Para lá da Ponte

Capítulo 1 - A infância

Capítulo 1 - A infância

A Márcia tinha sonhos para o seu eu momentâneo, tanto como para o seu futuro. Desejava um dia poder concretizá-los um a um! Mas ela queria muito muito um simples desejo: ser amada.Sempre foi uma criança que não soube o que era ser amada, o que era ter quem a esperasse ao fim do dia no portão da escola ou até mesmo a quem pudesse chegar a casa e dizer que teve uma boa nota num teste. A realidade da marcia, e de tantas outras marcias por aí.E se existe algo que faz Marcia questionar-se imenso, a sua infância e o motivo pelo qual não foi diferente.

Márcia não teve uma família funcional, diga-se nos termos atuais, uma família disfuncional - pais separados, discussões a toda a hora, muitos irmãos de pais diferentes , algumas dificuldades financeiras, não pode continuar os estudos, entre outras coisas. Essa infância tornou a Márcia mais fria, de coração fechado a quem tentasse entrar e sem conhecer o verdadeiro amor de quem a deveria ter amado. Algo que se recordava bastante era que tinha perdido os seus pais. A mãe decidiu abandonar os filhos e o pai não lhe dava importância nenhuma, preferia de longe a filha mais velha.

-Foi abandonada pela mãe , e não tem pai coitada - uma frase que ecoava na sua cabeça quando estava completamente destroçada porque tudo teimava em correr mal

Algo que acontecia quando  estudava na escola, havia muita criança cheia de maldade e não compreendiam o que falavam. Nem sequer sabiam o poder que aquelas palavras tinham na Márcia e o quanto mudaram tudo.

Com o passar do tempo, com todos os acontecimentos que foram sucedendo, Márcia aprendeu a chorar em silêncio, a não mostrar os seus sentimentos a ninguém. Apenas todas as noites quando se deitava, punha os fones nos ouvidos e tapava a boca para que ninguém a escutasse. Foram anos assim, mais de 15 anos mas que foram ensinando cada dia mais e mais quem seria a Marcia no amanha. Aprendeu a refugiar-se nos livros, nas escritas tanto em blogues como em livros online, aprendeu a libertar o que sentia falando com estranhos. Sempre ouvia dizer que não se deve confiar em estranhos - mas eram os únicos com quem ela podia contar e desabafar.  Era a segunda de 5 irmãos, sentia que para si não havia simplesmente espaço. Sentia que era importante ,mas sentia que não a notavam. Não podia sentir nada que transparecesse para fora, porque a sua família simplesmente a criticava como sendo algo que ela estivesse a fazer para pedir atenção.Foram anos complicados para Márcia, o que fez com que procurasse demais nos outros sabendo de antemão que acabaria por se magoar.

E assim foi Manuel foi o primeiro que a ensinou que amar era tudo mas também não o era. Ensinou que a vida tem muito mais, e que pode ser curta a qualquer instante. Manuel optou por deixar Márcia sem grande justificação, apenas em prantos inconsoláveis, ambos, choraram com a partida um do outro.

Ficou o amor de um dia quem foi a minha isabel.