III - Ivan Aleksandrovich Yatskov

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Dentre horas e horas, quando o relógio se passava das 22 horas, a alta sociedade russa estava seletamente pronta para o baile oferecido por Suas Altezas Imperiais, o grão-duque Sergey Aleksandrovich, e sua esposa, a grã-duquesa Yelizaveta Fyodorovna, em seu grandioso palácio neo-barroco às margens do Fontanka.

A longa Avenida Nevsky já estava retida pela fila de carruagens luxuosas, onde seus donos esperavam saírem para mostrarem seu porte aristocrático ao atravessarem a porta principal do palácio de cor malva, que os levava para seus mundos: um mundo de elegância, esmeraldas, rubis reluzentes, champagnes em taças coupe e decoro.

Nada impedia a nobreza russa de ir à um baile. Naquele mundo, um baile fora sempre a melhor ocasião para se mostrar à aristocracia. As ruas escorregadias do inverno russo ou os narizes vermelhos de seus cocheiros de cartola não lhe faziam nenhuma diferença para chegar ao Palácio Sergeivsky com suas berlindas. Oh, sim! Uma berlinda era a carruagem ideal para ir a um baile, pois se dizia ser mais elegante que um coupé, e agradava todos os gostos da população de São Petersburgo. Ela possuía o tradicionalismo e a graciosidade a qual a sociedade russa apreciava. Deveria tu, leitor, lembra disso para ir a um baile.

Descendo suavemente da carruagem, e pondo os pezinhos no carpete de veludo vermelho, eles caminhavam pelas salas e corredores de Sergeivsky, onde já se podia perceber que o grão-duque e a grã-duquesa sabiam receber os convidados. A sala dos refrescos estava dominada pela longa mesa de doces, em que nunca ficava vazia e era coberta pela toalha branca mais fina do palácio. Havia uma enorme quantidade de bolos brancos com glacê colorido e biscoitos dourados de uma imensa variedade, que eram renovados a cada instante; e havia mais de uma dúzia de criados com seus librés vermelhos e perucas brancas, indo e vindo com bandejas prateadas de chá e café para servir os convidados.

Cadeiras acolchoadas e pufes franceses dourados eram encontrados em todos os lugares de Sergeivsky, onde os convidados podiam descansar seus pés exaustos quando bem quisessem após caminharem tanto pelo grande palácio.

As lâmpadas francesas faziam a iluminação das salas decoradas pelas pinturas clássicas de van Loo. A coloração amarelada das lâmpadas dava um aspecto suave aos suntuosos trajes de alta costura. Madames vestiam seus vestidos de seda pura e renda delicada. Os metros de tecido formavam uma veste que exprimia requinte e superioridade, com decotes que destacavam o colo, mangas curtas volumosas e detalhes florais que cobriam toda a roupa até a barra da saia. As longas luvas brancas de couro de cabra, feitas sob medida, cobriam os braços nus das senhoras e senhoritas. Seus penteados eram adornados pelas antigas tiaras brilhantes da família e seus pescoços finos eram cobertos por pérolas e diamantes.

A paleta de cores clara dos vestidos brancos, beges, rosas e azuis era contrastada pelos uniformes escuros dos homens do salão. Esses trajes, que tinham suas riquezas e igualmente eram comparadas aos vestidos das damas, possuíam aquele mesmo tom azul-marinho, se meu querido leitor está recordado. A vestimenta luxuosa era carregada pelas medalhas recém-polidas que foram ganhas em guerras do passado; e seus pés eram vestidos pelos lustrosos sapatos de verniz ou pelas botas militares longas, que caminhavam pelo chão de madeira escuro polido.

No patamar da escadaria, já se podia ouvir os sons abafados dos violinos que vinham do andar superior; e tornava-se lá, aos pés das escadas, o epicentro do ruído de conversas e pequenos risos elegantes que os nobres faziam. Posso dizer que não era por acaso que estes sempre mencionavam a escadaria de Sergeivsky como uma das mais belas da Rússia, pois em cada degrau, era claro a sua graciosidade e luxuosidade. Os pisos eram de mármore marrom, com corrimões dourados, detalhados em ferro que formavam figuras delicadas, banhados em ouro. As paredes altas faziam qualquer um levantar a cabeça para observar a beleza da arquitetura neo-barroca, decoradas por estátuas seminuas de cabelos encaracolados e feições angelicais. Candelabros de parede que ainda seguravam velas de cera, e um teto esculpido por ninfas davam um tom a mais de sofisticação.

As Confissões de Konstantin KonstantinovichOnde histórias criam vida. Descubra agora