Ela perdeu os pais e agora não existe um lugar no mundo onde a faça se sentir em casa. Na tentativa de encontrar um lar, ela vai embora outra vez. Carregando uma depressão, ansiedade e um bloqueio emocional nas costas, ela tenta recomeçar outra vez...
Ao terminar minha higiene matinal, me visto e caminho até a varanda do meu quarto, observando a vista assim como faço todas as manhãs.
A Itália é um lugar lindo, a comida é incrível e a vista consegue ser mais do que perfeita. As pessoas são um pouco chatas, mas todo lugar tem defeitos, certo?
Ainda assim eu não poderia ter escolhido um lugar melhor ou tomado uma decisão melhor, exceto pelo fato de que Flynn tem tentado entrar em contato de todos os jeitos possíveis nos últimos dois meses.
E claramente, eu não tenho coragem para lhe responder, não depois de ter ido embora sem avisar, sem me despedir...
Ela fez de tudo por mim e eu apenas fui embora na primeira oportunidade.
Suspiro fechando a porta de vidro que da acesso a varanda e pego minha bolsa saindo de casa.
Iniciei um novo projeto há um mês atrás, estamos apenas no começo, mas já saiu do papel.
Eu: obrigada, tenha um bom dia. - Falo para o taxista antes de descer do carro.
Observo a obra a minha frente e é impossível não dar um pequeno sorriso. Não tomou forma pois está bem no começo, mas já é alguma coisa.
Xxx: Julie! Fazendo a visita diária? - Pergunta caminhando na minha direção.
Eu: com certeza.. alguma novidade? - Pergunto começando a caminhar ao seu lado.
Will está me ajudando com a obra juntamente com Ayla.
Will: ainda não.. o começo é um pouco demorado, mas depois que tomar forma as coisas vão começar a andar. - Fala e eu assinto.
Eu: acha que isso vai dar certo? - Pergunto olhando-o.
Will: tem alguma coisa que você fez.. que não deu certo? - Pergunta e eu dou de ombros.
Eu: muitas. - Falo sorrindo levemente.
Will: nós dois sabemos que não é verdade. - Fala e eu suspiro.
Eu: bom, eu vou indo.. te vejo amanhã. - Falo dando meia volta e caminhando para o centro da cidade.
Sinto meu telefone vibrar e pego o mesmo vendo Flynn me ligar pela milésima vez na semana.
Suspiro encarando o visor do telefone e por impulso decido atender.
*Ligação on*
Flynn: finalmente! Achei que ia me deixar sem resposta pelo resto da vida. –
Eu: você não deveria estar me ligando.. –
Flynn: Julie.. –
Eu: eu fui embora sem avisar por um motivo Flynn.. preciso de um tempo. –
Flynn: você pode até precisar de um tempo, mas eu não! Na verdade eu preciso da minha melhor amiga agora.. e eu achei que encontraria ela ao te ligar. –
Eu: sua melhor amiga está bem longe de você no momento. –
Flynn: eu vou ter que aparecer na porta da sua casa? Porque se for necessário, é exatamente isso que eu vou fazer. –
Eu: eu preciso ir, tchau Flynn. –
*Ligação off*
Enfio o celular de volta no bolso e passo em uma pequena feira para comprar legumes frescos. Essa é a beleza da Itália, comida fresca.
Meu maior passatempo na Itália? Bom, tem sido acompanhar a obra de um prédio, cozinhar comidas diferentes todos os dias, ler e aproveitar a vista que o local me oferece.
E tem Luke.. Acompanhar a vida dele pelas redes sociais também pode ser considerado um passatempo. Os meninos entraram em turnê na América latina no último mês então o que mais tem por aí são fotos e vídeos.
Ele me mandou milhares de mensagens e me ligou trilhões de vezes no primeiro mês, mas depois parou e eu não o culpo por isso, na verdade eu meio que agradeço.
(...)
Suspiro terminando de montar o meu prato. Está aí mais um hobby: montar pratos bonitos.
Coloco o prato na mesa junto com um copo de suco e me sento para começar a comer. Sinto uma bola de pelo no meu pé e olho para baixo vendo um filhote de Golden retriever, Thunder.
Eu: hey! Você por aqui. - Falo o pegando no colo.
Eu: estava com saudades. - Falo soltando um pequeno riso.
O filhote volta para o chão e se acomoda no meu pé, pegando no sono em poucos minutos.
E eu volto a encarar o prato a minha frente enquanto sinto meu estômago embrulhar. Afasto o prato desistindo de comer e me levanto de devagar caminhando para a área de lazer.
Itália tem lugares lindos para visitar, lugares esses que eu fiz questão de conhecer logo no primeiro mês, e eu estou falando de literalmente todos.
E agora a única coisa que me resta é aproveitar o tempo sozinha, pensar e refletir sobre a vida e minhas escolhas. De alguma forma, estar sozinha aqui não faz eu me sentir sozinha, há algo aqui que soa diferente de todos os outros lugares.
Algo como.. casa.
A casa é grande, a vista é lindo e o silêncio consegue ser extremamente acolhedor e confortável, o som dos pássaros e da brisa transmite paz e aconchego, algo que eu nunca pensei que sentiria, pelo menos não tão cedo.
E tem o Thunder, o adotei há duas semanas e ele tem sido de fato um trovão. Algo barulhento – na medida certa – e uma companhia impecável.
Já aprontou horrores e continua aprontando, acho que faz parte da personalidade dele, mas tudo bem. Um pouco de barulho e bagunça as vezes faz bem.
JulieMolina - ele tem sido a alegria da casa <3
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Bloqueio a tela do telefone e abro o notebook entrando em uma reunião. E assim se passou o restante do dia, recheado de reuniões e Thunder me mordendo.
