Pela primeira vez, percebi que entrar naquele lugar era como voltar pra casa. Eu talvez não fosse viver no hotel pra sempre. Na verdade, tinha acabado de almoçar naquela tarde no lugar onde talvez eu morreria um dia. Ainda assim... Ali parecia um bom lugar pra pendurar minha espada.
Falando nela... Tirei o cordão do pescoço, tomando cuidado pra não acordar Jacques, coloquei o pingente de runa na mesa de centro. Ele zumbiu alegremente no sono. Provavelmente sonhando com contracorrente, a espada de Percy, e todas as outras armas que amou. Como eu ia encontrar o deus Bragi e pedir que ele escrevesse um épico sobre Jacques, eu não tinha ideia. Mas isso era problema pra outro dia.
Eu havia acabado de tirar a camisa grudenta encharcada de chocolate quando uma voz atrás de mim disse:
─ Talvez seja melhor fechar a porta antes de começar a trocar de roupa.
Eu me virei
Alex estava encarando da moldura da porta, os braços cruzados sobre o colete de cota e malha, os óculos na ponta do nariz. Ele balançou a cabeça sem acreditar.
─ Você perdeu uma competição de luta na lama?
─ Hã ─ Eu olhei pra baixo ─ É chocolate
─ Certo. Não vou perguntar.
─ Como foi o Eid?
Alex deu de ombros.
─ Foi bom, acho. Muita gente feliz comemorando. Muita comida e muita música. Parentes se abraçando. Não é bem o meu estilo.
─ Certo
─ Deixei Sam e Amir em boa companhia com as famílias. Eles pareciam... Felizes não é o suficiente. Satisfeitos? Eufóricos?
─ Apaixonados? ─ Sugeri ─ Com a cabeça nas nuvens?
Alex me encarou.
─ É. Serve.
Pinga. Pinga. Chocolate escorreu dos meus dedos de um jeito totalmente descarado e atraente.
─ Enfim ─ disse Alex ─ Eu estava pensando no que você disse.
Senti um nó na garganta. Eu me perguntei se tinha alergia a chocolate e estava morrendo de um jeito novo e interessante.
─ No que eu disse? ─ Balbuciei.
─ Sobre a mansão ─ Esclareceu ele ─ Do que achou que eu estava falando?
─ Não, claro. A mansão. Aham.
─ Eu acho que topo ─ Disse Alex ─ Quando começamos?
─ Ah, legal! Amanhã podemos fazer a visita inicial. Vou pegar as chaves. Depois, vamos esperar os advogados fazerem o trabalho deles. Talvez demore umas duas semanas...
─ Perfeito. Agora vai tomar um banho. Você está nojento. Vejo você no café da manhã.
─ Certo
Ele se virou pra sair, mas na hora hesitou.
─ Mais uma coisa.
Alex andou até mim.
─ Também andei pensando na sua declaração de amor eterno ou sei lá.
─ Eu não... Não foi...
Ele colocou as mãos na lateral do meu rosto cheio de chocolate e me beijou.
Eu tive que me perguntar: Era possível se dissolver em chocolate em um nível molecular e virar uma poça no tapete? Porque foi assim que eu me senti. Tenho quase certeza de que Valhava teve que me ressuscitar varias vezes durante aquele beijo. Senão, não sei como ainda estava inteiro quando Alex finalmente se afastou.
Ele me observou de forma crítica, o olho castanho e mel me avaliando. Alex estava com um bigode e um cavanhaque de chocolate agora. Havia uma mancha marrom na frente do colete.
Vou ser sincero. Uma parte pequena do meu cérebro pensou: Alex e homem agora. Acabei de ser beijado por um cara. Oque eu acho disso?
O resto do meu cérebro respondeu: Eu fui beijado por Alex Fierro e isso é incrível.
Na verdade, talvez eu tivesse feito uma coisa tipicamente constrangedora e idiota, como repetir a tal declaração de amor eterno. Mas Alex me poupou.
─ Ah ─ Ele deu de ombros ─ Vou continuar pensando nesse assunto. Depois te conto. Enquanto isso, vai mesmo tomar aquele banho.
Ele saiu, assoviando a melodia que podia ser a música do Franck Sinatra do elevador. "Fly Me to The Moon"
Sou ótimo em seguir ordens, fui tomar banho.
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➥ Comics de Magnus Chase
Humormemes e outras porcarias de Magnus Chase pra curar a depressão de vocês 🤠