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 Culpada? — O agente do FBI soltou um longo suspiro e pegou a xícara de café. — A senhora entende que pode ser presa?

Vovó deu de ombros.

— Não seria a primeira vez que vou para o xilindró pelo bem maior.

— Pelo bem maior? — perguntou o homem, olhando-a com desconfiança.

— Ora, mas é claro. Passei alguns meses na prisão russa depois da Guerra Fria. Era espiã, e fui acusada de envenenar um oficial do governo. Mas nunca conseguiram provar. Passei um negocinho para a boca do cara durante um beijo ardente. — Ela pegou a bolsa de estampa de leopardo. — O senhor aceita uma pastilha de menta?

Camila Cabello

— Ótimo, vão escrever papa-anjo no meu túmulo — gritou Lauren, interrompendo minha interpretação de Katy Perry ao entrar no banheiro.

Eu estava tentando descontrair um pouco o clima, até que ela começou a ter um ataque de pânico no meio do cômodo. Fiquei me perguntando quanto tempo Lauren levaria para perceber que eu estava tomando banho, pelada, enquanto ela se balançava para a frente e para trás no meio do banheiro como se estivesse prestes a sofrer um colapso nervoso.

— Não acredito que tenho trinta anos e ainda não consigo tomar boas decisões!

Alguma coisa, acho que um sapato, foi arremessado na parede. Mais palavrões. Nossa, como ela ficava gostosa xingando.

— Por que eu não posso simplesmente ficar bêbada e mandar mensagens? Peraí. As pessoas ainda fazem isso? Filho da...

Mais sons de batida. Então, silêncio.

Para ser sincera, o silêncio me deixou mais nervosa do que o ataque. Com a gritaria eu podia lidar. Sou uma política, afinal de contas. Lido com pessoas que berram e reclamam todos os dias da vida. Mas o silêncio? Era minha kryptonita. A Super-Girl ia trombar na Lua se Lauren não conseguisse se recompor.

Os olhos dela eram mais verdes do que eu lembrava. Não que minha memória fosse lá essas coisas, e já haviam se passado dez anos desde a última vez que nos víramos. Dez anos, e eu ainda não conseguia tirar aqueles malditos olhos da cabeça. Por instinto, levei a mão à nuca e toquei a cicatriz.

Ela podia muito bem ser uma placa vermelha de Perigo. Da última vez que encontrara Lauren, eu tinha ido parar no hospital.

Então tivemos um caso de uma noite. Grande coisa. Isso acontecia o tempo todo.

Quer dizer, não comigo. Mas era comum. Tinha que ser, não é? De que outra forma Hollywood produziria tanto filme sobre casos de uma noite em Las Vegas e todos os Ashton Kutchers se apaixonando pelas Cameron Diazes?

Fechei os olhos para evitar as lembranças. Merda. Aquele vestido idiota foi minha perdição.

Tinha me lembrado do baile de formatura. Tinha me lembrado de seu perfume doce, e, depois de uns drinques, era tarde demais.

— Vou morrer. E aí vou arder no inferno — choramingou Lauren.

Bem, pelo menos ela voltara a falar.

Pigarreei e deixei de lado os arrependimentos passados, enterrando-os bem fundo no meu cérebro, onde ficavam as caixas cobertas de teias de aranha.

— Peraí. Por que você vai morrer?

O chuveiro deve ter abafado a pergunta, porque a maluca continuou falando.

— Melhor dizendo: primeiro eles vão gravar no meu túmulo Amava muito seus gatos, aquela papa-anjo piranha.

The Charllenger. Temp 2 (CAMREN)Onde histórias criam vida. Descubra agora