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Como um brasileiro nascido e criado no país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza.

Richarlison não gostou e estranhou muitas coisas quando mudou-se para Inglaterra depois que foi contratado para o time do Tottenham.

Ele acha que talvez nunca se acostume com o clima sempre tão frio e cinzento de Londres; Richarlison odeia como os britânicos parecem tão esnobes e arrogantes; Ou como apesar de todo o seu esforço para aprender inglês, todos os gringos malditos ainda parecem importar-se mais com o seu sotaque do que em prestar atenção, de verdade, no que ele está tentando dizer.

Mas, principalmente, Richarlison não conseguiu gostar de Son Heung-Min.

O titular camisa 7 do time.

O miss simpatia do Tottenham.

O coreano que sorri para tudo e todos, seja pelo gramado do campo ou corredores do estádio.

E o brasileiro sabe que não faz muito sentido sentir-se tão irritado ou desgostoso com o coreano. Já que desde a sua chegada ao clube a pouco mais de um mês, Son não tinha sido nada mais que educado com ele(em contraste com boa parte dos outros jogadores).

Porém, ele não pode evitar.

O estranhamento assim que, pois seus olhos no mais velho ou o arrepio que faz os pêlos da sua nuca se arrepiarem sempre que o coreano está perto.

Há algo muito errado naquele maldito coreano!

E mais ninguém parece notar.

Richarlison já até tinha questionado — sutilmente — Emerson, um outro brasileiro no time sobre isso. Recebendo como resposta apenas a risada do outro seguida de: "O Sonny é o cara mais legal daqui! Não sei do que você tá falando, Pombo."

Mas nem de longe isso tinha servido para acalmar sua mente.

Todo o seu corpo ainda parecia entrar em alerta toda vez que eles estavam próximos e ele não podia evitar analisar o outro pelo canto dos olhos, às vezes sem nem notar o que estava fazendo.

— Tu tá encarando o Sonny, de novo! — Emerson diz alto em português ao seu lado, chamando sua atenção.

Hm?

Richarlison pisca seus olhos para longe da figura do coreano no outro lado do cômodo, voltando sua atenção para o amigo.

— Qualquer dia desses o Son vai te dar um socão por ficar olhando com essa cara pra ele. Até gente boa tem limite, sabe.

— Num tô fazendo nada! — Ele defende-se. — E se ele não quiser que ninguém olhe pra ele, ele quem passe um muro envolta.

Emerson faz um tsk desgostoso com a língua.

— Por um momento esqueci que tentar falar com você é a mesma coisa que tentar dialogar com a porra de uma pedra. Moleque chato! — Royal diz jogando sua camiseta suada do treino em direção ao seu rosto. O qual Richarlison foi mais rápido, a pegando no ar e jogando de volta com mais força na direção do outro.

— Só não consigo ir com a cara dele…

Richarlison admite livrando-se da sua própria camisa para ir rumo ao chuveiro limpar-se de todo o suor e grama, que estão grudados pelo seu corpo depois do treino puxado.

— Você só é chato e paranoico. — Emerson devolve adentrando em um dos chuveiros.

O brasileiro mais novo apenas bufa zombeteiro para o amigo antes de também tomar lugar em um dos box e ligar o chuveiro.

Em meio a água quente que cai pelo seu corpo, a mente de Richarlison volta a rodar ao redor do assunto "Son Heung-Min".

Como vem fazendo muito, desde que chegou a Londres.

Richarlison não é paranoico.

Cauteloso, talvez. Mas não paranoico.

É uma coisa de família. Ele não pode mudar isso em si mesmo, nem se quisesse.

Ele cresceu ouvindo o famoso ditado que a sua família parecia amar muito, que era: Sempre confie no seu primeiro instinto.

Não importa se parece sem sentido ou ninguém ao redor concorde com você. Sempre siga e confie no seu primeiro instinto sobre algo ou alguém, seja o que for.

O brasileiro tem que confessar que nunca importou-se tanto com essa superstição da sua família.

É algo bobo que a maioria das pessoas tem, mas que não tem tanta importância assim.

Como consertar o chinelo que acaba virado para baixo, porque se não sua mãe pode "morrer"; Bater na madeira três vezes para espantar algo ruim para longe de você; Não passar por baixo de escadas ou ter cuidado ao manobrar espelhos pois quebrá-los irá te trazer sete anos de azar.

Bobagens que todos já fizeram ou acreditaram pelo menos uma vez na vida.

A única diferença é que o que reina na sua família é o de sempre confiar na sua primeira impressão sobre as coisas.

Algo que sua avó materna sempre gaba-se de ter salvo sua vida, mais de uma vez ao longo dos anos. Ou que seu tio dizia ser o motivo do porque ele não perdeu um bolão em um aposta com um desconhecido estranho.

Algo que estava tão enraizado em sua família materna que Richarlison já se pegou várias vezes seguindo o caminho do ditado, sem nem notar.

Mas nunca tinha sido como o que ele sente sobre o coreano.

Nunca antes tinha acontecido com o arrepio em sua nuca ou o sentimento de alerta total fluindo por todos os seus poros.

Havia algo nos olhos negros estreitos e o sorriso largo do mais velho, que sempre lhe incomodava.

E o brasileiro não conseguia entender como todos ao seu redor simplesmente ignoravam isso e tratavam o coreano como se não houvesse nada de errado.

É frustrante pra caralho, ser o único que sente que algo errado está no ar em volta do asiático.

Como se o mais velho fosse um predador perfeitamente camuflado entre suas presas, apenas analisando qual delas seria a refeição mais saborosa para o dia.

Richarlison não pode evitar rir sozinho sob o jato quente do chuveiro.

Toda essa sua tensão ao redor do coreano está lhe deixando com a imaginação fértil. E talvez ele esteja exagerando a esse ponto.

Pois não é como se Son fosse algum tipo de demônio ou lobisomem que vai comer suas tripas assim que ele abaixar a guarda.

Alguém que esconde algo, isso sim. Definitivamente! E o brasileiro quer muito descobrir o que é.

Puramente pela ciência!

Só porque ele quer arrancar para fora de si essa sensação estranha que ele sempre sente por causa do coreano.

E não é atoa que ele é conhecido como o mais cabeça dura e insistente da sua família. Então ele não vai conseguir ter paz interior enquanto não descobrir a verdade sobre Son Heung-Min.

MEU COLEGA DE TIME É UM GUMIHO! | 2SON(incompleta)Onde histórias criam vida. Descubra agora