fale agora! lizago

speak now

Não parece uma boa escolha convidar sua ex namorada para o seu casamento.

Eu pensei nisso, respirando fundo, olhando para o espelho da penteadeira. Meu rosto estava brilhando com a maquiagem simples. Raramente eu deixava aplicarem um pingo de maquiagem para esconder as grandes olheiras abaixo das pálpebras, mas raramente eu ia para casamentos, principalmente de ex namorado.

Passei os dedos pelo cabelo, observando como o vestido roxo não combinava tanto com a minha pele.

— Porque caralhos essa mulher especificou dress code? — resmunguei, me levantando, o salto fazendo meus pés doerem um pouco.

Eu até entendo as noivas não desejarem que vão de branco em seu próprio casamento, mas todo mundo de roxo? Não era possível. 

Essa mulher queria que todo mundo fosse uma espécie de... William Afton ? Eu não sei se zoar e zombar de uma noiva no dia do casamento dela causa alguma coisa, sei lá, ganho sete dias de azar.

E eu também não sei se meu rancor enorme é porque achei o dress code horrível, ou porque eu não gosto dela, ou porque eu não queria ver Thiago com ela.

É egoísta me sentir assim? Egoísta ter... Aceitado o convite? Ainda me lembro quando Thiago me entregou esse pedaço de papel e eu precisei me perguntar três vezes se ele realmente me chamou para ver o casamento dele com outra pessoa.

Eu sou uma mulher decidida, qual é? Sou cientista, passo o dia inteiro no IML abrindo e fechando corpos com uma facilidade do caramba. Toda sexta a noite, eu me encho de bebida e passo meu fim de semana de ressaca. Tenho sucesso na minha carreira, dentro e fora da ordem, então porque caralhos me incomodo com a vida que meu ex leva? Se Thiago está feliz com outro alguém (que não sou eu), que se foda ele.

MALDITOS! MALDITOS PENSAMENTOS INTRUSIVOS.

— Você não precisa se convencer que está feliz por ele, hein — Agatha entrou na sala, com os braços cruzados

Usava um terno roxo, os cabelos curtos e repicados ajeitados até demais para a própria Volkomenn, e um sorrisinho presunçoso. Meu Deus, eu ODEIO adolescentes. Mas ela foi literalmente a única que não foi convidada para fazer parte da preparação do casório (e eu), então...

Me restava ficar perto dela.

— Eu tô feliz por ele. — resmunguei, mexendo em meu guarda roupa — porque caralhos eu 'to aceitando de uma criança?

— Sabe o que você deveria fazer? — a de caninos afiados adentrou no quarto, pela primeira vez, conversávamos minimamente como pessoas, e não como animais — vestir aquela sua blusa feia e seu jaleco que anda pedindo socorro...

— Agatha...

— E entrar na hora que o padre dizer “fale agora ou cale-se para sempre” — botou a mão no peito, fazendo uma voz grossa — e aí você fala que a noiva é uma piranha, e o Thiago ama você e não ela. Simples. Seria maneiro!

—...porque só ideias lixos saem dessa sua boca, Volkomenn?

Não iria admitir, mas dentro de minha bolsa que (infelizmente) tinha um ritual de aumento, enfiava meu all star, uma meia preta, meu jaleco “que pedia socorro” e o restante das roupas mais confortáveis que eu tinha.

Eu não ficaria até a hora da festa com essa roupa ridícula nem ferrando.

— Porque o Thiago te chamou 'pro casamento, hein? Vocês não tinham terminado?

— Se não tivéssemos terminado, ele estaria casado comigo, né não? — revirei os olhos, se sentando novamente na cadeira de rodinhas, rodando num looping interminável — mas ainda somos amigos. Sempre fomos. Deveríamos ter sido para sempre amigos.