04 - Destinados: Não mais sozinha

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Pisco algumas vezes, levando minhas mãos trêmulas até os meus olhos para esfregá-los com certa força. Tento entender se a visão é real ou ainda estou tento pesadelos vívidos. Me sinto tentada a beliscar minha própria pele para a dor me trazer de volta à realidade. Porém, um grito agudo age mais rápido que eu, me forçando a focar no garoto que está sendo levitado na minha frente á alguns metros de distância do chão por uma espécie de tentáculo gigante e negro enroscado em seu pescoço. A cena se torna mais aterrorizante ainda quando noto as pernas do garoto balançando no ar e sua expressão de desespero, seu abdômen subia e descia em busca de ar. Notei que sua mandíbula abria e fechava, talvez tentando pronúnciar um pedido de socorro que se continha preso em sua garganta pela pressão dos tentáculos em seu pescoço. Disparo meu olhar por todo o redor e vejo que o mesmo acontece com os meus demais agressores de minutos atrás.

Ainda em transe, forço meus olhos a seguirem a trilha de tentáculos que me levam até um garotinho não muito maior que eu, seus cabelos eram negros com pontas de tonalidade branca e sua pele era tão palida quanto a minha. Noto como está mal vestido e completamente sujo. Sua expressão de apatia enquanto os outros garotos imploram por sua vida me dá calafrios. Quanta frieza, ele sem dúvidas não está nos seus melhores dias. O menino não parece ter a intenção de parar, e se eu não intervir, todos serão cadáveres em poucos minutos.

Me ponho face a face com o garoto e aceno com as duas mãos na frente do seu rosto.

- Ei! Pare com isso, vai acabar matando eles. Você por acaso é um tolo? Não vai acabar bem se você sair mostrando sua habilidade por aí! - digo em um tom de voz um pouco vacilante.

Tento permanecer calma para não assustá-lo, mas sinto um arrepio na espinha ao ver a falta de emoção do mesmo, que ignora minhas palavras. Sua áurea e esse poder são assustadores, eu nunca havia visto nada parecido antes.

Meu corpo treme involuntariamente e tenho que me esforçar para não sair correndo. Como última alternativa, ponho minhas mãos sobre os ombros do garoto para que o mesmo me note, e assim que o toco ele me encara como se estivesse ofendido pela minha aproximação. Ouço o baque dos rapazes despencando em direção ao chão, me fazendo olhar para trás para verificar se estão vivos. Parecem estar atordoados com a experiência de quase morte, de modo que o medo foi o gatilho que os fez recuperar seus sentidos e saíssem correndo da nossa presença.

Essa pequena distração foi o suficiente para o meu "vilão salvador" desaparecer tão repentinamente quanto surgiu. Olho ao redor tentando achar algum rastro dele. Ele parecia tão perdido e sozinho quanto eu, apesar de tudo, aquele menino me defendeu, provavelmente este ser de áurea abominável, seja a primeira pessoas a fazer isso.

Após alguns poucos segundos consigo vê-lo entrando uma rua estreita, o que me fez agradecer mentalmente por tudo estar vazio nesse horário. Apresso meus passos para não perdê-lo de vista. Ele parece me notar, porém não se vira e apenas continua sua caminhada, me ignorando completamente. Quando me aproximo o suficiente, tento chamar sua atenção mais uma vez. E de novo aquele arrepio me percorre, não sei se é por sua presença ou é a aparência desse beco imundo rodeado de lixos e ratos.

- Ei! Espere, nós precisamos conversar! Ao menos me deixe te agradecer! - Grito na esperança que ele atenda meu pedido.

Novamente sou ignorada. Talvez eu devesse desistir e voltar para o meu abrigo, mas infelizmente ou felizmente uma parte de mim se nega a desistir. É quase como se eu e esse garoto estivéssemos destinados a nos conhecer, eu tenho plena certeza disso.

Distraída com tais pensamentos, quase não noto o baque à minha frente, e ali está ele, caído sobre o chão. O quê? Será se algo o atingiu? Ele estava de pé agora a pouco.

Corro até o mesmo e me agacho ao seu lado, entrando em desespero ao notar que ele não se mexe. Checo seus pulsos e consigo sentir batimentos cardíacos, será se ele desmaiou de exaustão? Me pergunto enquanto encaro seu rosto, que esboça um semblante de dor. Não sei o que fazer, ele é um desconhecido que embora tenha me salvado agora a pouco, quase assassinou um grupo adolescentes.

Bem, eu sou tão cruel quanto ele, não deveria estar julgando quem salvou minha vida, não posso relutar agora, devo acolher esse menino, afinal, eu tenho uma dívida com ele.














Bem, eu sou tão cruel quanto ele, não deveria estar julgando quem salvou minha vida, não posso relutar agora, devo acolher esse menino, afinal, eu tenho uma dívida com ele

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⏰ Última atualização: May 20, 2023 ⏰

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Quando o vazio de duas almas emerge (Akutagawa × leitora)Onde histórias criam vida. Descubra agora