Medusa

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O ar da delegacia era denso, carregado de adrenalina e café velho. Sloan, alto e loiro, com um sorriso irônico nos lábios, me entregou a ficha.

“Addison, temos um caso para você.”

“Eu ficaria assustada caso não tivesse, Sloan.” Respondi, puxando os papéis e lendo com calma. Meredith Grey, 27 anos, um histórico nebuloso de drogas e tráfico, roubo.

“O que essa jovem veio fazer aqui? Parece só mais uma no caminho errado para provocar os pais.” Murmurei, seguindo Sloan até a sala de interrogatório. A loira, sentada na cadeira de metal, parecia um pouco machucada, com o lábio inferior cortado.

“Um vizinho a denunciou por porte de drogas e arma. O cara foi encontrado morto ontem à noite, a arma do crime era uma pistola de calibre 12 com silenciador. Tudo indica que ela foi a responsável, mas revistaram o apartamento dela e não encontraram nada, nem resquícios de drogas ou armas. Ela foi detida ontem à noite e desde então está sendo pressionada a falar, mas como você pode ver... ” Sloan gesticulou para a câmera que transmitia a imagem da sala. Meredith parecia calma, apesar da situação.

“Ei? Aceita ou quer que algum brutamonte continue espancando a garota?” Mark, com sua ironia habitual, interrompeu. Revirei os olhos e entrei na sala. Meredith me analisou, ajustando-se na cadeira. Agora, pude ver melhor seu rosto. Olhos esverdeados com um toque de azul, pele branca quase translúcida, marcada por olheiras profundas que pareciam contar histórias de noites mal dormidas e segredos ocultos. Lábios finos e rosados, um pouco inchados, e hematomas em seu rosto e mãos. Ela usava uma jaqueta de couro surrada, calça preta rasgada, camisa colada e um colar com um pingente em formato de estrela.

“Só vai me analisar? Seus amigos são mais falantes.” Sua voz rouca, carregada de sarcasmo, me fez encará-la.

“Sou a Detetive Montgomery, e você é Meredith Grey, presumo. Me diga, o que a traz aqui?”

Meredith sorriu, olhando para o lado, e revirou os olhos.

“Me diga você, Monty. Tem uma pasta aí com todas as informações sobre mim e as suspeitas contra mim.” Ela tocou a mesa de ferro, e observei cada gesto.

“Certo, você não é fácil de conter informações, mas ajudaria muito se cooperasse, hm?” Ela bebeu a água que lhe deram, com tanta sede que me fez pensar que era o único copo que ela havia recebido desde que estava ali.

“Sabe, não sei o que vocês acham... Mas não fui eu! E estou cansada de repetir essa merda. Podem me bater o quanto quiserem, mas não falarei nada. Vocês nem têm provas! Parem de ser burros.” Ela jogou o copo de plástico no chão com raiva.

“De fato, eu não vou te bater... Sinto muito que tenha que passar por isso, mas vejo que não tenho o que questionar.” Saí da sala, vendo Meredith me olhar confusa e rir sem humor.

Mark me olhava indignado.

“Só isso? Sério?”

“Acha mesmo que ela é uma daquelas que entrega os outros? Não tenho dúvidas de que ela está no meio de algo errado e sujo, mas ela não matou aquele neonazista. E terceiro, ela não vai falar. Ela é esperta! Até o jeito que se porta para não deixar nada transparecer... Vou investigar ela, mas escondida e sozinha. Não me olhe assim.” Suspirei, vendo ele negar com a cabeça.

“Se ela for perigosa?”

“É meu trabalho. Apenas vou observar e assim que tivermos algo para incriminá-la, é toda sua. Agora, solte-a, já se passaram 24 horas.” Olhei para o relógio no meu pulso e fui para o meu escritório. Peguei meu material, arma, gravadores e taser, coloquei meu sobretudo e meus óculos e saí. Fiz um sinal de “ok” para Sloan e fui para o lado de fora. Entrei no meu carro e vi Meredith saindo, pegando um táxi. Segui o carro até um lado mais obscuro da cidade, mantendo uma distância segura. Vi ela descer em frente a um prédio que parecia ser seu apartamento. Ela entrou, e peguei meu binóculo para observar. Não demorou muito para que Meredith voltasse, com uma bolsa no ombro e um cigarro na mão. Ela pegou um celular da bolsa e o jogou no chão, estilhaçando-o.

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