Prólogo

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Nós temos a tendência a escolher as profissões em que temos mais afinidades.

Exceto pelas pessoas que precisam, na maioria das vezes contra a vontade, seguir os que os pais querem que eles façam, somo pessoas que vamos usar as habilidades e os dons que temos, sejam eles naturais ou adquiridos ao longo da vida.

No meu caso, eu não sei dizer se é algo natural ou eu adquiri ao longo da minha vida. O que sei com certeza, é que sou muito boa no que faço.

Olho no espelho conferindo se está tudo perfeito.

A maquiagem com sombras escuras e brilhantes, o batom vermelho marcando meus lábios grossos. Um coque alto com alguns fios soltos dá destaque ao par de brincos longos e brilhantes.

Um top verde sem alças e uma saia rosa com detalhe drapeado na lateral dão destaque as minhas pernas longas, finalizando com um scarpin verde no mesmo tom do top.

Hoje é a inauguração da boate Gemini, pertence ao homem que herdou não só os negócios que pertenciam ao avô, como o seu poder e influência na cidade.

John Timberg, herdeiro, empresário, filantropo e possuidor de uma das mais belas coleções de arte particular.

Ele é um homem que não é visto envolvido em escândalos, apesar de todos saberem que qualquer pessoa que ouse tocar em algo que o pertença, terá a morte como destino.

Essa informação deveria ser o suficiente para me impedir de fazer o que concordei em fazer.

O problema, é que não tenho opção desde os meus 16 anos. Quando fui até o Diogo e pedi um empréstimo para pagar pela cirurgia da vovó. Desde então eu trabalho para ele, para pagar a minha dívida e porque ele descobriu que eu tinha um certo talento para o roubo.

Meu contratante está me pagando uma boa quantia para que eu roube um item que está na mansão Timberg. Desde que a vovó morreu há cinco, eu vivo sozinha e a mercê das ordens do Diogo, com esse dinheiro eu vou poder ter a liberdade que tenho sonhado desde o dia que fui obrigada a trabalhar para ele.

Quinhentos mil pelo trabalho que me contrataram, vai me ajudar a sair da dívida, que aliás tenho certeza que já foi paga.

Diogo tem os clientes mais ricos, que pagam fortunas para conseguirem o que querem, os trabalhos mais difíceis sou eu que faço, e mesmo assim recebo apenas o suficiente para me manter, todo o resto fica com ele.

Tenho plena noção do risco que estou correndo em aceitar esse trabalho pelas costas do Diogo, se ele descobrir não vai deixar passar. Também tenho plena noção que o John Timberg pode acabar comigo se eu for pega, mas isso só me dá ainda mais gás para continuar com o trabalho.

Saio de casa e espero o carro que chamei parar para que eu entre. Para não ser vista no carro desgastado que tenho, preciso passar a imagem de alguém que tem dinheiro suficiente para ter um motorista.

Ser uma ladra habilidosa é mais do que saber como entrar e sair de um lugar. É preciso vestir o papel do círculo em que eu quero entrar, por isso invisto em roupas e joias que mostrem que eu faço parte desse círculo. Convencer essas pessoas é mais difícil do que conseguir entrar nesses eventos e em seus preciosos cofres.

Ao chegar na porta da boate, é possível ver vários carros luxuosos fazendo fila para deixar as pessoas, eu não estou tão longe da porta, então desço do carro e me esgueiro para passar sem ser notada pelos repórteres que estão à espera para fotografar quem foram os escolhidos pelo dono para prestigiar essa noite.

Mostro o meu convite ao segurança, que sem precisar dar uma segunda olhada me deixa passar. O lugar está praticamente cheio, o ambiente é decorado com moveis finos, cabines privativas tomam parte do andar de cima, os vidros escuros não permitem que seja possível ver quem está lá dentro.

Saio da entrada e sigo analisando cada parte do ambiente, passo por alguns grupos que já estão animados com suas bebidas em mãos e dançando a música alta que preenche o ambiente.

Peço um drinque para me misturar e não chamar atenção. Chego mais perto das escadas que levam as cabines privativas e sou surpreendida por dois homens altos e bonitos que descem os degraus absortos numa conversa.

O da direita é o dono da boate John Timberg, ele é igual ao que aparece na mídia, uma imagem de homem bonito e inacessível, mas ao vê-lo pessoalmente, posso confirmar que as câmeras não fazem jus a sua beleza.

Ao seu lado está seu assistente, Thomas, nada chega ao John sem antes passar por ele, sua expressão sempre séria lhe dá um ar de agente secreto que vejo nos filmes, tão bonito quanto o Timberg, Thomas rouba atenção para si com seus músculos marcados na roupa, sua pele negra e seus traços fortes e sérios.

É imprescindível que eu me mantenha impassível no tempo que eu estiver aqui na boate, se eu chamar atenção de um dos dois, corro o risco de ser pega, e isso pode acabar com os meus planos se acontecer.

Preciso ficar aqui tempo suficiente para que a Joyce avalie o sistema de segurança da casa dele. Por ele ser o homem mais rico e influente de Sã Paulo, é claro que seu sistema de segurança é impecável, afinal para manter todas as coleções milionárias que seu avô acumulou ao longo da vida, é preciso ter como resguarda-las.

Joyce é um prodígio na quebra de sistemas de segurança, não importa o quão sofisticado ele seja, ela só precisa do máximo de tempo possível para analisar como me fazer entrar.

Como estou fazendo isso sem que o Diogo saiba, ela precisa ser rápida e não deixar que nem o Diogo nem o Timberg descubram que ela esteve circulando pelo seu sistema.

Nossos olhos se encontram a medida que se aproxima do fim da escada, minha análise do seu corpo chega até o seu rosto, fico hipnotizada pela beleza dele, sua postura arrogante lhe dá um ar sexy e perigoso.

Sem deixar de falar com o Thomas ele segue com os olhos vidrados em mim. A sensação que tenho é que ele me despe, não só das roupas, mas a minha alma. É como se ele soubesse exatamente o que eu estou fazendo na sua boate.

As batidas do meu coração mudam, mas não deve ser de nervosismo, isso nunca acontece. Eu não fico nervosa ao estar cara a cara com alguém que estou prestes a roubar.

Eles passam por mim, tão perto que sinto o roçar do tecido da roupa do Timberg no meu braço nu, o perfume que ele usa invade meus sentidos acelerando ainda mais as batidas no meu peito.

Termino meu drinque e sigo perambulando pela boate, sempre que possível mantenho meus olhos no Timberg, qualquer sinal de que ele está indo embora preciso avisar a Joyce.

Me inclino no balcão para pedir outro drinque e acabo perdendo ele de vista. Em desespero eu vasculho todo o espaço a sua procura. Confiro o celular e nenhuma mensagem da Joyce aparece, envio uma avisando que estamos ficando sem tempo, assim ela vai ter uma ideia de que não podemos demorar demais.

Dou um passo para trás e bato em algo duro. O perfume forte de cedro com menta toma conta do meu olfato, é o mesmo perfume que senti minutos atrás.

— Espero que ter entrado sem convite valha a pena para você. — A voz dele faz a minha respiração ficar ofegante.

Eu não preciso me virar para saber que é o John que está atrás de mim.

Isso só confirma todos os boatos sobre ele.

John Timberg sempre sabe de tudo que acontece ao seu redor.

— Dessa vez eu vou deixar passar. — Sinto ele abaixar para encostar sua boca na minha orelha. — Não pense que terá essa sorte uma próxima vez.

Da mesma forma furtiva que ele se aproximou, vai embora.

Eu poderia ter abortado a missão nesse momento, poderia ter entendido que eu não poderia enganar um homem poderoso e perigoso como ele.

Deveria ter entendido que continuar com o plano poderia me levar a morte.

Joyce avisa que está tudo feito e que me espera em casa.

Bebo o liquido colorido de uma única vez e deixo a Gemini para ir para casa.

Não vou desistir agora só por causa desse pequeno infortúnio. Eu nunca fui pega fazendo o trabalho em que sou excelente, roubar faz parte do meu ser.

Nunca fui e nunca serei pega.

John Timberg jamais saberá quem o roubou.

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