One Shots

A calcinha perdida

Seattle, 7h35 da manhã

O ar carregava o cheiro de café e antisséptico, um aroma familiar que normalmente trazia uma sensação de calma. Hoje, ele só alimentava o fogo que ardia dentro de mim. Um pequeno pedaço de seda, um frágil sussurro de traição, repousava na minha bolsa. A lingerie do Derek, um lembrete cruel da sua infidelidade.

Ele ousou brincar com meus sentimentos, me fazer de idiota. Eu não deixaria ele se safar. Não dessa vez.

O hospital estava assustadoramente silencioso quando cheguei, a luz pré-amanhecer filtrando pelas janelas. Passei a noite lavando e dobrando a lingerie, colocando-a em uma sacola plástica que agora pesava na minha bolsa. Meu uniforme parecia uma segunda pele, um escudo contra a tempestade que se agitava dentro de mim. Fui direto para a estação de enfermagem, meu olhar fixo em Meredith Grey, a mulher que se tornou o segredo do meu marido.

Ela estava parada no balcão, de costas para mim, seus cabelos loiros caindo sobre os ombros. Pude ver o contorno tênue de sua estrutura delicada por baixo do uniforme.

"Dra. Shephard?", eu disse, minha voz com um calmo arrepiante.

Ela se virou, seus olhos azul-esverdeados se arregalando em surpresa.

"Não me chame de Shephard", eu corrigi, meu sorriso uma fatia fina como uma lâmina. "É Dra. Montgomery, Grey."

"Ok, Dra. Montgomery", ela gaguejou, sua voz quase um sussurro. "Precisa de alguma coisa?"

"Acredito que meu marido tenha adquirido algo seu ontem à noite", eu disse, meu olhar inabalável. "Algo que pertencia a você."

Seus olhos dispararam para a sacola na minha mão, seu rosto ficando pálido. Dei um passo à frente, o cheiro do seu perfume, uma mistura de lavanda e baunilha, me envolvendo. Quase pude sentir o amargor da traição dela.

"Dra. Montgomery...", ela começou, mas eu a interrompi com a mão levantada.

"Eu poderia te expor, Grey. Eu poderia te pintar como a estagiária que dorme com seu superior casado. Mas acredite, minha raiva não é direcionada a você. É para ele", eu disse, minha voz endurecendo. "Ele dormiu comigo depois de você. Eu pensei que nosso casamento tinha uma chance, mas parece que Derek Shephard está destinado a afundar com o Titanic. Já viu o filme? Pegue sua lingerie e tenha cuidado para onde você a deixa da próxima vez. Vou te ver em uma hora e meia, quarto 306. Aqui está o prontuário do paciente."

Eu empurrei a sacola e o prontuário para suas mãos, então me virei e fui embora, deixando-a parada ali, sem palavras e abalada.

Os jogos tinham apenas começado.

Uma hora depois, eu me encontrei parada no quarto 306, de frente para Meredith Grey. Ela era a imagem da compostura, seu rosto pálido, mas seus olhos firmes.

"Pontual. Bom", eu disse, minha voz sem calor.

Ela assentiu silenciosamente, entrando no quarto.

A paciente, uma jovem grávida, estava deitada na cama, seu rosto marcado pela preocupação. Eu expliquei a situação, uma gravidez de alto risco, e então me voltei para Meredith. "Dra. Grey, por favor, faça uma ultrassonografia. Precisamos ter certeza de que o bebê está bem. Volto para verificar."