único

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Chan não fazia ideia de quanto tempo estava na frente dos livros estudando para a prova de física e tomando aqueles sucos de caixinha — que sua mãe odiaria se visse o tanto de caixinhas na lixeira — mas se assustou ao ver o relógio marcando 2:47 da madrugada, e ele estava ali desde as oito.

E é claro que o Bang deveria estar mais acostumado com Changbin aparecendo de surpresa em sua casa jogando pedrinhas em sua varanda. E, no entanto, sempre fica surpreso. Desta vez, é madrugada de uma quarta-feira e Chan tem examinado seus livros de física desde pelo menos as oito, recusando-se a parar até ter certeza de que poderia decorar e realmente aprender tudo o que está lá escrito. Sua prova final de física é na sexta-feira e ele realmente precisa ser aprovado para se formar em algumas semanas.

Ele está na sétima leitura das Leis de Newton quando a primeira pedra atinge a janela. Ele pula em sua cadeira e fica assustado, mas sabendo exatamente quem é lá fora.

Com certeza era ele.

— Binnie, você tem a chave da casa e não custa nada bater na porta como alguém normal, sabia? — O mais velho falou rindo enquanto se escorava no parapeito da sacada e observava o namorado parado na calçada em frente a sua casa. — Mas então, o que você quer?

— Mas assim não teria graça. Preciso de um motivo para vir visitar meu namorado? — Ele responde dramaticamente.

— Não, mas estou curioso para saber o motivo de ter vindo sabendo que temos aula em poucas horas.

— Vim te salvar de ficar estudando até desmaiar, vamos dar um passeio!

— São quase três da manhã, você nem tem carro e nós temos aula mais tarde, tem certeza? — Perguntou, mesmo já sabendo a resposta.

— Sim! Pode trazer seu toca discos? E o do Bowie?

Quando viu o menor assentir, o Bang voltou para o seu quarto e pegou sua jaqueta, logo em seguida desceu as escadas correndo e saiu de casa, encontrando Changbin ainda parado na calçada com seu cabelo bagunçado e o mesmo par de converse que usou durante toda a semana.

— Oi bebê, vamos? — Chan o deu um beijo rápido e estendeu sua mão, que logo foi abraçada pelos dedos pequenos do Seo.

— Vamos! Deixa eu adivinhar, ficou estudando até agora e esqueceu completamente de tudo?

— Foi, me desculpa... — Afirmou apreensivo. — Você me mandou mensagens?

— Não, eu te conheço e sei que nem pegou o celular, então fui te encontrar pessoalmente pra sairmos juntos e apreciarmos o céu.

— Obrigado, você me salvou.

Depois de ouvir as palavras do maior, os dois foram andando em silêncio, apenas aproveitando a companhia um do outro.

— Ah, vamos para o mirante, é no fim da rua! — Changbin diz de repente, apontando para a placa verde de saída antes deles.

— Vamos, a vista de lá deve estar linda.

Então, os dois continuam a rota que já sabem de cor, andando pela estrada vazia e aproveitando a brisa fria. Logo, eles alcançam o ponto de vigia e o Seo vai correndo até o parapeito do local, esperando pelo mais velho e jogando os braços ao redor de Chan quando ele finalmente chega. Ele suspira satisfeito, enterrando o rosto ainda mais no ombro de Chan. Seu braços apertam em torno do menino menor enquanto o Seo percorre suas mãos até os cabelos pretos do namorado. Ele murmura algo, mas as palavras são abafadas pela camisa de Chan.

— O que você disse, Binnie? Eu não pude ouvir. — Chan pergunta, o mais novo levanta a cabeça, olhando diretamente em seus olhos.

— Não tô pronto pra me formar, não tenho planos, nem sei se quero ir pra faculdade e... — Admite, desviando seus olhos. — Estou com medo, eu realmente com medo.

— Eu também, Binnie. Estou aterrorizado, mas... — Se afasta para que o menor possa o olhar. — Não vamos nos preocupar com isso hoje nessa noite, tudo bem? Hoje somos nós dois. Sem aulas, sem graduação, sem provas, nada além de eu e você.

— E David Bowie? — Changbin pergunta sorrindo.

— Claro! — Os dois ficam ali olhando para o céu novamente, mas ainda abraçados. — Aqui é lindo, queria ficar aqui pra sempre...

— Não podemos ficar pra sempre, mas podemos aproveitar agora.

Com as palavras do menor, Chan apenas sorriu e o olhou nos olhos, admirando cada detalhezinho de seu rosto e percebendo o quão sortudo é por ter Changbin em sua vida.

— Deveríamos ouvir seu disco agora, como nas últimas três vezes em que saímos na rua de madrugada. — O Seo pronunciou sorrindo ao lembrar.

O mais velho apenas sorriu e colocou o toca discos no banco mais próximo, colocando Heroes para tocar. Quando ouviram as primeiras batidas da música, Changbin o puxou para o meio da rua e os dois começaram a dançar com passos desajeitados e sorrisos bobos ao som do rock clássico.

— We could be heroes... — O mais novo cantarolava baixinho.

Quando pararam de dançar, ficaram de frente um para o outro e Chan perguntou:

— Acha que poderíamos ser heróis?

— Nós já somos heróis, amor. — O Bang o encarou confuso — Quando eu era criança, acreditava que apenas pessoas com superpoderes e roupas engraçadas poderiam salvar o dia mas, Chanie, você já me salvou de muita coisa, incluindo ser atropelado, e às vezes eu te salvo de ficar trancado no quarto estudando até desmaiar de cansaço. Nós nos salvamos dessas coisas idiotas todos os dias, estamos agora dançando no meio da rua às três da manhã ouvindo David Bowie e eu tenho certeza de que você é meu herói só por existir, porque eu sei que mesmo me estressando pra caralho com a escola, a família ou qualquer outra coisa, nós vamos nos encontrar mais tarde e sinceramente? Isso já me salva de tudo.

— Você também é meu herói, amor. Obrigado por me salvar dessas coisas idiotas, mas que poderiam me matar. Eu te amo muito, sabia?

— Eu também te amo muito, Mars. — Os dois sorriram.

— Posso te beijar? — Chan pergunta suavemente.

— Você não precisa perguntar. — Responde, ficando na ponta de seus pés e se inclinando até que seus lábios tocam os do Bang. O beijo é gentil e doce, nenhum dos dois querendo mais, mais do que feliz com onde estão. Changbin é o primeiro a se afastar, apoiando sua testa contra a de Chan.

— We could be heroes, just for one day. — O Seo canta junto, com um sorriso crescendo em seus lábios. Ele lentamente começa a balançar novamente ao ritmo da música, e Chan se junta a ele. Depois de alguns segundos, a música desaparece e eles diminuem a velocidade até parar. O mais velho lhe dá um beijo em sua testa.

— Pronto para ir pra casa? — ele pergunta.

— Hum, acho que sim. — Changbin responde. — Posso ficar com você esta noite?

— Qualquer coisa por você, amor.

heroes | 2 chanOnde histórias criam vida. Descubra agora