007: (Re)encontro

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Mariah Mattos

Escutei o despertador tocar, e Malu reclamar. Na "casa" nova dividíamos o mesmo quarto, era um local pequeno que só cabia nós duas mesmo. Havíamos nos mudado a cerca de duas semanas, encontramos esse lugar perto dos nossos trabalhos e de onde Malu faz o tratamento.

Era o que conseguíamos pagar no momento... era isso, ou morar de baixo da ponte.

Levantei-me rapidamente depois de desligar o alarme, era mais um dia de trabalho para mim já que minha amiga pediu para sair do seu emprego por conta dos tratamentos, e prometi a ela que seguraria as pontas com o que eu recebia. A família de Malu mandava dinheiro pra ela, com isso ela estava comprando os remédios... a família não consegui vir para o Rio cuidar dela, e nem ela conseguiria ir embora pois quer fazer todo o tratamento aqui.

Fiz o café da manhã, e depois fui tomar um banho. Coloquei meu uniforme e logo saí de casa. Peguei o ônibus lotado, como sempre, mas não demorou muito para que eu chegasse em meu destino.
Registrei meu ponto de entrada, e depois fui buscar meu esfregão e o restante do meu material de trabalho.

— Bom dia, Mariah. — disse Sônia entrando na pequena sala das faxineiras, ela é a chefe. — Hoje você terá que cobrir Klíssia.

— Hoje eu tenho tanto a fazer, Sônia! Tenho que limpar toda a educação infantil, depois os dois parquinhos, e ainda tem o laboratório de ciências. — forcei um sorrisinho.

— Eu sei que antes do almoço você terá feito todas as suas obrigações. — ela forçou um sorriso e bateu em meu ombro. — Pela parte da tarde você cobre a Klíssia. Tenha um bom dia, Mariah.

— Pra você também. — falei baixinho e respirei fundo.

Era sempre assim: quando alguém faltava, eu quem tinha que cobrir. E não importava quantas coisas eu tinha que fazer no dia, eu tinha que cumprir sem reclamar. E assim comecei mais um dia, antes do almoço fiz todas as minha obrigações.

Quando sentei para comer lembrei Malu do seu remédio, e depois voltei ao trabalho. Saí arrastando meu carrinho de limpeza por toda escola até chegar no setor de esportes do Ensino Médio. Comecei pela sala de ballet, depois judô, e por fim era a vez da quadra poliesportiva. Ao me aproximar do "destino final" percebi que o mesmo estava sendo usado, pois dava pra ouvir vozes já de fora, adolescentes eufóricos.

Aproximei-me do portão de entrada tentando ver o que acontecia ali... até que vi o inacreditável: Gabriel Barbosa estava ali em uma espécie de palestra para os meninos da escolhinha de futebol. Desde que comecei o processo de mudança não falei mais com ele... não conseguia tempo. E agora ele estava ali, parecia até brincadeira.

— Ai, tia Mariah! Me perdoe, já deveríamos ter desocupado a quadra para você limpar! — disse o professor assim que me viu ali, e Gabriel levou o seu olhar em minha direção abrindo um enorme sorriso.

— Ah, não se preocupe. Podem ficar à vontade. — falei rindo um pouco nervosa.

— Só mais cinco minutinhos e eu libero as crianças. — o professor falou e assenti.

Comecei a preparar as coisas que usaria, e em alguns minutos vi o professor liberar os alunos. Ele fez um sinal para que Gabriel permanecesse na quadra, e o mesmo assentiu.
Peguei minha vassoura e comecei a varrer as arquibancadas.

night changes • gabriel barbosaOnde histórias criam vida. Descubra agora