Capítulo 20

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Desliguei a chamada, voltei para o banheiro e terminei o banho às pressas.

Pensei em muitas coisas ruins. Muitas coisas que Emily pudesse fazer para abreviar a sua vida. Não saber como ela estava e o que tinha lhe causado tanto mal estava me deixando ainda mais ansioso e eufórico. Eu tinha um senso de urgência em encontrá-la o quanto antes.

Vesti uma roupa, calcei um par de tênis, peguei as chaves da moto no suporte próximo a porta, tranquei a porta e desci as escadas sem olhar para trás.

— Heitor. – a vizinha da frente saiu na porta me chamando.

— Agora não dona Elda! – gritei sem dar atenção à mulher.

Minha moto era um modelo potente e novo. Eu tinha acabado de comprar e ainda não tinha testado os limites daquela belezinha na estrada. Esse foi o dia em que eu quase voei (de tão rápido que estava pilotando a moto) e diminui o tempo de viagem de Fortaleza ao Trairi.

Durante alguns minutos eu apenas olhei pra frente e acelerei. Eu estava focado em chegar o mais rápido possível à cidade. Parei a moto em frente a um banco e disquei o número que Emily usou para me ligar.

— Cadê você?

— Na padaria em frente a praça.

— Não sai daí.

Desliguei e fui ao encontro da minha irmã.

Entrei pela porta da frente e de cara vi Emily sentada de costas para a porta no fundo da padaria.

Eu a conheci mais arrumada. Mesmo com ela de costas, já dava pra ver que estava mal pois o seu cabelo estava desarrumado e enrolado de um jeito que eu ainda não tinha visto.

— Oi. – sentei na cadeia em frente a ela.

— Oi. – ela respondeu com uma expressão abatida.

— O que aconteceu? Por que tudo isso?

— Espero que não me julgue. Tudo que eu não estou precisando no momento é disso.

— Ok. Eu vim porque fiquei preocupado, eu nem sabia que tu tinha o meu contato.

— Pois é. Papai me deu.

— Emily. – falei sério encarando seu rosto abatido — Eu sai de Fortaleza e faltei ao trabalho pra vir até aqui te socorrer. Agora eu tô esperando tu me dizer o que rolou? Foi o Anastácio?

Ela fez que não com a cabeça.

— Você foi pra casa do seu namorado?

Ela fez que sim com a cabeça.

— E cadê ele?

Ela deu de ombros.

— Essa comunicação pode ficar melhor. – puxei o celular do bolso — Se eu não puder resolver isso, vou chamar o Heleno.

— Não! – ela pareceu acordar na mesma hora — O papai não pode saber. – tentou tirar o celular da minha mão.

— Então me conta porque eu não vou te deixar sair dessa cidade sem resolver esse B.O.

— Eu vou te contar, mas tu tem que prometer que não vai fazer nada.

— Depende do que você vai me dizer.

— Heitor, promete que você não vai machucar ninguém. – ela me encarou — Nada de torturas e nem de intimidação e...

— Já vi que você tá me tirando como otário. Na verdade tu me tirou como otário. Mais uma vez. – levantei da mesa — Eu vim aqui às pressas que eu achava que você corria perigo. Eu pensei que pudesse estar precisando de ajuda e eu vim disposto a colocar o bandido que te causou mal no lugar dele, mas tô me ligando que o que pode ter acontecido aqui foi só uma briguinha de namorados que ainda não sabem resolver seus problemas como gente grande.

— O que você sabe de briguinhas? Quem tu pensa que é pra falar comigo assim? Eu não te pedi nada, tu veio porque tu quis.

— Mal agradecida. Isso que tu é. – peguei meus capacetes e fui saindo da padaria.

— Heitor! – ela veio atrás me chamando — Heitor não me faz ficar te chamando que eu vou gritar.

— Foda-se.

— Heitor! – ela continuou me chamando sem que eu parasse para olhar para trás.

Eu subi na moto, coloquei o capacete e coloquei a chave na ignição.

— Pra onde tu tá indo? – ela perguntou.

— Não me liga mais da próxima vez que o seu namorado fizer algo que tu não gostou, valeu? Eu tenho responsabilidade e tenho uma vida que estava fluindo muito bem antes de tu aparecer. – respirei alto — Garota mimada da porra.

— O Breno vacilou comigo e não foi coisa de namorados. – ela disse logo de uma vez — Ele gravou a gente transando e mandou no grupinho dos amigos dele e agora eu posso estar nos celulares de todo mundo da cidade.

— Porra, Emily. – desliguei a moto e fiquei parado olhando pra ela — Como assim que tu deixa um mané te filmar, garota? Pensei que tu fosse mais esperta.

— Eu também pensei, mas quando a gente tá apaixonada faz coisas das quais nos arrependemos depois. – seus olhos se encheram de lágrimas novamente — Eu só quero ir embora daqui e não quero que o meu pai saiba porque se ele não matar o Breno pode acabar morrendo de algo no coração.

— Eu não sabia que o Heleno tinha problemas de coração.

— Ele não conta pra ninguém, mas a gente sabe que ele não tá cem por cento.

— Sobe aí na moto. – entreguei o capacete reserva a ela.

Emily colocou o capacete e subiu na garupa.

— Onde esse cara mora?

— Você prometeu que não ia fazer nada.

— Eu não vou matar ele, pode ficar tranquila.

— Mas ele tá em casa e ele mora com a mãe dele.

— Tinha que ser um moleque mesmo. Ainda vive com a mamãezinha... – dei aquele sorriso bem sarcástico — Se tu não me disse onde ele mora, eu vou na delegacia contar essa história e (de quebra), descubro onde o cara mora e todo mundo vai saber dele e de você. – jogue a verde porque eu sabia que ela pegaria.

— Você não seria capaz.

— Eu não sei o que ele realmente tá fazendo e se ele tiver fazendo isso com garotas menores de idade? Como um homem pago pra fazer a lei acontecer, eu tenho que verificar essa história bem de perto.

— Tá certo. – Emily concordou porque no fundo sabia que não tinha escolha.

— Ótimo. – girei a chave na ignição — Segura. – eu disse.

Emily passou seus braços em volta da minha cintura e foi me dando as coordenadas do caminho pelo qual eu deveria seguir. 

Heitor , Amor e ÓdioOnde histórias criam vida. Descubra agora