D-400
Era uma tarde de outuno.
Folhas secas caíam e enfeitavam as ruas vazias do bairro monótono onde Jisung agora morava. O clima estava frio, tão frio que seus dentes estavam rangendo e seus dedos ficando dormentes.
Jisung sempre odiou o frio. Ele sente falta do calor do verão e do sol forte queimando sua pele. Ele sente falta das poucas lembranças que ele tinha com os seus pais.
Eles costumavam passar as férias de verão na praia, Jisung era somente uma criança e amava correr pela areia enquanto perseguia o seu pai. Sua mãe gritava com os dois para eles não irem tão longe.
Mas uma coisa aconteceu: a adolescência.
Jisung não sabe como chegou naquela situação, não entende como os dias felizes com seus pais se transformaram em noites em claro engolindo suas próprias lágrimas.
Ele estava se sentindo um fardo, e era nítido que seus pais não sabiam como lidar com a bagunça em sua mente. Eles tentaram curar o coração sangrento do filho com presentes caros e viagens para o exterior. No entanto, o vazio ainda consumia Jisung.
Com o tempo, seus pais pareceram cansar de entender a mente confusa do filho e o entregaram nas mãos de qualquer babá ou terapeuta que fosse pago o suficiente para não espalhar a situação do primogênito da família Han.
Até que um dia, ambos pareceram chegar ao limite, cansados de trocarem Jisung de escolas e hospitais, sem que nada se resolvesse.
Jisung só lembra de acordar naquela manhã com suas malas prontas e uma passagem em mãos. Sua mãe disse que ele iria tirar férias por alguns meses na casa de sua avó, mas Jisung sabia que não era somente isso.
Não era uma surpresa, afinal. Os pais de Jisung se livrariam dele mais cedo ou mais tarde. Ele achava que eles demoraram até demais para colocá-lo no primeiro avião que o levaria até o fim do mundo.
"— Pai, o que é isso? — Jisung finalmente disse, depois de ter sido rudemente levado até o carro por seus pais.
— Jisung, você sabe que seus pais só não podem mais cuidar de você por um tempinho, certo? — Sua mãe respondeu, fingindo uma falsa mansidão em seu tom de voz que Jisung sabia que não passava de mentiras baratas.
— Por favor, eu sei que vocês só não querem mais lidar com um filho doente! — Jisung disse, foi a primeira vez que ele conseguiu forças para refutar seus pais na vida.
— Jisung! — Seu pai gritou, batendo no volante do carro enquanto o semáforo estava no vermelho — Se você não fosse essa criança o tempo inteiro, se você não amasse atenção, talvez nós não precisássemos nos preocupar tanto com você.
— Quando você se preocupou? — Jisung já não conseguia mais segurar suas lágrimas — Vocês me abandonaram em um hospital psiquiátrico e fingiram que eu não existia, pai.
— Han Jisung, pelo amor de Deus... Chega! — A Sra. Han respirou fundo — Passe uns dias com sua avó, ela mora em uma cidade calma e você pode tirar umas férias do caos que é Seul, ok? Agora pare de gritar com o seu pai, nós só queremos o seu bem.
Não havia o que fazer. Nada mudaria a cabeça dos poderosos da família Han."
E foi assim que ele parou aqui:
Na casa de sua amada avó.
— Ah, oi querido — A velhinha o recebeu de braços abertos — Você está tão magrinho... a vó vai fazer um bom café da manhã para você, ok?
— Obrigado, vó.
Jisung não se sentia acolhido assim há anos; talvez ter sido arrastado para esse fim de mundo não tenha sido tão ruim afinal...
⏳
E então, depois de um bom tempo, a casa de sua vó tornou-se um lar para ele. O rosto enrugado e o sorriso afetuoso da velhinha o afastavam dos pensamentos ruins. Sua mente era desligada e o abandono de seus pais era esquecido.
O cheiro do bolo de milho e do café quentinho entravam pelo seu nariz e aqueciam o seu corpo por dentro; os cachecóis macios — que sempre ficavam enormes em seu pescoço — lembravam-no de que a Sra. Han fez tudo à mão, passando horas sentada em uma cadeira tricotando algo que Jisung pudesse usar para se proteger do frio insuportável. A dor ainda estava lá, mas a Sra. Han o ajudou a esquecê-la.
Assim, Jisung aprendeu a lidar com o frio, mesmo que ele ainda fizesse o seu peito arder e seus olhos tremerem quando a solidão da noite chegava.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝗹𝗲𝘁𝘁𝗲𝗿𝘀, minsung
FanficMinho deixou Jisung... tudo o que resta agora são memórias distantes e promessas vazias. Eles teriam dado certo em outro universo? Em outra vida, talvez, Minho teria se apaixonado por Jisung e eles estariam vivendo um romance digno de cinema. Mas, n...