Estávamos no outono e o céu nublado acima de nós era semelhante a turbulência que havia em minha cabeça. Várias pessoas que estavam ali eu nunca havia visto ou ouvido falar - sequer a conheciam pelo apelido. O corpo sem vida de Liv jazia no caixão preto, usando um vestido da mesma cor, enquanto seus cabelos castanhos estavam bem arrumados. Aquilo tudo não me fazia acreditar que ela estava morta. Parecia que ela havia apenas cochilado depois do almoço e logo acordaria correndo dizendo que estava atrasada para o trabalho.
Jéssica, minha esposa, estava bem ao meu lado. Eu não queria que ela viesse, mas ela insistiu que gostaria de dá o último adeus a Liv, mesmo não sendo próximas; eu suspeitava que ela estava apenas curiosa para ver meu discurso.
Todos pareciam tristes com a perda. Ela nunca contara sobre a doença porque não queria atrapalhar nossas vidas.
Nossas miseráveis vidas.
Meu peito ardia e lutava contra a tristeza que me assolava cada vez que eu tomava consciência de onde eu estava e o que iria fazer.
Cocei a garganta arrumando o cachecol marrom que eu usava e falei o texto que havia preparado com a frieza que nunca imaginaria ter. Em um silêncio que as pessoas no local se encontravam, percebi que até os gemidos de choro pareciam silenciar-se para escutar-me falar.
"Olhando agora tudo parece bastante idiota, todo empecilho para que não ficássemos juntos parece nada.
É realmente uma pena eu tenha percebido tarde demais.
Gostaria de ter gritado com ela um pouquinho mais e dizer que o fato de ser "certinha" impediria a nossa felicidade. Queria voltar atrás e vê-la com os olhos brilhando olhando uma estante com livros da livraria da Susan ou comendo a lasanha tão famosa do restaurante do Cray.
Queria poder voltar atrás e dizer que a minha filha não se sentiria mal tendo ela como madrasta e que não era necessário eu estar casado com a Jéssica pra que ela tivesse os pais presentes. Queria poder abraçá-la na madrugada fria e sussurrar todas as noites em seu ouvido um "eu te amo''. Queria poder discutir com ela coisas simples como a cor que pintaríamos a casa ou onde passaríamos o ano novo.
Vê-la mergulhada em um mar de papéis para resolver mais um caso e depois rindo por mais uma vitória no tribunal. Vê-la agindo pela primeira vez como a juíza que ela sempre sonhou em ser. Poder dizer a todos que ela era a minha mulher e que era o amor da minha vida. Cantar as músicas da sua banda favorita com ela pulando em cima da cama como se tivéssemos 15 anos outra vez. Passar as tardes de domingo assistindo algumas séries aleatórias com ela do lado.
Só queria sentir a sensação de segurar sua mão enquanto andássemos no meio da Time Square. Poder fazer aquelas coisas simples e ter mais uma segunda chance. Queria não ter deixá-la ir para Chicago por causa da notícia de que eu seria pai; ou ter a chance de segurar a sua mão quando ela recebeu a notícia de que estava com câncer. Queria que eu não tivesse me desesperado tanto quando ela estava quase desacordada no banco passageiro do meu carro e dito "Eu sempre vou te amar" e que essas fossem as últimas palavras que ela tivesse escutado.
Se arrependimento matasse eu estaria morto. Mas, no final, não posso fazer mais nada além de lamentar e sentir falta dela. Sentir falta de alguém que só tive chance de ter em meus braços uma vez. Apenas uma vez. E não adianta procurar que seja teoria sobre a vida pós morte, nenhuma delas conserta erros da vida passada, porque no final o que só nos resta é arrependimento."
Quando voltei a olhar para os rostos de cada um que estavam ali pude ver a descrença de muitos por não saber de nossa história e da comoção por sentirem arrependimento, assim como eu. Olhei de volta para o túmulo e deixei as lágrimas descerem. Esse era o nosso adeus.
Adeus Olívia, minha Liv.
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Se Arrependimento Matasse
De TodoEscrita em 2015. Em New York, a cidade dos sonhos, Benjamim via seus sonhos se esvaindo. Seu grande desejo era amar, casar e ter filhos, porém, ao amar a pessoa errada, a vida tornou-se uma jornada infeliz. Depois de se descobrir apaixonado pela sua...