Gabe
Eu não sabia o que eu estava fazendo, ultimamente eu ando agindo por impulso. Matei aquele velho nojento e estive acompanhando Anice até sua casa nos últimos dias. Isso não era do meu feitio.
Agora mesmo estava em frente a sua porta.
-Deus, se for a minha hora, eu estou pronta -ouço ela dizer, a voz embargada.
Ela está bêbada. Eu sinto cheiro de álcool. Vinho barato e seu cheiro de melancia misturados.
Ouço uma risada.
-Estou falando sério -ela diz. -Completamente pronta.
Eu entro.
Ela estava deitada de barriga para baixo na cama. Usava uma regata e uma calcinha.
Merda.
Eu já havia visto ela com pijamas curtos enquanto dormia, mas agora parecia diferente. Ela soava diferente. Provavelmente por causa da embriaguez.
Anice vira bruscamente para trás. Um pouco assustada.
-Ei! -Ela grita e então sorri.
A garrafa de vinho em sua destra e a outra apoiada na cama.
-O que está fazendo? -Indago.
-Qual é a sua? Hein?
-Beber não vai fazer seus problemas sumirem -falo baixo.
-E o que você tem a ver com isso? Me deixa em paz, porra.
Cerro os punhos.
Ela levanta da cama sem coordenação nenhuma e desvio os olhos para suas pernas, por um breve momento. Anice caminha até mim e ergue a cabeça para me olhar nos olhos. Ela parece ser tão destemida para alguém tão frágil.
-Você...
Analiso seu rosto. Olhos pesados, franja desgrenhada e bochechas coradas. Olho por um instante imperceptível o vale de seus peitos e vejo uma cicatriz comprida ali. Volto a atenção para seus olhos e ela pisca lentamente.
-O que tem eu?
-Você está sendo um pé no saco, sabia? -Ela cutuca meu peito com o indicador.
Sorrio.
-Você é um assassino procurado e não posso falar nada, porque aí eu morro.
-Eu nunca disse que te mataria.
-Eu não confio em você.
-E nem deve.
-Jesus, o que você quer? Um prêmio por não me matar?
Ela mal conseguia se manter em pé mas conseguia formular cada palavra muito bem.
-Eu só...
O que está acontecendo comigo?
-Só o quê?
-Eu agi por impulso e você sofreu as consequências dos meus atos.
-Você se importa com isso?
Ela joga o corpo pra frente e se apoia em mim. O calor aconchegante da sua derme incendiando meu corpo. Eu conseguia sentir seus seios roçando no meu abdômen. Levanto o rosto, evitando contato visual com ela.
-Você não sabe de nada -digo ainda sem olhar para seu rosto.
Ela se afasta e dá um tapa na minha cara.
-Ah, meu Deus! -Ela leva uma das mãos a boca. -Me desculpa.
Não havia doído, e por incrível que pareça também não fiquei irritado. Eu mereci aquilo.
Nego com a cabeça, aquilo não importava. Eu preciso ir embora. Me viro determinado a sair.
-Ei -Anice me chama mas continuo.
Ouço seus passos apressados atrás de mim. Sinto sua mão em meu braço e Anice se põe a minha frente antes que eu alcançasse a porta, tentando impedir que eu passasse. Por um momento eu pensei em jogá-la por cima do meu ombro e levá-la para longe de toda aquela merda. Mas esse pensamento não durou mais que dois milésimos de segundo.
-Fica comigo -ela segura meus braços e tenta não derrubar a garrafa de vinho que agora estava em sua canhota. -Por favor.
Então ela fecha os olhos e desmaia, totalmente bêbada. Anice e a garrafa de vinho estavam prestes a cair no chão, mas eu as seguro antes que aconteça. Tenho contato direto com sua pele macia e quente.
Até desmaiada ela parecia preocupada. Mas tão linda.
-Linda pra cacete -sussurro.
Ah, Deus! Eu faria tantas coisas com ela. Coisas que eu não poderia nem pensar porque eram tão profanas e incertas.
Suspiro ainda analisando seu rosto cansado. Então me levanto segurando ela e sua garrafa de vinho barato. Coloco Anice na cama e o vinho na mesa de cabeceira. Cubro seu belo corpo com a coberta.
Apaguei as luzes, peguei uma cadeira e me sentei em frente a sua cama.
Continua...
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Artificial: O Início. | Dark Romance
RomanceTudo o que Anice acreditava pareceu irreal quando, num beco em Paris, sua vida passou diante seus olhos. Foi aí que, das sombras, surgiu alguém com olhos vermelhos e brilhantes disposto a descobrir mais sobre ela. Gabe, um cyborg criado para matar...