A Calma

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Muitos trechos aqui foram retirados do livro 'A morte de Ivan Ilitch' do Lev Tolstói! (Ótimo livro aliais, e bem curto, tem só 101 páginas)

Enfim, foi ótimo poder desabafar um pouco enquanto escrevia esse capítulo. Foi escrito ás pressas ent se tiver alguns erros me perdoem.

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Kyojuro nunca soube lidar com a morte.
Talvez isso seja de família, talvez não.
Mas se lembra de que quando sua mãe se foi ele entrou em depressão profunda, talvez, se não tivesse tomado cuidado, teria acabado como o próprio pai acabou - bêbado, escondendo as angústias em uma bela garrafa de vinho.
Mas a morte o perseguia.
Cada canto que ía era seguido por ela.
Talvez não contra ele, mas contra os que ele amava.
Giyuu descobriu isso da pior forma.
Giyuu descobriu que, no final das contas, a morte que ele tanto desejou não foi tão boa.

Ah, talvez estejamos alguns passos adiantados, já que tecnicamente falando Tomioka estava vivo, mas..
Estava mesmo?
Rengoku conseguia ver que ele lutava dia e noite contra o inevitável abraço frio mas caloroso, aterrorizante mas acalmante, da morte.
Ah, lutava como um condenato à morte luta contra o carrasco, lutava como um cervo luta contra um tigre, lutava como...
Lutava sabendo que não tinha escapatória.
Lutava sabendo que não tinha salvação, nem divina, nem humana.

Giyuu via que estava morrendo e desesperava-se.
No fundo do coração sabia que estava indo embora e, longe de acostumar-se com a ideia, simplesmente não conseguia entendê-la.
O exemplo de um silogismo que aprenderá quando menor, "Caio é um homem, os homens são mortais, logo Caio é mortal", pareceu a vida toda muito lógico e natural se aplicado a Caio, mas certamente não quando aplicado a ele próprio. Que Caio, ser abstrato, fosse mortal estava absolutamente correto, mas ele não era Caio, nem um ser abstrato.
Fora o pequeno 'Yuu, com mãe e pai e Tsutako.
Por acaso era Caio quem beijava a mão de Nezuko quando ela ficava triste?
E escutava o suave barulho das saias que Tanjiro insistia em usar junto com as garotas da mansão borbolera?
Foi por acaso Caio quem lidou com o peso da morte de seu (ex) melhor amigo e família?
Foi Caio quem se apaixonou?
Foi Caio quem batalhou até sua última gota de sangue?

E Caio certamente era mortal e era mais do que justo que morresse, mas ele, Giyuu Tomioka, com todos os seus pensamentos e emoções, é completamente diferente.

Pelas poucas vezes que tinha o privilégio de manter-se acordado por mais de dez minutos pensava e pensava e pensava e pensava e pensava sobre sua morte.
Ah, não importa o quanto pense, não conseguia lidar com isso e tentava desviar seus mórbidos e desanimados pensamento e substituí-los por outros mais... Animados, mais saudáveis, mas a ideia - e não apenas a ideia, mas a realidade que se apresentava - voltava a todo momento para enfrentá-lo.

E ele buscava outros pensamentos para pôr no lugar desses, um depois do outro, na esperança de encontrar refúgio. Tentou voltar a antigos pensamentos que no passado o haviam protegido contra a ideia da morte. Mas, estranhamente, tudo aquilo que antes costumava encobrir, obscurecer e destruir o sentimento de morte já não fazia mais o mesmo efeito.

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Rengoku passou a dormir cada vez menos horas por noites - isso quando dormia, já que na maior parte do tempo permanecia ao lado da cama de Giyuu.

Era como se sentisse a dor que Giyuu sentia.
Ah, que péssimo, que péssimo!

Chorava todas noites
Chorava por sua solidão
Chorava por seu namorado
Chorava pela crueldade dos seres repugnantes chamados de Onis.
Chorava pela crueldade dos tão ditos deuses
Chorava pela ausência dos mesmos deuses.
Ah, chorava e chorava.
Chorava e suspirava
Suspirava.
Suspirava tal qual um idoso cansado do trabalho, mas obrigado à continuar pois se não morrerá.
Suspirava sempre que olhava para o rosto, que parecia em tanta paz, de seu namorado.

Sentia a dor de seu namorado.
Uma dor horrível em seu peito, como fisgadas, como fisgadas de um suposto ser superior - que de onisciente não tinha nada, pois, afinal, se tão ciente ele era, porque permitiria tanto sofrimento? - que queria puxa-lo para cima, para com ele.

Suspirava.

Iria se distrair, com trabalho, com trabalho, com trabalho.
Com oque mais?
Não conseguia ler, sua visão estava embaçada pelas lágrimas que insistiam em surgir ao ficar sozinho com seus pensamentos.
Não conseguia ficar com seu irmão, - que péssimo, que péssimo! - pois esse estava tão triste quanto ele.

Mas, abruptamente, no meio disso tudo, a dor permanecia ao seu lado, não importando a etapa do trabalho em que se encontrasse, surgia e impunha-se. Kyojuro, assim que tomava consciência dela, tentava desviar o pensamento, mas ela resistia, teimosa.
A dor chegava e postava-se frente a ele, olhando-o, afrontando-o, e ele enrijecia de pavor, a visão escurecimento e perguntava-se se ela, a dor, existia realmente.

Se não passava de uma ilusão de sua mente que tão doente ficará pelas noites sem dormir.
Se não passava de uma ilusão igual essa esperança que ele tinha que de algum modo Giyuu conseguiria acordar, conseguiria permanecer de pé por mais de míseros dez minutos.
Se não passava de uma ilusão igual à esse estúpido e malditos Deus que batia na mesma tecla de que tudo que acontecia era por vontade do dito e que, de algum modo, Giyuu merecia tal sofrimento.
Ah, péssimo! Péssimo!

Gyomei, que Rengoku tanto respeitava, um budista, talvez a mais próxima religião que Rengoku chegará a acreditar - mas, infelizmente, estava longe de conseguir colocá-la em ação - havia conversado consigo.
Como?
Ele dizia, Tanjiro traduzia.
Pobre garoto, as mãos devem estar doendo de tanto ficar movendo-as.

Ele então ia para seu estado e outra vez ficava a sós com ela. Cara a cara com ela. E não havia nada que ele pudesse fazer com ela, a não ser olhar e estremecer.
E o pior do que tudo, ela chamava constantemente sua atenção, não para fazê-lo tomar alguma providência, mas simplesmente pra fazê-lo olhar direto no seu rosto e, sem poder fazer nada, sofrer, sofrer indescritivelmente.
E para livrar-se desse estado de espírito, Rengoku procurava abrigo.
Procurava abrigo naquilo que o machucava, ao lado de seu namorado.

Péssimo, tão péssimo.

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Na próxima vez que Kyojuro chegou aquele quarto branco que Giyuu se encontrava... Ele estava sentado, e ao perceber a chegada do namorado abria um sorriso.
Ah, que belo sorriso.
A cicatriz em sua boca acrescentava um ar de beleza - talvez alguns julguem Kyojuro por dizer isso, mas é sério

Corria para a cama, se jogando em cima dele, agarrando o rosto dele com cuidado em suas mãos, beijando a testa, a ponta do nariz, a bochecha, e depois os lábios.
Ah, que belo homem!
Belo, belo!
Belos.

Um casal que depois de tanto sofrer, finalmente encontraria paz.

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Não planejava terminar isso tão cedo, eu queria escrever mais, mas infelizmente eu to com uns problemas, e não tem muito oque eu possa fazer.

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⏰ Última atualização: May 22, 2023 ⏰

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