CAPÍTULO TRÊS

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CAPÍTULO TRÊS

— Você está muito quieto. — Resmungou Giane enquanto enfiava as mãos na terra a sentindo entre seus dedos, a sensação era familiar e tão costumeira, retirando dali as raízes mortas que havia, fazia isso todos os dias da sua vida, as vezes achava que jamais iria se cansar daquela função que desempenhava com Bento, mas ultimamente não se sentia mais tão satisfeita em fazer a mesma coisa todos os dias.

Às vezes se perguntava se tinha outra coisa para fazer, algo que se identificasse mais do que as plantas e a terra.

Já Bento normalmente era muito falante, tinha dias até que não calava a boca, o que irritava Giane, mas hoje estava irritada pela inquietação do amigo, que apenas mantinha aquele rosto com uma enorme carranca mal humorada, sentiu falta daquele ser falante de todos os dias, ela preferia aquele Bento, e não esse da sua frente.

— Não vai dizer que está com essa carranca feia por causa da Mayara? — Criticou a corintiana achando sem noção aquela reação exagerada de Bento, ao mesmo tempo que sentia inveja, afinal era somente Mayara que conseguia abalar o florista daquela maneira.

Eles não se viam, ao que? Sei lá, uns 10 anos? Era sério que ele estava tão abalado assim por causa daquela patricinha mimada que esbanjava arrogância pelos saltos altos?

Giane se recusava a acreditar naquilo, quebrava até parte do encanto que tinha pelo amigo, não conseguia entender como alguém como Bento poderia ainda nutrir paixão por alguém tão fútil e superficial como Mayara, a única explicação para aquilo é que ele estava cego pelas lembranças que tinha da menina no passado.

— Caralho Giane, me deixa um pouco em paz, não posso nem ficar na minha. — Bento rebateu sem paciência e já irritado com a intromissão da sua melhor amiga.

Adorava Giane e adorava a sua companhia, mas caralho, ele queria ficar na dele naquele momento, não estava bem, as lembranças do jeito que Amora agiu e falou naquela noite eram borrões em sua mente que o atormentavam, poderia ser besteira para muitos, mas ele ainda amava Mayara, poderia não ter admitido para ninguém aquilo, mas jamais conseguiu a esquecer ou esquecer o que viveram juntos no lar do tio Gilson, não era justo não poder ter um dia de silêncio com as suas próprias mágoas e ressentimentos, era humano e frágil como todos.

Ele queria dizer mais á Giane, queria dizer para a garota que respeitasse o silêncio dele naquele momento da mesma maneira que ele respeitou o longo um ano de sofrimento, lágrimas e dor que ela sentiu quando Fábio deixou o lar ao ser adotado pela família rica.

Bento revirou os olhos ao lembrar daquele cara.

Giane ficou tão destruída com a partida de Fábio que Bento realmente acreditou que a amiga jamais fosse se recuperar daquela perda, os olhos da garota ficaram opacos e sem vida por meses, vê-la sorrir era raro, a primeira vez que ouviu a corintiana rir depois do acontecido o fez comemorar que aos poucos ela estava voltando a ser a antiga Giane.

Ainda se lembrava de que todas as noites, ele levava um prato de comida para a garota no seu quarto e a ameaçava a comer tudo, somente iria embora se ela tivesse esvaziado a porcelana, pois sabia que a menina não estava almoçando, mas como Silvério passava o dia fora, não via a filha dar a comida aos cachorros e ficar de barriga vazia, pois nem fome sentia de tão depressiva que estava.

Bento se lembrava de como a garota emagreceu tanto que parecia que ia sumir, estava tão preocupado com a amiga que não teve outra escolha a não ser contar ao seu Silvério sobre o que estava acontecendo, e o velho como um bom pai ajudou a filha a sair daquela situação, foi quando aos poucos a antiga Giane voltou a aparecer.

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⏰ Última atualização: May 08, 2023 ⏰

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