1. Apartamento Surrado

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• POV...? •

Era uma manhã ardente de primavera, eu odiava essa estação, sempre opitei pelo frio. Aquele calor tomou conta do meu corpo em segundos e joguei a coberta para o meu lado esquerdo resmungando.
Minhas costas estavam doloridas por conta da cama barata que eu tinha comprado não fazia nem duas semanas, bem, antes isso do que dormir ao chão.
Já era tempo de levantar então foi o que eu fiz, não sei se acordei num mau dia mas assim que fui colocar meu pé no chão senti uma caixa de papelão no mesmo, consequentemente escorreguei mas não cai. Anotação mental para mim mesma: jogar as caixas foras ao desempacotar as coisas.
Me espreguicei e junto desse alongamento veio a fome, ou seja, rumo á cozinha. O apartamento para qual eu tinha acabado de me mudar com a minha irmã não era grande, nem luxuoso — Não tínhamos muito dinheiro então optamos pelo lugar mais acessível, embora isso tenha significado ter junto do apê vários problemas de encanamento — Em poucos passos, eu já estava na cozinha, tendo a clara visão de Sam sentada á mesa lendo jornal enquanto comia cereais com leite.

Sam: Acordou tarde hoje.

O barulho que ela fazia enquanto comida era cômodo, "creck", "crock".

Tara: Não tenho muitos motivos pra acordar cedo.

Me sentei na mesa na frente dela e peguei a caixa de leite apenas para vagar meus olhos sob a foto da criança desaparecida da caixa da vez — já mencionei antes que nosso apartamento era humilde, então a cozinha também não era grande coisa, apesar de ter 4 armários no chão e suspensos, estavam vazios por dentro, sem falar da nossa geladeira, aquela que eu chamava de "coisa", por ficar grunindo de noite.

Sam: Tem sim, procurar um emprego.

Ela colocou o jornal na mesa dobrado para cima e o empurrou com o dedo, ele deslizou até minha mão; estava aberto numa página com várias oportunidades de emprego, nenhuma realmente chamativa para mim. As oportunidades que Sam havia gostado estavam grifadas e circuladas com tinta azul e essa garota tinha riscado praticamente todas as opções. Não julgo ela, estamos numa época difícil. A senhora Gale está nos ajudando bastante financeiramente mas Sam não quer ficar nessa mamata por muito tempo, e conhecendo Gale, talvez ela cobre este favor depois com algo absurdo ou evasivamente jornalístico, não é o que eu quero pra mim e muito menos Sam.

Tara: Não tem nada aqui pra mim...

Sam: Eu sei, mas enquanto você não consegue ser doutora talvez dê pra começar com algo diferente tipo... Caixa ou secretaria, não sei.

Tara: Hm... É que eu prefiro esperar pela oportunidade.

Empurrei o jornal para ela de volta, ela apenas suspirou frustrada e se levantou da mesa. Decidi roubar a tigela de cereais dela e comecei a comer enquanto ouvia barulhos de chave batendo uma na outra, já fiquei atenta e quando me virei, vi Sam destrancando todas as 7 trancas da porta e com uma mochila preta em suas costas.

Tara: Aonde vai? - Indaguei curiosa.

Sam: Entrevista de emprego, se eu voltar cedo é porque infelizmente não rolou.

Tara: Certo.

Voltei a comer tranquilamente, até ela chamar minha atenção de novo.

Sam: Tara.

Tara: Hm?

Sam: Se acontecer alguma coisa, corra e me encontre.

Assenti com a cabeça sentindo um calafrio percorrer meu corpo. Lembrar de tudo o que aconteceu há cinco anos continua me consumindo quando eu me lembro daqueles dias de tensão e desespero.
Na tentativa falha de me distrair para não pensar naquela merda toda de novo, decidi fazer algo produtivo como me arrumar.

Depois que coloquei uma roupa minimamente apresentável — uma regata branca e um shorts jeans curto — fui seguir minha pequena nota mental de jogar as caixas vazias da mudança fora. Tudo estava indo bem, já tinha um saco cheio de caixas, e quando fui adicionar mais uma notei que ela estava um peso a mais do que as outras, por mais que fosse bem leve.
A abri sem hesitação para ver se tinha algo importante e me deparei... Com uma pequena pilha de fotos Polaroid envoltas de um pequeno elástico. Tomei liberdade de explorar aquele pequeno conjunto de fotinhas, eram fotos diversas, fotos minhas no colégio, na faculdade, com amigas, com a Sam, com a Mindy e... Uma foto minha abraçando Amber. Pensar neste nome trouxe um amargo gosto aos meus lábios seguido de uma sensação agoniante. Ela era minha melhor amiga, isso antes de decidir matar todos por seja lá quais forem seus motivos. Deixei a foto dela separada das outras no chão e assim que a desprendi do elástico, a última foto se revelou, era uma foto do Chad. Não demorou nem dois segundos para que flashbacks do que aconteceu no "santuário" viessem á tona na minha mente, aqueles filhos da puta o esfaqueando como se ele não fosse nada... Uma lágrima escapou do meu olho direito. Era hora de parar com essa viagem temporal antes que eu desabasse emocionalmente mais uma vez e sem Sam em casa.
Deixei a caixa e as fotos ali mesmo no chão, já estava no meu limite de organizar o lixo e as caixas vazias.
Não tinha nada mais a fazer do que esperar Sam chegar então a TV seria uma boa distração até sua chegada. Sentei-me no sofá surrado e velho. Posso jurar que vi poeira emanando do mesmo. Depois, peguei o controle e liguei o único aparelho de valor que tínhamos nessa casa, uma TV plana com aparelho a cabo. Infelizmente, o filme que estava passando era Facada. Porra. A vida tirou o dia para me sacanear hoje.
Eu estava completamente distraída surfando pelos canais até que meu celular começou a vibrar e tocar me dando um susto. Quando olhei para tela dele era Mindy me ligando — apesar de eu ter a impressão de que estava tudo bem, receber ligações ainda era um desafio para mim e Sam. Atendi sem mais demoras, e senti um grande alívio quando ouvi sua voz completamente normal.

Mindy: Oi princesa! Como você tá?

Tara: Ah... Eu tô indo, eu acho. E você?

Mindy: Eu tô bem dentro do possível. A Sam tá aí?

Olhei para relógio na parede acima da geladeira na cozinha, eram 15:00 da tarde já e Sam ainda não tinha chegado. Uma pequena ansiedade começou a crescer dentro de mim neste momento.

Tara: Ela não tá aqui. Ela foi numa entrevista de emprego.

Mindy: Ah que ótimo! Falando nisso, te liguei porquê queria te oferecer um trampo.

Antes eu relaxada no sofá fiquei numa posição mais séria e correta.

Tara: Sou toda ouvidos.

Mindy: A penitenciária que eu trabalho disse que a parte da segurança máxima tá precisando de uma "psicóloga com culhões". Você disse que tava precisando de emprego então...

Fazia menos de três meses que eu tinha me formado, não planejava trabalhar tão cedo e muito menos num ambiente tão hostil quanto uma penitenciária de segurança máxima, mas era um emprego de qualquer jeito.

Tara: O salário é bom?

Mindy: Bom, isso eu não sei, você teria que vir até aqui pra fazer uma entrevista.

Tara: Você é incrível, Min! Eu vou sim. Muito obrigada pela ajuda.

Mindy: De nada! Câmbio e desligo.

Tara: Câmbio.

Joguei meu celular no sofá assim que a ligação se encerrou e comecei a olhar para o teto refletindo se eu deveria aceitar ou não a proposta de emprego. Penitenciárias pagam bem, ainda mais a ala de segurança máxima. Dando uma breve descrição sobre Mindy, ela era vice-diretora do presídio feminino, tinha influência e contatos. Fiquei pensando que deveria ser bem difícil para ela ter conseguido essa informação de uma vaga tão concorrida... Talvez valha a pena eu aproveitar com unhas e dentes, independente de quanto eu ganhe.

♥️

mais uma saga sendo lançada, espero q gostem da proposta
♥️

INSANE | Tara x AmberOnde histórias criam vida. Descubra agora