II - A Pequenina População do Palácio de Mármore (parte 1)

24 3 2
                                    

Em primeiro lugar, digo-lhes que nunca gostei muito de bailes. Na verdade, eu sempre tive uma relação bastante peculiar com bailes e festas, pois sempre era calado e sem jeito perto dos barulhentos e alegres, e ao mesmo tempo era barulhento e alegre perto dos calados e sem jeito. É simplesmente uma coisa que nunca entendi direito da minha personalidade. Entretanto, como Ella (o apelido a qual eu e todos nós chamávamos Yelizaveta Feodorovna) tinha sido tão gentil em me oferecer um baile para mim e já estava a pegar os endereços das pessoas que enviaria os convites, o que eu poderia fazer? Porém, se posso lhes contar um segredo, eu sempre gostei de me arrumar para os bailes, pois sempre fui - admito - muito vaidoso e gostava de me ver vestido naqueles pomposos e caros uniformes.

Contudo, voltando para o baile, admito que havia uma singular euforia por parte da pequenina população do Palácio de Mármore, que constituía-se por nove pessoas: eu, minha esposa e nossos filhos Ioann, Gavriil, Tatyana, Konstantin, Oleg, Igor e o pequeno Georgy, que na época tinha alguns meses de idade. Também havia o meu irmão, Mitya, que morava em sua própria parte do palácio, mas que não gostava de se quer ouvir a palavra "baile", e já começava a dizer que estava muito ocupado para ir.

Mas minha família, em especial, meus filhos pequenos, adoravam o pai e a mãe irem para seus bailes e festas luxuosos pois enchiam a cabeça de imaginação, e pareciam ver aqueles príncipes e princesas de tempos passados, das histórias que eu li a para dormirem. Quando os empregados abriram os nossos guarda-roupas e colocavam em cima das camas o meu uniforme de gala e o vestido de musseline de Yelizaveta Mavrikievna, eles ficavam vendo termos os cabelos penteados e ficarmos perfumados pelo cheiro da colônia de hortelã. Sei que pensavam isso pois eu mesmo pensava e fazia a mesma coisa, ficando acordado pelo mesmo palácio com também as longas camisolas brancas, esperando, junto com os meus irmãos, papai e mamãe descerem as escadas para irem ao baile. Mamãe usava o seu vestido rodado e ficava coberta de tiaras e colares de diamante, e papai usava o uniforme da Marinha, que sua espada dava tapinhas na ponta das botas de cano alto onde se ouvia aquele barulhinho. "Quando eu crescer eu quero ter um uniforme igualzinho ao de papai", dizia eu, a qual meus irmãos repetiam a mesma coisa.

Com isso em mente, logo que minha família soubera que eu ganharia a Ordem de São Vladimir (e claro, que havia um baile), os dias foram contados. Lembro-me que entre os almoços, os passeios ao jardim ou aos chás da tarde, uma pequena pergunta sobre quem estaria lá ou como seria era feita por Igor ou meu querido Kostia.

A maior das euforias se encontravam, principalmente, nas falas dos meus queridos Ioannchik e Gavrilushka. Naquela época, eles já faziam seus treinamentos militares para a infantaria e tudo relacionado sobre a carreira militar, ou os prêmios dos capitães, ou generais, o animavam, pois lhes faziam esbanjar o uniforme negro ainda novo e cheiroso. Porém, devido as suas fracas saúdes, eles não faziam seus treinamentos aqui em Petesburgo, mas na Crimeia, já que o inverno poderia os prejudicar. Mesmo que não pudessem participar dos eventos, eles exprimiam seus mais queridos afetos por suas longas cartas ou chamadas pelo telefone.

Desde de que eu me lembro, ambos sempre foram as mais carinhosas das almas, cada um à sua maneira.

Ioann era o mais velho, e em 1903, contava com 17 anos de idade. Seu chegada na Terra demorou para acontecer, sendo posto na barriga da mãe somente após 2 anos de casamento, e quando eu soube da notícia, lembro que pedira aos céus somente uma única coisa: que nascesse saudável. Não importava-me se fosse menino ou menina, magrelo ou pequeno, pálido ou amarelo; mas havia de nascer saudável. Todos os dias, ao orar antes de dormir, só pedia esta única coisa. Enquanto isso, minha mãe só dizia estas palavras: "Tomara que ele não seja feio". Poderia até me sentir ofendido com isso.

No final, o pedido da minha mãe se tornara realidade. Ele nascera como um rapaz belo e robusto; e não nascera branco, mas sim cor-de-rosa! Nós sempre repetíamos isso à ele quando ele ficava com as bochechas coradas: "Você está mais rosa do que quando nasceu".

As Confissões de Konstantin KonstantinovichOnde histórias criam vida. Descubra agora