CAPÍTULO CINCO

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Neteyam observava o irmão balançar as pernas na água de longe. O mais novo estava lá desde manhã, não se mexia, não falava, nada, apenas ficava observando o mar e, como sempre, enrolado na coberta, com as orelhas coladas na cabeça e o rabo o mais próximo de si possível.

Neytiri saiu de casa para caçar alguns peixes e pegar algumas frutas para repor o pequeno estoque da família, e Jake foi solicitado para uma conversa com o chefe Metkayina. Kiri e Tuk foram se encontrar com Tsireya na praia para que Tuk finalmente pudesse ter o seu próprio Ilu, e Neteyam, como ainda não estava bem o suficiente para ficar saindo por aí, ficou em casa de olho em Lo'ak.

Não iria negar, se sentia extremamente mal em ver o irmão daquele jeito. Sempre se culpou, desde o dia que o mais novo desapareceu, se culpava por não ter conseguido o proteger, por ter deixado que levassem seu irmão para longe. Agora, vendo o estado do menor, se culpava mais ainda. Sentindo uma angústia e tristeza dominarem seu peito, se levantou de onde estava sentado na porta de casa e foi até o irmão, se agachando atrás dele e o abraçando com força. Sentiu o mais novo se assustar com o contato, dando um sobressalto e ficando tenso.

Calma, sou só eu... — sussurrou para o irmão, sentando atrás dele e o deixando entre suas pernas, deitando a cabeça nas costas do menor. O pequeno relaxou, virando a cabeça para olhar o mais velho de canto de olho.

Neteyam começou a mexer nos cabelos de Lo'ak.

— Tá grande... — passou a mão pelos fios emaranhados — Quer refazer as tranças? — o pequeno assentiu com a cabeça de forma acanhada — Quer cortar? — assentiu outra vez — Tá. Pera aí. — se levantou, indo até o quarto e pegando algumas coisas. Retornando um minuto depois, com sua faca e um pente. Voltou a se sentar no degrau atrás do irmão, o deixando entre suas pernas e pegando o pente.

Com cuidado, começou a pentear as longas madeixas do irmão, desfazendo os diversos nós com cuidado para não machucar. Lo'ak fechou os olhos enquanto sentia o mais velho passar a mão por seus cabelos, sentindo-se confortável e sonolento. Mesmo com Neteyam lhe abraçando, não conseguiu dormir durante a noite, o medo dos pesadelos não deixavam que fechasse os olhos com tranquilidade. Estavam piores, piores do que quando estava nas instalações, o simples fato de que poderiam aparecer a qualquer momento lhe apavorava e fazia com que perdesse noites e mais noites de sono.

— Conseguiu dormir? — Neteyam perguntou. O menor negou com a cabeça lentamente. O mais velho abaixou as orelhas, entristecido.

Lo'ak passou a noite lhe abraçando com força, tremendo em seus braços e pode ouvir alguns soluços do pequeno. Neteyam passou metade da noite acordado cuidando do irmão, quando achou que o mais novo havia pegado no sono, dormiu, mas aparentemente ele continuava acordado. Sentiu seu peito apertar.

— "Sua culpa. É sua culpa." — repetia em sua mente, com as lágrimas tomando conta dos seus olhos. — "Devia ter protegido ele. Como pode deixar fazerem isso com seu próprio irmão? Olha pra ele: com medo de tudo e todos, sem conseguir dormir, sem ânimo para sequer comer, machucado." — aquela voz lhe atormentava todos os dias, sem lhe dar descanso. Balançou a cabeça, tentando não pensar tanto nesse tipo de coisa, assim como Norm disse quando lhe prescreveu alguns remédios logo depois que o irmão desapareceu.

Voltou a realidade quando sentiu o irmão se apoiar em si, com a cabeça jogada para baixo.

— Lo'ak? — olhou para o rosto do menor, vendo-o dormindo. Sorriu, abanando a cauda com alegria pelo pequeno ter conseguido finalmente descansar.

Terminou de pentear o cabelo, colocando o pente de lado e passando a acariciar a cabeça do mais novo, não querendo o acordar. Deixou um beijo em sua cabeça, o abraçando por trás. Soltou um suspiro e fechou os olhos, acompanhando a calma respiração do irmão. Sentia falta daquilo, poder abraçar o pequeno e relaxar, com nada para preocupar ambos. Na floresta, tinham um lugar para se isolar quando se sentiam cansados de tudo e todos, um lugar escondido que ninguém ia ou sabia da existência.

Ao amanhecer (Avatar 2: O Caminho Da Água)Onde histórias criam vida. Descubra agora