Sorte e Azar

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Hoje é 4 de dezembro de 2022

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Hoje é 4 de dezembro de 2022. Li um pouco de Bukowski, O Velho Safado. Acabei de fechar seu livro, seu último livro publicado. Me senti um pouco triste e pesada com suas palavras, mas logo me arrependi disso: ele não gostaria que sentissem pena dele. Pelo contrário, em algumas palavras suas ele ressalta se achar um fracassado. Não acredito nisso, mas ele diria que só o admiro porque ele já se foi e algum estúpido o trouxe de volta. Ele odiaria saber disso. Por um lado, fico feliz. O cara deve estar em paz agora. Longe de pessoas, longe de pessoas vazias que tanto odiamos. Você ganhou a aposta, finalmente! 1 BILHÃO DE DÓLARES PARA VIVER A SUA MORTE COMO QUISER!!!

Quem sabe eu me inspire um pouco naquele velho. Em sua escrita, talvez. Me ajuda a seguir. Como seus poemas e nove gatos fizeram por ele. Quem sabe, talvez, eu roube um pouco de suas palavras, mas é apenas para acrescentar o que falta no meu vocabulário jovem. E daí? Ele também roubou palavras de alguém, que roubou palavras de alguém e assim por diante. Não posso fugir disso; ele parece o único homem — depois de meu irmão — que precisamente entende o que quero dizer, o que sinto em relação ao mundo. Talvez diga isso porque ainda não li todos os livros do mundo. Graças a Deus, morrerei antes disso. Embora seja inevitável, odiaria ter mais ideias e certezas na cabeça, espero que isso seja ser ignorante de uma maneira boa. Quero dizer, já me imaginei sentada em uma cadeira de praia, na Lua, ouvindo á minha música favorita e em como nada mais que eu fizesse em minha vida fosse ser tão extraordinário quanto isso. Por isso morro de medo de acontecer. Seria morte na certa. A Terra já é sem graça demais para que eu zere a vida desse jeito. Ainda quero algumas surpresas.

Talvez eu apague tudo isto, talvez não publique. Talvez não publique nem um livro durante a vida, como planejo publicar este e mais alguns. Ainda sou jovem demais, nem sei se acordarei amanhã — espero que sim. Talvez daqui um tempo eu acredite que era só mais uma criança noturna, estúpida e vazia que escrevia para preencher o vazio, e ria desta coisa toda, me achando uma criança tola. Este é um dos meus maiores medos. Me assusta, me atormenta, ainda como pensar na possibilidade de acordar e não ser mais eu. "Rebelde", me vejo dizendo em uma realidade alternativa. Espero que o destino não me seduza até isto, seria o cúmulo! A maldição que eu mais abominaria, porque não saberia que estou dentro dela.

De qualquer forma, Bukowski me riria e diria: "Não espere tanto da vida, garota." Francamente, este é o meu maior erro. Gosto de esperar algo da vida, algo eufórico, engraçado e que me deixe só um pouco mais satisfeita. Talvez porque ainda não envelheci. Todo mundo passa por esta fase, acredito, mesmo que já saibam de uma coisa: alguns tem sorte, outros não. Nunca fui muito sortuda, mas, felizmente, não sou pessimista quanto à sorte.

Mês passado estava para entregar o apartamento, "Você tem até dia 30 de novembro para sair daí", eles disseram. Ficarei até 5 de janeiro. Verei um pouco mais dos pisca-piscas dos outros prédios e os fogos de artifício no Ano Novo. Talvez seja a sorte me contornando.

Paciência, paciência.

Estou sentada no sofá ao lado da varanda. A sacada está aberta. Gosto daqui. Tem uma vista boa que nunca tive antes. Dá para ver os prédios, as rodovias, grande parte do céu e — a melhor parte — as longas montanhas que contornam todo o resto. Não sei se prefiro à noite, quando as luzes da cidade estão acesas ou no crepúsculo durante a manhã, quando posso ter um pouco dos dois.

Sou exigente demais, acho que tenho minha resposta.

Caramba, realmente gostei daqui! Na próxima casa que morarei, mal posso ver o céu. É uma pena que tenha que ir embora.

Estou olhando para meu gato dormindo agora. Sei que o velho rebelde também gostava de fazer isso. Ele está doente, gripado. Pobre gatinho. Imagino comigo como deve ser ser um gato doente. Talvez estejam doentes o tempo todo, também cansados das pessoas e do mundo. São elegantes e arrogantes, muito melhores que os cachorros. Cheguei à essa conclusão há pouco tempo, quando me perguntaram o que eu gostava mais. Prefiro gatos, são positivamente metidos. Pelo menos meu gato vira a barriga quando lhe ofereço carinho. Interesseiro. E quem não é?

São 20h25. Não sei o que fazer. Não sei se fumo, se abro a lata de cerveja que está na geladeira ou se espero mamãe voltar para comer seus pastéis. Quem sabe eu ria um pouco mais tarde, ligando para alguns amigos. Não gosto de atender ligações, mas as realizo com frequência. Todos nós somos gatos interesseiros procurando por leite, certo?

Certo.

Ainda não me decidi, mas vou indo. Por enquanto. Não sei quando voltarei a escrever nisto novamente, faz um tempo desde a última vez. Me desculpe, não sou uma boa escritora. Que seja. Volto quando puder.

Le BordOnde histórias criam vida. Descubra agora