Capítulo 3

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Isso nunca tinha acontecido. O cara me pegou pelo pescoço! O quê? Como assim? E eu arranhei ele com meu canivete. Isso podia dar mais motivos para virem atrás de mim! Ele podia estar armado! Podia ter me sequestrado! Senti a crise de pânico vindo, o bolo se formar na garganta e meu corpo tremer por inteiro. Podia ter morrido hoje. E levado outras pessoas comigo.

Nate percebeu a tremedeira, mas interpretou errado.

-Está com frio? Toma aqui minha jaqueta. - Enquanto ele a tirava, eu tentava me acalmar.

Comecei contando minha respiração em ordem decrescente. Nate colocou a jaqueta ao meu redor e me abraçou novamente. Com o nariz no seu pescoço, fechei os olhos e me concentrei no seu cheiro. Era familiar e me ajudou a me acalmar.

Precisava me distrair. Assunto, assunto, assunto…

-Então… -Minha voz saiu falha, tossi pra disfarçar e continuei. - O que Lauren disse pra você?

Sua postura ficou um pouco rígida.

-Lauren agiu como ela mesma. - Ele suspirou pesadamente. -Não sei, Ellie. Acho que devíamos parar de andar com ela. Ela está ficando pior.

-Eu tinha tido esse mesmo pensamento.

-Sim, está ficando insuportável fazer tudo sempre como ela quer.

-Exato! - A distração havia funcionado.

-Mas estava pensando que isso é culpa nossa. Nós sempre deixamos ela ser assim.

-Pois é, mas porque deixamos? - Perguntei.

-Não sei, não achei um motivo também. Acho que ela só é muito boa em nos manipular. Olha hoje, ela conseguiu te convencer que devia deixar os óculos em casa. E você obedeceu.

-E me arrependi a noite toda por isso. Na hora, parecia que estava mesmo estragando a maquiagem. Mas que diferença faz se eu não vou conseguir ver nada direito? - Nate riu da minha indignação. - Não vou mais deixar ela fazer isso, estou decidida.

-Então está combinado! Não vamos mais deixar ela mandar na gente! - Nate estendeu a mão para o alto e a bateu no teto do carro, soltou um "ai" de dor e eu ri de sua cara. - Mas sério agora, eu não quero mais ficar perto dela, Ellie. Não concordo com as coisas que ela faz, já passou mesmo do limite para mim.

O observei de baixo para cima, encostada em seu ombro. Sua expressão estava séria.

-O que ela disse mais pra você? - Algo havia acontecido. - Você demorou para voltar.

-Ela estava bêbada, mas sei lá. Ela vem com um papo esquisito faz algumas semanas já, e eu não quero mais ouvir as besteiras delas. - Ele parecia chateado, o que era estranho, pois Nate não ficava chateado com pouca coisa.

-Quando você se sentir confortável para me contar, vou estar aqui, tá? - Eu sabia como ele funcionava e iria esperar pacientemente.

Era isso que eu fazia com Nate. Esperava pacientemente ele me notar como um possível interesse e não só como sua amiga.

Ele me apertou mais em seu abraço.

-Eu sei. Obrigada, Ellie. - Ele beijou novamente o topo da minha cabeça. - Você vai ficar bem hoje? Quer que eu durma com você? Sabe que gosto do seu sofá.

Meu primeiro ímpeto era quase gritar um "sim" desesperado. Mas eu precisava entrar em pânico sozinha e depois pensar bem sobre meus próximos passos. Quanto mais eu demonstrasse carinho pelas pessoas ao meu redor, mais elas se tornariam um possível alvo. E de maneira nenhuma iria colocar Nate em perigo. Ele era um cristal precioso demais para esse mundo.

E eu queria tanto que ele dormisse comigo hoje. A presença dele já me fazia sentir mais segura.

-Não precisa, não vou estragar suas costas.

-Eu pago uma cirurgia pra arrumar depois.

Sorri de sua leveza. Ele era um doce.

-Vou te liberar dessa vez, mas a gente pode fazer algo amanhã. - E no mesmo instante me arrependi, eu teria que me afastar um pouco a partir de agora, mesmo odiando isso.

-Tá bom, mas qualquer coisa quero que você me ligue, tá? Eu venho voando.

-Que nem o anjinho que você é.  - E beijei a ponta de seu nariz.
Nós dois ficamos surpresos com o meu gesto. Ele riu primeiro e isso quebrou o clima que poderia ficar tenso.

-Acho que eu tô meio bêbada. - Ele riu ainda mais.

-Só um pouquinho. Você consegue chegar no seu apartamento?

-Rá, rá. - O carro já havia parado na frente do prédio. -Moço, desculpa viu. - Disse pro motorista de quem eu havia esquecido completamente a existência.

O motorista riu de mim.

-Você não vomitando aí atrás, tá tudo certo.

Nate riu ainda mais alto.

-Até ele já viu que você está bêbada. -
Ele falou baixo pra mim.

-Meio bêbada, tá? Você me respeite.

O sorriso continuava em seus lábios.

-Preste atenção em mim, você vai me mandar mensagem assim que deitar na cama. Quero saber que não caiu nas escadas ou no banheiro.

-Pipipipipipipipi. - Tentei o imitar e ele riu de novo. - Tá, eu mando. Não esquece de colocar seu endereço, se não…

-Já fiz isso. Agora vai. Tempo é dinheiro e nós não temos nenhum dos dois.

Ele me ajudou a descer do carro e ia me acompanhar até a porta, mas lembrei do que eu tinha fugido na boate e o empurrei ele de volta. Ele bateu a cabeça na porta.

-Aí! - Ele reclamou esfregando a cabeça. - Você bateu a porta em mim!

Eu ri, nervosa. Era muito descoordenada.

-Me mande mensagem quando chegar. - Coloquei a cabeça dentro da janela e beijei sua bochecha, de forma rápida e rasteira.

Já estava na porta do prédio quando vi o carro dando partida. Olhei para os lados em busca de algo suspeito, mas cegueta e alta da bebida, não ia encontrar nada. Entrei e subi rápido os degraus, tropeçando um milhão de vezes e quase caindo outras tantas.

Finalmente cheguei na minha porta, entrei rápido e tranquei as duas trincas. Acendi as luzes e dei uma conferida rápida pelo mini apê. Estava sozinha. Precisava fazer xixi o quanto antes. Me escorei no balcão da cozinha e comecei a tirar meus saltos. Meus pés estavam dormentes depois de tantas emoções e corridinhas.

Fui ao banheiro e me olhei no espelho por um momento. Ao ver minha imagem transtornada, a verdade veio como um jorro. Eu deveria entrar em contato com meu pai.

Fiquei com raiva da ideia e liguei o chuveiro. A água quente clareando meus pensamentos e desatando os nós de preocupação em minha nuca. Deixei as lágrimas de frustração escorrerem livremente. Porque precisava passar por isso? A vida já não tinha me tirado o bastante? As escolhas de outras pessoas já não tinham tido um impacto suficiente em minha vida?

Todo o medo que eu estava reprimindo veio em ondas fortes, me fazendo tremer e soluçar. Me sentia desprotegida, como uma criança outra vez. Como se tivesse feito algo terrível e alguém fosse descobrir. Como se minha mãe me pegasse com Dean de novo.

A lembrança inusitada me fez parar de tremer. Ainda lembrava da sensação de humilhação que senti naquela tarde, logo depois de achar que sempre estaria segura com ele.

Dean. Que merda você e meu pai tinham feito agora?

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⏰ Última atualização: May 09, 2023 ⏰

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