Feijoada com bolo

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Trindade estava onde queria quando chegou ao Rio. Ele era um sucesso na rádio e os patrocinadores aumentavam o cachê a todo momento. A mudança na vida de seu amigo também era uma alegria para ele. Tibério e Muda eram família e sempre estiveram com ele. Se a abundância chegou a ele, chegaria a eles também.

Nessa nova jornada, ele notou que algumas mudanças deveriam acontecer. Morar no cortiço já não era viável pela movimentação e ele mesmo queria oferecer uma vida mais confortável aos amigos. Depois de muito olhar nos classificados, Trindade estava quase desistindo de achar o domicílio ideal quando derrubou sem querer café no jornal. Quando estava tentando secar, um anúncio chamou sua atenção. Uma casa com um valor bom e do tamanho ideal para as duas famílias.

O cantor desanima ao perceber que ainda não tem o perdão de sua princesa, mas mesmo assim, ela está presente em cada plano futuro dele. O destino sorri quando ele nota o endereço da imóvel: era na rua dela e se não falhava sua percepção, ela era só algumas casas de distância. Talvez ela ache, na verdade, com certeza ela vai achar que foi uma afronta, porém estar tão perto de seu grande amor era irresistível.

Isso traz a lembrança do que aconteceu no elevador. Ele nunca sentiu algo assim. Irma o dominou por completo e ele só sabia querer mais. Não só desse tipo de prazer como também o de ouvir a risada dela quando ouvia algum absurdo, como ela ficava pensativa e seus olhos aumentavam e também de sua inteligência sincera e emotiva. Trindade era louco por ela.

Tibério ficou relutante em aceitar a oferta do amigo, mas como Xeréu, ele era um homem apaixonado e só queria o melhor para sua esposa. Muda logo notou de quem seria vizinha pelo olhar saudoso para casa de Irma.

-A ruiva mora aqui, não é?

-Eu juro que foi o acaso. O destino jogou café no anúncio.

-Ai cumpadre Xeréu, você é um romântico. Eu admiro isso. Eu e a ruiva somos sortudas.

-Mas eu a perdi...

-Olha, acho que o destino não gasta energia com batalha perdida.

A conclusão de sua amiga o acompanhou durante o dia e quando voltou para a nova casa deles, ela estava rindo sozinha enquanto arruma a mesa de jantar.

-Rute, qual é a graça? O feijão fez alguma piada? - o marido indaga enquanto ele e Trindade se sentam.

-Antes fosse, marido. A futura cumadre já sabe de nós.

- Como assim, Muda? - Trindade já sente o chão faltar.

-Pois muito que bem, você falou de café quando descobriu aqui e eu pensei que bolo combina, então levei um para ela. Nós conversamos a tarde toda. Tadinha... Você mentiu para ela e isso não se faz, mas eu sei como você é e está sofrendo mais que trem para o surbúbio na hora da ave Maria.

"Bem isso" Trindade pensa triste.

-E como ela recebeu a notícia?

-Mal, mas é educada e fingiu que não. Ela tem raiva e amor. São dois sentimentos fortes. Eu inventei uma feijoada de "abre casa".

-Você o que...?

-Não quer ver sua princesa de novo? E realmente acho que esse pátio é ideal para um almoço entre amigos. Não me agradeça, só consegue essa mulher de volta porque não aguento você tocando essas músicas tristes de madrugada. Deus me perdoe! A gente querendo namorar e ouvindo a tristeza do jeca de fundo.

Trindade tem que dar razão para sua amiga e realmente, a ideia do almoço era ótima. Ele não pode errar em nada dessa vez. Por enquanto, ele só sabe que o desejo e afeto estão bem presentes nela. Talvez seja a chave para o perdão.

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