III - As rosas possuem espinhos.

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Passou-se algum tempo desde que eu a vi pela primeira vez. Eu ainda não sabia o seu nome, e nem de onde ela vinha... Mas conhecê-la foi a melhor coisa que poderia ter acontecido naquele século.

Eu admirava a bela pintura em um dos quadros localizados em um dos muitos corredores da mansão. Era uma arte feita a mão por um grande pintor, a imagem de minha querida Isabel. Cada detalhe seu capturado em uma única imagem. A cena era o lago e ela estava sentada em um banco de madeira, sentada de costas para ele. Haviam árvores e um gramado bem cuidado, e o sol estava se pondo. Os seus longos cabelos loiros estavam soltos e ela usava um longo vestido de um tom rosado. Havia um lindo sorriso em sua expressão, e ela segurava uma rosa, admirando-a.

De repente sinto algo que é familiar e me tira a concentração... está vindo do jardim. Eu ouço o som de seu coração, porém dessa vez está calmo. Ela espetou um dos dedos em um espinho nas minhas roseiras, outra vez. Então, tomado por uma estranha curiosidade, eu chego no jardim tão rápido que ela simplesmente não notou quando ou como eu agora estava ali.

Ela olha para mim, assustada. Mas a expressão de susto se desfaz ao notar que os meus olhos não estão vermelhos dessa vez.

"Eu disse: não volte, mas ainda assim você insiste em voltar." Eu a lembro, esperando que ela me responda. Mas não há nenhuma outra resposta além daquele olhar determinado em sua expressão. E então, com uma velocidade sobrenatural, eu agarro a mão dela que está machucada, analisando-a.

Ela ainda segura a rosa e a sua mão está ferida. Sangue escorre dos arranhões e os lugares machucados em seu braço. Ela tentou arrancar a rosa, sem importar-se com o resto da roseira.

É sério que você fez isso?

Eu sinto o impulso de ajudá-la. Apesar de parecer meio selvagem, eu vejo que é um ser frágil.

"Venha comigo." Eu falo e ela tenta se afastar, mas eu ainda estou segurando a mão dela, o que a fez sentir dor, e é notável por sua expressão. "Eu só quero ajudá-la a curar os ferimentos, então venha comigo." Eu tento outra vez. Eu não estou sendo nem um pouco delicado, e não é mesmo a minha forma de ser. Eu sou um vampiro.

Ela me observava com aqueles olhos verdes como se me perguntasse se era mesmo verdade o que acabei de lhe dizer. Então, como uma prova de minhas palavras, eu toquei com os meus dedos sobre um dos arranhões no braço dela. Eu pressionei ali por um breve momento, e como a minha mão é fria, a região fica temporariamente adormecida.

"Viu? Apenas venha comigo." Eu pretendia levá-la para dentro da minha mansão. De alguma forma eu senti que era isso o que eu deveria fazer. Sim, eu de certa forma possuía sentimentos , embora eles houvessem se tornado quase inexistentes, levando em consideração a quantidade de tempo desde que eu fui transformado.

E quando nós já estavamos na sala, com decoração e moveis antigos, enquanto eu cuidava do ferimento dela, pois ela ainda sentia medo e desconfiança de mim, a jovem observava com cautela os meus movimentos delicados ainda com as rosas em sua mão enquanto eu limpava a ferida com gentileza.

Ela não suportava a dor e havia um espasmo toda vez que eu tocava em algum ferimento mais profundo ainda que na superfície, mas eu conseguia acalmá-la com um olhar suave e cuidadoso.

Eu a confortava enquanto tomei conta do ferimento que ela havia causado ao enrroscar o próprio braço nas roseiras do jardim. Eu estava lhe dizendo que tudo ficaria bem. Ela olhou para mim, finalmente começando a sentir-se segura ao notar que eu não lhe faria mal. Ela tentou falar alguma coisa, mas sua voz foi apenas um sussurro rouco. E essa tentativa de falar pareceu lhe causar algum tipo dor além daquela, pois eu observei uma lágrima de tristeza cair dos seus olhos.

Ser-Vampiro (Parte I - Memórias Perdidas)Onde histórias criam vida. Descubra agora