Vanguarda - [KNJ+KSJ]

Efêmera sensação do errado

Sexta-feira, 5 de Setembro de 2062

Fugir de casa cedo da manhã já havia se tornado costume. Minha mãe havia reclamado nos primeiros dias, mas depois de meio que impor isso sobre ela, aceitou que não me veria até a noite e aquilo era fácil para mim, pois apenas precisaria lidar com ela e seu comportamento intoxicante por poucos minutos a noite antes de dormir.

Na semana que se passou, eu havia descoberto que Seokjin participava de muitas aulas quais eu também estava e nossas brigas haviam se cessado por um pouco, aparentemente ele havia se arrependido de ter me jogado na piscina - eu nao iria superar aquilo tão cedo, então era bom que ele tivesse se arrependido de uma vez por todas. Mas nossas trocas de olhares eram ainda de puro ódio e aconteciam de forma constante e imatura, era dificil dizer quem era mais idiota, na verdade. Ele por me olhar com desgosto ou eu por responder o olhar.

De resto, as aulas estavam indo bem. Já haviam passado algumas provas e a maioria eu havia gabaritado, as que eu não havia, não haviam ido abaixo de 9,7. Estava indo muito bem, para falar a verdade. Os assuntos eram mais difíceis, complexos e aprofundados, mas não era aquilo que ia me impedir de manter minha mente sã do tão temido ensino médio.

As melhores aulas, eram as que podíamos ir para a biblioteca. A biblioteca ficava no terceiro andar, um dos andares menos visitados por apenas ter a biblioteca e a estufa de frutas orgânicas. A maioria das vezes essa aula era matada por boa parte dos alunos para estudar, terminar pesquisas ou para simplesmente prolongar a pausa de uma hora que vinha logo em seguida. Para mim e todos do 1ºB (minha sala), sexta era um dia muito calmo, cheio de pausas e aulas vagas, a não ser que você escolhesse colocar mais matérias em seu currículo. Eu não era um desses e como meu dia já estava bem livre, decidi sempre ir para a biblioteca desfrutar de livros de fantasias, que incrivelmente era o único assunto escrito em todos e qualquer livro nas imensas estantes.

Podemos dizer que o lugar era incrivelmente vintage pelo fato de ser quase impossível no mundo de fora se achar livro físico, já que era muito mais fácil comprar para ler em qualquer outro dispositivo ou, até mesmo, usar um neurotransmissor para a história ser contada a você sem precisar fazer esforço algum. Para muitos, era divertidíssimo. Para mim, era a coisa mais chata criada na história do universo. Então quando descobri que na escola havia uma biblioteca repleta de livros físicos, fiquei obcecado com esse lugar, ficando a aula e a pausa ali, na esperança de conseguir terminar um livro.

E o que me deixava ainda mais eufórico é o fato da escola reservar aquele tempo para lermos fantasia, sem focar no mundo real por um tempo para conseguirmos atiçar nossa criatividade, era uma pena que os outros alunos da minha sala não curtissem aquele tempo.

Naquela manhã de sexta feira, após fazer um checkup geral, fui para a biblioteca de bom humor, subindo os lances de escada sem reclamar até chegar no terraço. A porta para entrar lá era pesada e eu tinha que usar todo o meu corpo para conseguir abri-la o suficiente para passar por ela e o choque térmico ser rapidamente sentido com a diferença de temperatura dentro da escola aquecida e o frio do fim do verão. Logo seria outono e as folhas das árvores começariam a cair e eu não poderia estar mais animado. O outono sempre fazia de meus ânimos uma agitação completa, era a época perfeita do ano em que tudo caía para se proteger do inverno rigoroso que vinha a seguir, os animais se preparavam para hibernar e o tempo começava a esfriar. Eu sabia que no Alasca, no outono a neve já ia aparecer e aquilo me deixava consideravelmente mais feliz pois eu amava a neve, até mesmo quando ela atrapalhava minha vida na Coreia por se acumular nas portas e estradas.