01 - Devolvida.

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– Preciso que fique aqui e em silêncio, por favor. – Minha mãe sussurrava para mim, com lágrimas nos olhos. Os cabelos longos e loiros presos de uma forma completamente desajeitada.

– Alice! – Sobressaltei com o grito da minha avó chamando minha mãe.
– Estou indo! – Ela gritou de volta, virou as costas, mas não sem antes levar seu dedo indicador aos lábios, me lembrando para ficar em silêncio.

Eu tenho 8 anos de idade, minha mãe sempre me elogia por ser esperta demais, ela diz que é muito para uma criança com a idade que tenho. Não sei a idade exata da minha mãe, mas sei que vim para ela muito, muito cedo. ela nunca me disse se tenho papai, mas chora muito quando pergunto, ela diz que foi abuso mas nunca me falou o que é isso.

Acordo com mamãe me balançando, levanto-me rápido do chão e olho para ela com expectativa, estava faminta.

– Aqui, trouxe um pão para você, coma. – mesmo estando escuro, sei que está sorrindo para mim. Pego rapidamente e como.
Ela tem muitos machucados no corpo e sempre me diz que a vovó estava triste e os machucados ajudam a vovó a ficar bem.
Tenho alguns machucados também, mas só ganho novos quando ela me vê.

– Você não faz nada direito menina! - Minha avó grita comigo mais uma vez, eu tinha acidentalmente derramado um pouco do chá na bandeja enquanto estava a servindo.
– Irei dá-la para o orfanato se não for útil, então trate de fazer as coisas direito! – Grita. E um tapa é dado no meu rosto. De repente estou aqui, agora tenho 10 anos, faz um pouco menos de um ano que não tenho mais mamãe comigo.

Descobri tantas coisas nesse pouco tempo. Vovó Beth era casada, se divorciou do marido quando ficou grávida da minha mãe. mamãe foi abusada por um namorado da vovó e cá estou eu. Gostaria de nunca ter descoberto isso. Mas vovó faz questão de me relembrar e me humilhar com isso.
Perdida em pensamentos, solto sem querer a xícara e logo escuto o barulho da mesma em contato com o chão.

Machucados e mais machucados, e muita, mas muita fome. Descobri também que eu só conseguia me alimentar porque minha mãe deixava de comer para me dar. A vovó anda muito triste mesmo para esses machucados, mal consigo me mover.

Quatro anos depois, agora com 14 anos. Eu fui entregue a um orfanato, vovó Beth decidiu que era cansativo demais me ter por perto, antes de me empurrar do seu carro, ela me disse que estava velha e precisava viajar e viver o que lhe restava de vida, não convinha ter uma criança por perto.

– Mad! Eles chegaram, olha! – Kath aponta para os grandes portões, um casal passava por eles, os dois muito felizes. Sorrio animada e rapidamente corro até eles. É o terceiro casal que me adota, e desta vez eu esperava não ser devolvida.

Eles também se aproximam em passos apressados até mim. E eu me via deslumbrada com a ideia de conseguir sair daqui.

– Olá querida! Pronta? – O homem me pergunta e eu balanço a cabeça que sim, ansiosa, terei irmãos?
– Tchau Kath! – Balanço minhas mãos em despedida para a minha única amiga deste lugar. Ela é um pouco mais nova que eu, tendo 12 anos, irei sentir a falta dela, se eu for adotada, espero poder tirá-la daqui um dia.

O caminho até a casa deles foi repleto de gargalhadas e informações que eu considerava importantes, como o cachorro que se chamava Senhor Cake, e a minha nova mãe me contava a história do nome, no aniversário do meu novo pai, ele conseguiu de alguma forma subir na mesa e derrubar o bolo de aniversário, em seguida o abocanhando com muita vontade. Rio-me enquanto ela conta entusiasmada. Não queria ter percebido mas o homem permanecia em um silêncio mortal, mesmo a mulher puxando diversos assuntos e metendo-o na conversa.

Já fazia algumas semanas que eu estava aqui, mas sabia que esta, seria a última.

– Meu Deus, mas para quê adotar outra menina?! Você é maluca?! – O homem grita, levantando-se da mesa, será que ele está triste? Eu não entendo...
– Achei que queria também, querido, para fazer companhia á Valentina. – Ela diz olhando para a menina ao meu lado que está de cabeça baixa. Acho que estou entendendo, o homem não me quer aqui.
– Além de ser menina, ainda é horrível, olha essas cicatrizes! – Ele vem até mim e me puxa, mostrando cortes aleatórios que tenho nos braços, ele levanta rapidamente minha blusa e vê o da minha barriga minha avó havia chegado muito triste em casa quando fez isso. – Essa praga é defeituosa! Já não basta ser menina, isso é um pesadelo! – Grita para a mulher, ela suspira e eu não levo nenhum segundo para perceber que serei devolvida.

– Você está certo, querido. Vamos resolver isso.

AIDAN (Versão Proibida)Onde histórias criam vida. Descubra agora