo em seguida me coloquei de baixo do chuveiro na tentativa da água levar embora todo cansaço ali existente.