V - Morda-me vampiro.

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Depois daquela noite na qual Selena conheceu Mahina, o nosso objetivo principal era conseguir desvendar o mistério a cerca das memórias da garota. No entanto, não houve mesmo uma solução aparente.

Eu tentei por diversas vezes enxergar o que havia no mais profundo de seus pensamentos, mas realmente existia algum tipo de bloqueio... Bloqueio ao qual eu não ia desistir tão facilmente, até desvendar.

Eu despertei do meu sono de vampiro com uma ideia que se pareceu perfeita em minha mente. Quando abri a tampa do meu caixão, aranhas fugiram e morcegos que repousavam de ponta-cabeça no teto, agitaram-se, voando para outro canto mais escuro no porão. Talvez essas criaturas também fossem capazes de compreender a energia dos meus próprios pensamentos.

Deixando de lado a minha sede eu fui logo buscar por ela, no entanto, a garota não encontrava-se ali em canto algum.

Teria ela escapado durante o dia enquanto eu repousava em meu caixão?

Verifiquei em todos os cômodos, porém, lá não encontrava-se nada mais além das típicas teias de aranha, poeira, mofo e coisas consideravelmente antigas.

De repente eu senti-me fraco, notando que necessitava de sangue para me alimentar. Esse pensamento fez com que dois dos meus dentes ficassem maiores e mais afiados, revelando-se as presas de vampiro prontas para uma mordida. Foi então que eu senti... Eu consegui captar o cheiro dela com o meu olfato no modo predador, o qual misturava-se com o aroma das rosas no jardim, indicando-me o local.

Eu ouvi e escutei o seu coração pulsando naquele mesmo ritmo, o qual eu já conhecia. Então fui ao seu encontro, em uma velocidade sobrenatural.

Ela realmente estava ali, distraída com as roseiras que momentaneamente foram iluminadas pela luz pálida da lua. As suas roupas velhas haviam sido substituídas por um belo e longo vestido da cor verde-escuro, embora ela ainda permanecesse descalça. Os seus cabelos castanhos e ondulados estavam presos em uma longa trança, deixando o seu pescoço a mostra, detalhe o qual eu notei mais do que o necessário, parecendo temporariamente tomar toda a minha atenção.

Como seria fácil e apetitoso cravar os meus dentes de vampiro, alcançando a sua corrente sanguínea... Ela não havia notado a minha presença até então.

Eu me aproximei com tal objetivo em mente, no entanto, ao me aproximar dela foi como se algo me jogasse para longe me fazendo cair no chão.

Ela notou que eu estava ali. Porém, não espantou-se com a minha presença.

O que eu estava prestes a fazer? Meio confuso, levantei-me tão rápido como se nem mesmo houvesse caído. Eu a observei com mais atenção, dessa vez notando o colar em seu pescoço.

Eu fui capaz de sentir a energia que vinha do objeto... A mesma energia capaz de repelir minha presença para longe. Ela tocou o pingente do colar, feito de alguma pedra, a qual eu ainda desconhecia.

Ela andou, vindo ao meu encontro, e dessa vez eu não fui jogado para longe pela força invisível aos olhares desatentos.

Me lembrei da bruxa, então logo conclui o que talvez houvesse ocorrido. Era uma magia que me impedia de tocar quem usasse aquele colar, entretanto, o usuário de tal objeto era o único capaz de aproximar-se de mim, se assim desejasse. Eu sorri com a ideia, mentalmente parabenizando a bruxa por sua esperteza.

"Achei que você tivesse escapado para longe outra vez..." Eu disse, não esperando mesmo uma resposta. "Mas gosta tanto dessas rosas que decidiu permanecer." Observei em seguida. Ela parecia compreender as minhas palavras, mas não era capaz de respondê-las com nada mais além de expressões.

"Volte para dentro da mansão... Não é tão seguro permanecer aqui sozinha durante à noite." Avisei, e ela pareceu entender. "Não que exista outros vampiros por perto. Mas eu não sou o único ser sobrenatural o qual você deveria temer..."

Realmente existiam outros tipos de criaturas sobrenaturais e noturnas como eu rondando o vilarejo próximo da mansão. Espero que não tenha medo de lobisomens.

Eu fui em busca de alimento deixando o aviso de que, naturalmente, eu retornaria antes do amanhecer pois não pretendia que os raios de sol me reduzissem a cinzas, e o vento me varesse para longe com um único sopro.

Não precisei procurar muito, quando ainda existia o acordo que eu fizera com a jovem bruxa. Ela gostaria de saber a sensação de ser mordida por um vampiro e eu precisava me alimentar... Não houve antes oportunidade mais perfeita do que esta.

A sua residência ficava no próprio vilarejo onde também encontravam-se humanos comuns vivendo. Era uma construção de dois andares, tão antiga quanto as outras ao redor. Nada que chamasse tanto a atenção, excerto pelo tapete de boas-vindas do lado de fora da entrada de madeira, o qual nos dava boas-vindas de uma forma inusitada.

"Bem-vidos a casa da Bruxa!"

Talvez os humanos nem mesmo acreditassem que ela realmente era uma bruxa, pois não pareciam importar-se tanto com aquilo, ou simplesmente mantinham distancia dali de uma forma proposital.

Antes mesmo que eu fosse capaz de anunciar a minha presença, a porta abriu-se com aqule típico rangido de portas antigas, e lá estava ela com um sorriso.

"Entre, por favor."

"Não deveria convidar um vampiro para entrar..."

"E você não deveria entrar na casa de uma jovem bruxa, a menos que ela tenha o convidado."

"Eu vim cumprir o acordo anterior." Afirmei ainda do lado de fora, mesmo depois de já ter sido convidado para entrar. Lá dentro existia pouca iluminação, eu pude observar mesmo ainda estando ali.

"Entre..."

Eu entrei e quase que ao mesmo tempo ela fechou a porta atrás de mim, como se achasse que eu poderia escapar de nosso acordo. É claro que eu iria até o fim.

Observei o lugar quando eu já estava dentro, e eu confesso que esperei encontrar algo incomum, mas era somente uma casa iluminada por velas e com uma decoração relativamente comum.

"Quais são as regras?" Eu quis saber, e não que eu obedecesse as regras dos humanos com frequência, mas este era um acordo entre eu e ela, e nós definitivamente não éramos humanos.

"Você pode beber o meu sangue e eu escolho onde e como e a quantidade."

"Muito bem, mas, e se eu não quiser parar? O que você poderia fazer?"

"Não duvide, eu poderia te transformar em cinzas sem nem ao menos pronunciar uma palavra sequer." Ela diz, e há firmeza em suas palavras, me fazendo não duvidar da veracidade delas. É claro que ela poderia, mas talvez não fosse tão fácil assim quanto ela mesma fazia parecer.

"Tudo bem, também vou levar em consideração o seu desejo de saber as sensações da mordida de um vampiro." Eu me lembrei. "Pelo visto, com isto não vou poder saciar a minha sede, mas será divertido."

Sem mais conversas, aproximei-me da bruxa usando minha velocidade sobrenatural.

"Onde posso morder?" Falei em seu ouvido para que apenas ela ouvisse e sei que isso causou nela arrepios. Comecei a imaginar o que a outra garota faria se estivesse em tal situação, mas outra vez pareceu errado pensar nela dessa forma.

"Você gostaria de se divertir mais um pouco antes da atração principal?" Ela quis saber, ao mesmo tempo em que sugeria algo bem óbvio.

"Será um prazer (literalmente)." Confessei, divertindo-me com a ideia.

Ser-Vampiro (Parte I - Memórias Perdidas)Onde histórias criam vida. Descubra agora