Fodas e Filmes Pornôs

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Acho engraçada a maneira como você sempre pode tirar algo de alguém e guardar para si mesmo

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Acho engraçada a maneira como você sempre pode tirar algo de alguém e guardar para si mesmo. Eles sempre tem algo a oferecer, nem que seja o mínimo: um olhar, um sorriso, uma saudação. E você não esquece disso, não adianta.

Gosto de ver acontecimentos, de tentar desvendar situações em estabelecimentos ou nas ruas. Sempre tem algo para pegar para si mesmo: uma frase, um pensamento... É assim.

Não gosto da maioria das pessoas, mas gosto de observá-las — de longe, sorrateiramente — e dá-las um olhar, um sorriso, um pensamento... É quase mútuo. É divertido. As pessoas quase sempre são decepcionantes, portanto, as observe e as interprete como quiser, então nunca se decepcionará. É como assistir a um filme ruim, sabendo que é um filme ruim. Se você ficar se torturando com esse pensamento, nunca vai desenredar um ângulo próprio ou, ao menos, achar diversão nisso tudo.

Às vezes, assisto filmes de baixo orçamento com meu irmão (assistimos filmes com muita frequência), e lhe digo: "Não saia da caixa, fique dentro dela, então o filme e nosso tempo valerão a pena."

Não há nada para se lamentar sobre as pessoas se você as entender como bem quiser, tal como interpretar um quadro ou uma canção. Mas quando você as entende da maneira como elas querem ser entendidas, você se fode. É quando eu fico amargurada, as julgando, as menosprezando, falando: "Porra, que inúteis!"

Tenho esse joguinho comigo mesma, essa troca de personalidades. Fodo as pessoas e deixo-me ser fodida ou as assisto como um deplorável filme pornô de baixo orçamento. E gosto disso. Quando você está tão cheio de si, tem que se encher das pessoas, se rebaixar ao nível delas, não julga-las, achar divertido, se divertir. E aí você consegue viver de bem consigo mesmo de vez em quando.

Sabe, estava me lembrando dessa professora de língua portuguesa que tive quando era mais jovem. Ela não acreditou em meu potencial, me interpretou errado, como quis. Escrevi o capítulo de uma história que pretendia começar naquela época — no entanto não comecei — e apresentei a ela. Foi por livre espontânea vontade, queria me gabar um pouco. E ela não acreditou em minha escrita, disse que eu havia copiado de algum lugar e que não tinha sido eu a escrever. Ela se negou friamente. Fiquei com raiva disso.

Você percebe? Ela me observou no meu momento de fraqueza, quando eu estava me camuflando entre os fodidos, aí me interpretou sem espírito, originalidade, paixão. Não sei quem foi, de nós duas, a mais estúpida.

Você pode tentar o quanto quiser, não vai conseguir ganhar a credibilidade das pessoas em um instante. Você tem que mostrar isso desde o primeiro momento, a primeira impressão. Então, elas decidem se gostam de você ou não. Mas, ainda assim, nem sempre vão enxergar o seu valor. Vão duvidar de você, vão falar que o que você faz é lixo e realmente é. É tudo uma questão de perspectiva: você ouve uma música boa e ela não é boa para outra pessoa e vice e versa. Quem pode dizer então o que é bom, o que tem valor? Resumidamente, gosto é que nem bunda, cada um tem a sua. Então pare de torturar o Tempo querendo mostrar seu valor inútil. As pessoas não se importam, não sempre. Fique quieto, para só então, de vez em quando e em um momento propício, mostrar algo que saiba fazer. Aí, você pode se gabar por surpreender alguém — seja a reação boa ou negativa — de tempos em tempos.

Acho que tenho meu valor, estaria mentindo se dissesse que não acho que tenho. Mas não tento mostrar isso o tempo todo, não. Não tento me exibir para as pessoas nas ruas. Algumas pessoas querem tanto ser vistas, que passam despercebidas. Quanto mais tentam chamar a atenção, mais pessoas são empurradas e o número se torna maior. Basta olhar ao redor: estão todas encantadas pela mesma moda, o mesmo penteado, o mesmo estilo musical, a mesma causa. Não gostam de sí mesmos, gostam uns dos outros e logo, não gostam de nada. Nem uma letra musical plausível, um instrumento que expõe suas almas a si próprios... Deve ser isso! Devem ficar apavoradas com a ideia de olharem para si mesmos. Ser algo que não se é, é mais fácil e divertido que ser algo que se é...

Acho que o que as torna assim é a falta de interesse no novo. Quero dizer, me parece engraçado que o humano queira o novo, novo e novo e ao mesmo tempo continuam iguais. Não procuram outras coisas, não têm criatividade, são preguiçosos, esperam que as coisas cheguem até eles. Não tentam fazer algo inovador por conta própria, colocar as mãos em outras coisas, provar um sabor diferente. Acho que é por isso que há tantas pessoas tristes e depressivas por aí: elas não procuram novidades para se sorrirem num domingo à tarde. Estão todos em uma sorveteria, provando o mesmo sabor e o de sempre, a cada lambida mais convencidos de que este é o seu sabor favorito!

O tédio está me consumindo. Ontem foi domingo, não sorri para tantos motivos à tarde. Sinto falta de fazer minhas coisas, de sentar nesta mesa e editar algo bom, fazer tac tac no teclado com frequência. O capitalismo está me consumindo. E daí? Há dez anos atrás tirávamos fotos com câmeras minúsculas, hoje em dia é possível fotografar a Lua com uma caixa brilhante que armazena sua vida inteira. E nos acostumamos com isso. A gente sempre arruma uma forma de se encaixar.

Contudo, preciso ir atrás de algo novo. Devo usar o meu exemplo — outra experiência. Sair daqui de dentro, arranjar este emprego logo, viver a vida como ela poderia ser e não apenas como me é dada... Um passeio na sorveteria requer tempo e dinheiro, no entanto.

Mas afinal, o tempo tem o dinheiro ou o dinheiro tem o tempo?

Não sei, não tenho o dinheiro para saber. Quem sabe, daqui a um tempo eu compre o tempo e descubra...

Le BordOnde histórias criam vida. Descubra agora