Profecia Autorrealizável

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Profecia.
substantivo feminino
1.
predição do futuro, que se crê de inspiração divina; vaticínio.
"as p. do Antigo Testamento"
2.
predição feita por indivíduo que pretende saber ler o futuro; previsão.
"esse adivinho faz p. assustadoras"

Autorrealização.
Substantivo feminino

Ação de autorrealizar, de dar oportunidade para que suas capacidades e habilidades tenham uma existência real, palpável, de maneira a sair do âmbito da imaginação, do pensamento: é visível a autorrealização do cantor no show.

Profecia autorrealizável.

uma definição (inicialmente) falsa da situação, a qual evocará um novo comportamento fazendo com que a definição inicialmente falsa se torne verdadeira.
Quando o indivíduo afirma tanto algo para si mesmo que acaba acreditando na sua própria mentira.

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Havia muitas coisas que Kyle Broflovski amava e odiava, ele poderia listar todas elas mentalmente todo santo dia, era bem empírico, bem sistemático.

Filosofia. Amava, principalmente os livros malucos do Nietzsche, gostava das aulas e era umas das únicas matérias que tinham esquemas como; mapas mentais, palavras grifadas com canetinhas coloridas e alguns desenhos como enfeite. Ele tinha a nota mais alta da turma nessa matéria (por mais que ao ser ver, era besteira, filosofia é tão fácil quanto respirar).

História. Amava, era fascinado pela matéria no geral, claro que tinha preferências, gostava de aprender mais do que qualquer outra coisa o conteúdo dos primeiros povos.

O final horrível de The Good Place. Odiava, puta que pariu, que fim horrível, como podia ter esperado tanto tempo para uma nova temporada com um final tosco daqueles?.

Eric Cartman. Odiava, mas era amigo daquele bundão.

O novo Stan Marsh. Odiava, dizia isso para si mesmo todo santo dia. ele se odiava, odiava seu corpo e sua voz, odiava como seus cachos ruivos eram volumosos demais, odiava como seus olhos verdes poderiam o entregar quando ele via Stan e a pupila dilatava (acredite, odiava quando isso acontecia também), odiava como sua voz falhava por vezes, porventura, mesmo tendo uma autoestima relativamente baixa, tinha um ego alto, eu sou um lixo, mas sou um lixo melhor que você.

O antigo Stan Marsh. Amava, amava tanto que doía porque, sentia falta do seu SBF, ele havia mudado, agora ignorava Kyle pelos corredores da escola, saia com pessoas populares e namorava com Wendy -essa que ele terminava e voltava toda semana-, ele era diferente agora, mas o antigo Marsh, nossa... o coração do ruivo acelerava mais e mais quando via ele sorrir.

Ele respira fundo, vendo Wendy beijar Stan loucamente no corredor, era uma cena rotineira, por vezes cansativa, mas ainda sim bastante cotidiana, Kyle podia até escrever uma crônica altamente insuportável desse fato.

Stan o ignora, de novo, e aquilo o fez ficar triste, mas não demonstrou, apenas passou por eles como se sentisse indiferente.

O dia passava rápido sem o moreno, era como se o universo quisesse o poupar da dor que era ver Stan com todos menos com ele, e era assim a semana inteira.

Kyle encosta a cabeça no travesseiro assim que chega em casa, sua luminária fraquinha estava acesa, ele deixava a música baixa tocar enquanto ele encarava o teto, a mente do ruivo parecia até girar de tanto que ele pensava, sentia o coração bater forte dentro do peito, sentia uma agonia formigando na garganta.

Ele respira fundo, lembrando da sensação pesada das primeiras semanas sendo ignorado por Stan, sendo inserido em uma rotina que nunca quis participar, durante a semana era ignorado e então em dias contados ele voltava como se nunca tivesse ido, lembrava de se encarar no espelho do banheiro e então olhar para o lado, esperando ver Stan encostado com um sorriso mínimo, mas não, estava um espaço vazio lá, no início era como se aquilo fosse o matar.

As vezes parecia que ia o corroer.

Kyle fecha os olhos tentando adormecer, mas toda vez que fazia esse ato, Stan aparecia em sua mente, aquilo irritava. Odiava Stan, o odiava tanto que queria bater naquele rosto lindo, odiava Stan, odiava, odiava muito. Eu odeio aquele filho da puta, o ruivo pensava, ou melhor, mentia.

Um som alto o desperta de seu sono, ele abre os olhos ainda sonolento e pega seu celular encima da mesinha, o ruivo encara o nome na tela com o coração batendo forte, sentia seu estômago revirando dentro dele, amava a sensação, mas odiava quem causava ela.

Isso... ele odiava... ele odiava, odiava, odiava, odiava, odiava, odiava, odiava, odiava, odiava....

O Broflovski encara o relógio na tela, 3:00 da manhã, já havia sacado tudo através do horário, "você não vai atender" sua mente comanda em tom autoritário, não queria ser idiota, o Marsh o ignorava a semana toda e o ligava com as mesmas falas de sempre, "eu não vou atender, eu odeio ele" Kyle pensa.

Havia muitas coisas que Kyle amava e odiava, ele não se amava Porque ele se odiava, odiava seu corpo e sua voz, mas odiava MAIS AINDA o fato de ceder tão facilmente quando se tratava de Stan. Ele atendeu.

—alô? Kyle? — a voz de Stan do outro lado da linha o fez querer sorrir, mas ele não se permitiu isso, se amaria no negativo se fizesse.

–Oi – respondeu seco.

—Nooooossa, sua voz tá tão friaaaa – Stan responde meio bêbado, sua voz estava estranha, mas Kyle não ligava.

—não tô – ele responde.

—Tá sim – Kyle suspira, eram 3 da manhã, ele realmente tentaria convencer Stan a mudar de ideia sobre isso.

—te deixei algumas mensagens, mas você não respondia aí eu te liguei — Stan diz do outro lado da linha. Kyle suspira. De novo.

—Eu tava dormindo — o ruivo retruca e então morde a boca – Stan... porque tu só me liga quando está bêbado? – ele recebe como resposta, um silêncio de 5 minutos inteiros.

Ele odiava Stan...
Odiava
Odiava
Odiava....

—Eu pensei que não se incomodaria – Marsh por fim responde, deixando Kyle meio revoltado, mas era meio que culpa dele, acostumou Stan á isso.

E se odiava também, mas odiava ainda mais o Marsh.

—Hum – o ruivo resmunga — Wendy terminou de novo? — o cacheado pergunta curioso.

–não – e a resposta o deixou confuso – na verdade, foi tipo isso – isso era mais estranho ainda, Kyle não entendia nada.

Odiava Stan...
Essa era sua profecia autorrealizável.

ONLY CALL ME WHEN YOU'RE HIGHOnde histórias criam vida. Descubra agora