O maior vendedor de sonhos da história
pequenos momentos que mudam uma história
Pequenos detalhes mudam um vida. Um marido deu um beijo na esposa e disse que ela estava linda. Havia tempos não fazia isso. Ele a tinha ferido sem perceber. Seu pequeno gesto reeditou uma janela da memória da esposa onde havia uma mágoa oculta. A alegria voltou. A vida inteira precisamos de graça e gentileza (Platão, 1985).
Um pai elogiou um filho. O elogio partiu do coração do pai e penetrou nos becos da emoção do filho, oxigenado a relação que havia tempos estava desgastada. Um beijo, um elogio, um abraço desferido no golpe de um segundo são capazes de superar uma dor alojada há semanas, meses ou anos.
Os que desprezam os pequenos acontecimentos nunca farão grandes descobertas. Pequenos momentos mudam grandes rotas. Foi isso que aconteceu há muitos séculos na vida de alguns jovens que moravam na beira da praia de um país explorado e castigado pela fome. Pequenos momentos mudaram a maneira de pensar a existência. O mundo nunca mais foi o mesmo.
A personalidade construída sobre o crepitar das ondas
O vento roçava a superfície do mar, que levantava o espelho d'água, que produzia o nascedouro das ondas num espetáculo sem fim. As ondas espumavam diariamente e se debruçavam orgulhosamente na orla das praias.
Alguns meninos cresceram correndo pela areia. Pegavam as bolhas que se formavam no estalido das ondas. Elas brilhavam nas palmas das mãos, mas logo se despediam, dissolviam e vazavam entre seus dedos, como se dissessem: "eu pertenço ao mar." Erguendo o semblante para o mar, os meninos diziam secretamente: "Nós também lhe pertencemos."
Assim era a vida desses jovens. Seus avós tinham sido pescadores, seus pais foram pescadores e eles era pescadores e morreriam pescadores. A história deles estava cristalizada. Os seus sonhos? Ondas e peixes.
Sonhavam com os cardumes. Entretanto, os peixes escassearam. A vida era árdua. Puxar as pesadas redes do mar era extenuante. Suportar as rajadas de ventos frios e as ondas rebeldes toda noite não era para qualquer um. E o pior, o resultado os frustrava. Cabisbaixos, reconheciam o fracasso. O mar tão grande se tornara uma piscina de decepções.
Todos os dias enfrentavam a mesma rotina e os mesmos obstáculos. Queriam mudar de vida. Mas faltava-lhes coragem. O medo do desconhecido os bloqueava. Era melhor ter muito pouco do que correr o risco de não ter nada, pensavam.
Na mente desses jovens não deviam passar inquietações sobre os mistérios da vida. A falta de cultura e a labuta pela sobrevivência não os estimulavam a grandes vôos intelectuais. Viver para eles era fenômenos comum e não uma aventura indecifrável.
Nada parecia mudar-lhes o destino até que surgiu no caminho deles o maior vendedor de sonhos de todos os tempos.
Um convite perturbador
Naquelas bandas algo novo quebrou a mesmice. Havia um homem que morara por trinta anos num deserto. Seus discursos eram estranhos, seus gestos, bizarros. Parecia delirar em seu modo estranho de viver. Estava perturbado com a idéia fixa de que era o precursor do homem mais importante que jamais pisaria na Terra.
Seu nome era João, cognominado Batista. O que parecia estranho é que ele não convivera com a pessoa que anunciava, mas ela havia ocupado o seu imaginário. Ele fazia discursos eloqüentes às margens de um rio, descrevendo aquele homem com a precisão de um cirurgião.
Multidões se aproximavam para ver o espetáculo das suas idéias. Ele teve a coragem de dizer que o homem que aguardava era tão grande que ele mesmo não era digno de desatar-lhe as correias das sandálias. As pessoas ficavam perplexas com essas palavras.
Como podia um rebelde aos padrões sociais, que não tinha papas na língua, que não tinha medo de dizer o que pensava, elevar tão alto alguém que não conhecia? Que homem seria esse que João anunciava em seus discursos?
Esses discursos desenhavam no anfiteatro da mente dos ouvintes os mais diferentes quadros. Alguns achava que o homem anunciado parecia como um rei, com vestes talares. Outros imaginavam que ele apareceria como um general acompanhado por grande escolta. Outros ainda pensavam que ele era pessoa riquíssima que viria numa elegante carruagem, com uma equipe inumerável de serviçais. Todoso aguardavam ansiosamente.
Apesar das diversidade das fantasias, a maioria concorda que o encontro com ele seria solene. Todos esperavam um discurso arrebatador. De repente, no calor do entardecer, quando os olhos confundiam as imagens no horizonte, surgiu discretamente um homem simples, de origem pobre. Ninguém o notou.
Suas vestes eram surradas, sem nenhum requinte. Sua pele era desidratada, seca e sulcada, resultado do trabalho árduo e da longa exposição ao sol. Não tinha escolta, não tinha carruagem, não tinha serviçais.
Procurava passagem no meio da multidão. Tocava as pessoas com suavidade, pedia licença e pouco a pouco conseguia seu espaço. Alguns não gostaram, outros ficaram indiferentes à sua atitude.
Subitamente os olhares se cruzaram. João contemplou o homem dos seus sonhos. Foi arrebatado pelo imagem. A imagem da fantasia das pessoas não coincidia com a imagem real. João via o que ninguém enxengava e, para espanto da multidão, exaltou sobre maneiras aquele simples homem.
As pessoas ficaram confusas e decepcionadas. Se a imagem as chocou, esperavam pelo menos que seus ouvidos se deliciassem com o mais exelente discurso. Afinal de contas, a fome e os transtornos sociais eram enormes. Elas precisavam de alento.
Porém, o homem dos sonhos de João entrou mudo e saiu calado. O sonho da multidão se dissipou como as gotas d'agua agredidas pelo sol do Saara. Desiludidas, as pessoas se dispersaram. Mergulharam novamente na sua entediante rotina.
Alguns jovens ouviram falar dos sonhos de João. Mas estavam ocupados demais com a própria sobrevivência. Nada os animava, a não ser ouvir o grito do corpo suplicando por pão para saciar o instinto. O mar era seu mundo.
Não havia nada é diferente no ar. De repente, dois irmãos ergueram os olhos e viram uma pessoa diferente caminhando pela praia. Não se importaram. Os passos do desconhecido eram lentos e firmes. O viandante se aproximou. Os passos silenciaram. Seus olhos focalizaram os jovens.
Incomodados, eles se entreolhavam. Então, o estranho estilhaçou o silêncio. Ergueu voz e lhes fez a proposta mais absurda do mundo: "Vinde após mim que eu vos farei pescadores de homens".
Nunca tinham ouvido tais palavras. Elas perturbaram seus paradigmas. Mexeram com os segredos de suas almas. Ecoaram num lugar em que os psiquiatras não conseguem perscrutar. Penetraram no espírito humano e geraram um questionamento sobre o significado da vida, sobre o valor da luta.
Todos deveríamos em algum momento da existência questionar nossa vida e analisar pelo que estamos lutando. Quem não consegue fazer este questionamento será servo do sistema, viverá para trabalha, cumprirbobrigações profissionais e apenas sobreviver. Por fim, sucumbirá no vazio.
O nome dos irmãos que ouviram esse convite era Pedro e André. A rotina do mar havia afogado os seus sonhos. O mundo deles tinha poucas léguas. Mais apareceu- lhes em vendedor de sonhos que lhes incendiou o espírito. Com uma sentença ele os estímulo a trabalharem para a humanidade, a enfrentarem o oceano imprevisível da sociedade.
Jesus Cristo não havia feito nenhum ato sobrenatural, no entanto sua voz tinha o maior de todos os magnetismo, porque vendia sonhos. Vender sonhos é uma expressão poética que fala de algo invendável. Ele distribuía um bem que o dinheiro jamais pôde comprar. O Mestre dos Mestres assombra os fundamentos da psicologia.
Quem se arriscaria a segui-lo?
Pense um pouco. Por que seguir este homem? Quais são as credenciais daquele que fez a proposta? Que implicações sociais e emocionais ele teria? O vendedor de sonhos era um estranho para os dois irmãos. Não tinha nada de palpável para oferecer a esses jovens.
Você aceitaria tal oferta? Largaria tudo para entregar sua vida em prol da humanidade? Jesus não prometeu estradas sem acidentes, noites sem tempestades, sucessos sem perdas.