1. O BRILHO DO AMOR

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Ares caminhava com passos firmes, suas sandálias de bronze ressoando contra o mármore branco enquanto se aproximava do templo de Afrodite. A grandiosidade dos templos gregos era inigualável – erguiam-se como sentinelas do tempo, emoldurados por colunas brancas majestosas que pareciam abraçar o céu. Feitos de mármore reluzente, os templos eram uma fusão de força e beleza, com entalhes elaborados que contavam histórias dos deuses, sendo eternizadas nas pedras brancas e lisas.

À frente de Ares, as colunas dóricas do templo de Afrodite se destacavam. Com sua simplicidade imponente, sustentavam um entablamento adornado com relevos de cenas amorosas e festivas. Ele ergueu o olhar, contemplando a tapeçaria que contava uma cena antiga: o nascimento de Afrodite, saindo das águas espumantes do mar. A deusa sorria com serenidade, seu olhar se encontrando com o de Ares como se o desafiasse a entrar.

Os degraus que conduziam ao santuário principal eram largos e de mármore polido, refletindo a luz do sol que se espalhava pelo pátio. Ares sentiu o calor da pedra sob os pés e inalou o aroma adocicado do incenso que queimava no interior. O pórtico se abria como uma passagem para outro mundo, um limiar entre o mortal e o divino, onde o ar parecia vibrar com um poder antigo e intangível.

Dentro do templo, a figura de Afrodite, esculpida com delicadeza inigualável, deitada languidamente sobre uma concha. A pele pálida, quase translúcida, parecia etérea sob a luz suave das lamparinas de óleo. Suas curvas esculpidas capturaram a essência da beleza e do desejo, o brilho de sua pele contrastando com os enfeites dourados que adornavam seu corpo.

Ares se aproximou, sua presença vigorosa preenchendo o espaço. Ele havia conhecido muitas batalhas, mas aqui, diante da imagem de Afrodite, sentiu o peso de outra guerra – uma que era travada nos corações e na carne. Ele estendeu a mão, quase tocando o corpo da mulher, e, por um momento, o deus da guerra se rendeu à atração poderosa da deusa do amor.

O templo parecia então sussurrar ao redor dele, como se as paredes guardassem as preces e promessas dos amantes que ali haviam buscado a bênção da deusa. Era um lugar onde o amor ganhava vida, onde os sentidos se confundiam, e onde até mesmo Ares podia esquecer, por um instante, a natureza de sua própria existência.

— Meu amor — o deus sussurrou e se deitou ao lado da figura adormecida, seus dedos acariciando os fios dourados espalhados pelo travesseiro.

Afrodite abriu os olhos ao sentir as carícias de seu amante e corou ao encontrar seu olhar penetrante.

— Ares — ela o cumprimentou, sua voz rouca pelo sono causou arrepios na espinha de Ares, o que o fez estremecer.

A deusa sorriu com a reação dele, sabendo muito bem do efeito que ela causava ao homem. 

— Onde ele está? — Afrodite perguntou, de repente um pouco preocupada, pois Hefesto nunca se atrasa para seus compromissos.

— Ele já está a caminho — Ares a tranquilizou, — Ele está procurando a nossa mãe.

Os olhos de Afrodite brilharam com a menção de sua sogra.
Hera sempre foi um pouco fria com a deusa do amor e Afrodite tinha sensação persistente de que a rainha do Olimpo a suportava única e exclusivamente pelo relacionamento que ela tinha com seus dois filhos.

Mas agora parecia que a deusa havia encontrado nela uma confidente, alguém onde Hera podia depositar sua confiança, sem esperar nada em troca, o que fazia Afrodite flutuar de tanta felicidade.

A porta do templo se abriu abruptamente, revelando a figura de Hefesto, que balançava a perna boa impacientemente pelo chão, enquanto arrastava a outra com dificuldade. O ferimento, causado pelo pai, ao jogá-lo do Olimpo, dificultava sua locomoção.

O que o fez odiar seu pai, Zeus, com uma intensidade avassaladora.

Hefesto tinha grandes problemas com sua aparência e sua perna deficiente, o que o levou a acreditar que nunca teria alguém para amar. E que também o fez implorar para sua mãe encontrar alguém para ele, mas Zeus ouviu suas lamentações e para zombar de seu filho, o rei do Olimpo obrigou Afrodite a casar com o deus ferreiro. Pois a deusa era bastante conhecida por ignorar os avanços insistentes do rei dos céus. 

O início do relacionamento deles havia sido completamente conturbado, a indiferença de Afrodite a ele o deixava triste, mas Hefesto, assim como ela, não queria um casamento infeliz.

O que levou Hera a intervir, colocando-os no que os mortais chamavam de terapia de casal, o que se provou bastante eficaz.

Os sentimentos de Afrodite em relação ao casamento com Hefesto eram totalmente válidos, afinal, o casamento deles havia sido baseado na necessidade de Hefesto de querer se sentir amado, não havia nada de errado em querer amor em sua vida. Mas o amor não podia ser forçado, ele precisava ser sincero.

E Hefesto morria de ciúmes da relação dela com seu irmão mais velho, Ares, que em sua opinião, era um homem grosseiro e idiota, pois nenhuma de suas interações anteriores havia sido muito boa. Ele conseguia ver o olhar amoroso que Ares dirigia à Afrodite, era um amor puro e palpável. E ele queria aquilo.

Mas o deus sabia que nenhuma magia ou força no mundo faria Afrodite olhar para ele dessa forma, então, o deus se refugiou em sua forja, deixando os amantes em paz.

A brasa quente e aconchegante das chamas da forja cobriam seu rosto de calor, mas o deus só pensava em como seria incrível se ao invés do calor escaldante de suas caldeiras, ele estivesse com a deusa deslumbrante em seus braços, o que o fez derramar lágrimas de amargura por seu destino infeliz.

Mas o que ele não sabia, é que Afrodite e Ares, seu irmão, o tinha notado observando-os com um olhar desejoso, e Afrodite sabia o que fazer nessa situação melhor do que ninguém.

Ela bolou um plano maquiavélico para enredar os dois deuses em sua teia de amor e luxúria, e deu certo. Agora os três deuses eram amantes e confidentes, a contragosto de Zeus, que preferia ver o seu filho mais novo sendo humilhado pela deusa do amor.

Mas não se pode agradar à todos, correto?

Ares, ao ver a angústia estampada no rosto de Hefesto, se levantou para encontrá-lo, quando chegou perto, levantou sua mão e traçou levemente um padrão em sua mandíbula marcada com cicatrizes e cinzas, — Você a encontrou?

— Não — Hefesto soltou um suspiro baixo de apreciação pelas carícias deixadas pelo deus, deleitando-se com sua atenção, pois fazia muito tempo desde seu último encontro com ele, seu trabalho como artesão de armas levava muito tempo, e nem sempre ele tinha descanso para encontrá-los livremente no templo de Afrodite, mas, felizmente, ele havia conseguido chegar a tempo para seu encontro.

Ares bufou levemente, — Ela está estranha ultimamente, ele a vem procurando com frequência e ontem eu o vi tentando forçar a entrada no templo dela.

Hefesto ficou tenso, pois nada de bom vinha dessas visitas do senhor dos céus, ele havia sido fruto dessas visitas indesejadas, e ele teve muita sorte que sua mãe não o culpava pela sua desgraça, mas ele odiava não poder protegê-la das garras de seu genitor.

O deus da guerra viu o estremecimento do mais novo e tentou tranquilizá-lo, — Ele não conseguiu entrar, as servas o impediram.

Afrodite se aproximou, suas mãos com um brilho rosáceo acariciando o peitoral descoberto de Hefesto, acalmando-o de seus pensamentos ansiosos e assassinos, eles não precisavam que Hefesto fosse ao templo dele para tirar satisfação.

Ainda não era é hora certa para isso, Afrodite pensou, Logo, o deus dos céus irá pagar por suas ações...

CONSUME  -  HOTD & PERCY JACKSONOnde histórias criam vida. Descubra agora