CAPÍTULO 5

104 11 148
                                    

⊹₊ ⋆ 📚 | Capítulo 5: Nem tudo se resolve com um beijo.

Há algo de singular na minha história com Choi Soobin.

Eu tinha oito anos quando o conheci e ele era um ano mais velho do que eu. Nossa maior coincidência foi o sonho de orgulhar os nossos pais. Tínhamos esse sonho, uma amizade e uma traição. Foi através do acaso que nossos destinos se misturaram tragicamente, e isso é o que torna tudo ainda mais inacreditável.

Fazendo o papel do filho prodígio, eu sempre fui bom em muitas coisas. O aluno nota dez, o atleta campeão, o menino mais bonito da cidade, o queridinho da alta-sociedade e o maior conquistador de corações. Fora isso, havia a ambição dos meus pais, contribuindo para me encher de atividades extracurriculares na infância, além do trabalho como modelo da Damson Tourist Club, o clube de turismo da nossa família. Com todas essas habilidades desenvolvidas, era previsto que a inveja alheia me atingisse, mas, pela condição de eu ser tão protegido – hierarquicamente falando –, ninguém podia demonstrar que me odiava sincera e deliberadamente.

E, no passado, eu fui uma criança muito malvada.

Graças às várias atividades extracurriculares, descobri minha habilidade com a matemática antes da existência da literatura. Lidar com números era tão fácil para mim quanto desenhar um coração. Mesmo que eles não me despertassem paixão alguma, eu só estava seguindo o barco, obedecendo o que me mandavam fazer. Então, para quê eu questionaria, na época, se gostava mesmo do que estava fazendo? E não, não havia ninguém para me avisar sobre isso. A minha arrogância infantil era estúpida o suficiente para afastar todo mundo de chegar perto de mim.

Obviamente, eu não era tão idiota assim para não questionar algumas ocorrências. Mas o isolamento da bolha elitizada onde nasci foi o principal responsável pela mentalidade babaca que assumi quando era criança. Mais ou menos, ela seguia assim: "Se eu consigo, é porque sou superior a alguém. E se sou superior a alguém, devo manter essa posição o tempo todo, senão nunca serei amado."

Antes de virar um leitor, eu era um competidor. Mas, antes de virar um competidor, eu era um experimento profundamente maltratado da sociedade.

Quando não atingia um objetivo, automaticamente o lado negativo da minha personalidade surgia. A raiva que eu sentia era demonstrada da maneira mais cruel que uma criança conseguiria expressar: beliscando empregados, sujando lugares por vontade própria, xingando as pessoas na cara delas, quebrando objetos, me vingando com malcriação por qualquer contrariedade que recebia dos outros, etc. Rapidamente, os meus pais perceberam isso e, concluindo o quão problemático o meu comportamento se tornaria para o futuro da família, ao invés de procurar ajuda, eles utilizaram a regra que até hoje seguíamos, contendo a minha raiva para dentro e somente a soltando em momentos especificamente apropriados.

"Se você falhar alguma vez e destruir o nome da nossa família, saiba que, de nós, você não ganhará absolutamente mais nada. Nem o nosso sobrenome e nem o nosso amor."

Para um garoto de oito anos, carregar o peso de duas linhagens importantes com sabedoria era uma regra tão importante quanto a teoria heliocentrista é para os cientistas.

Meus pais também tiveram influência na formação da minha personalidade. Ao menos, um pouco do que eles conseguiram desenvolver, pelas mínimas vezes em que passamos juntos como uma família de verdade. Na infância, os pais se tornam o exemplo principal do crescimento infantil. Eles são o poço de amor incondicional que toda criança busca receber, retribuindo através do crescimento com gestos, palavras e afeto aprendidos pelos modos de seus criadores.

Nem Tudo É O Que Parece [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora