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                        Caminhava pelas ruas rústicas da aldeia, pontapeando uma pequena pedra para me tentar entreter. Os olhares conhecidos das pessoas mais velhas transmitiam surpresa por me verem, algumas até me cumprimentavam apesar de eu me limitar a sorrir-lhes e continuar o meu trajeto. A brisa tardia arrepiava a minha pele, talvez dizendo que não devia ter saído do meu refúgio, pois ainda não estava preparado para enfrentar o mundo real. Porém, ela já não está aqui. Cada vez que me lembro da sua face, dos seus cabelos loiros ao vento e do seu sorriso, que não era tão sincero o quanto eu julgava ser, sinto dor. Já passou um ano e ainda continuo a imaginar que aquela tarde não passou de um pesadelo. Ela era a única pessoa que me compreendia, aquela que conseguia colocar um sorriso na minha cara com um simples gesto. Necessito da sua calma e serenidade. Preciso do seu toque e da sua presença. Contudo, além desta nostalgia, eu também começava a sentir repulsa. Todo aquele tempo, apoiado no parapeito emadeirado da janela do sótão, fez-me pensar no momento em que o mundo desabou aos meus pés. Aquele dia... Dia esse em que descobri que a rapariga doce e inocente que ela aparentava ser, não passava de uma pessoa falsa sem princípios. Eu fiz tudo por ela. Como é que conseguiu fazer-me uma coisa destas? Dei um pontapé mais intenso na pequena pedra que me fazia companhia, libertando uma pequena percentagem de raiva que sentia.

                        Dei por mim a dois metros da pequena mercearia da localidade e recompus-me, entrando, de seguida, dentro da loja. O estabelecimento tinha sofrido alterações desde a última vez que o tinha frequentado. Os preçários estavam mais apelativos, com imagens da respetiva fruta e o seu preço, a disposição dos produtos estava mais organizada assim como o espaço da loja.

– Boa tarde, Luke. – saudou o Senhor Quinn, o dono da mercearia, espantado também por me ver. – O que te trás por cá? – questionou, apoiando-se no balcão, agora, de tampo envidraçado.

– Vim comprar morangos para a minha avó. – informei, coçando a nuca como ato de nervosismo.

                        O homem de cinquenta anos, bem cuidado, esboçou um sorriso quando mencionei o que vinha fazer ao seu local de trabalho. Ele levantou-se e pediu-me para que o seguisse.

– Hoje o meu filho mais velho andou a colher morangos, por isso, é o teu dia de sorte. – explicava ele enquanto caminhava até ao expositor dos morangos. – Serve-te à vontade, rapaz. – proferiu, deixando-me sozinho à frente de cestas com pequenas frutas de vermelho vibrante.

                        Retirei um saco transparente e comecei a escolher alguns morangos para levar, colocando-os no saco. À medida que fui recolhendo a fruta, reparei numa mão pálida como a minha que fazia os mesmos movimentos que eu. Olhei de soslaio e vi uma rapariga loira com um ar angelical. Envergava uma T-shirt preta com um desenho engraçado que dava para pensar no sentido metafórico – estavam estampados alguns vasos com seres vivos, e por baixo podia ler-se ''Plants are friends''.

                         A pequena rapariga reparou que a estava a observar, por isso, esbocei um sorriso fraco e saí dali o mais rápido que consegui, caminhando até à caixa do Senhor Quinn para que este pesasse a fruta e me dissesse o quanto tinha que pagar. Mas para meu infortúnio, o homem trabalhou vagarosamente, provocando o aumento drástico dos meus nervos.

– São quatro dólares, rapaz.

            Procurei pelo dinheiro que a avó Jenna me tinha dado e pousei a quantia pedida em cima do balcão envidraçado, soltando um breve suspiro. Enquanto a velha máquina tratava de imprimir o meu recibo, dei por mim a olhar de esguelha para o local onde anteriormente fui recolher os morangos,encontrando-me hipnotizado pelo ser de cabelos loiros que aí se encontrava.

– Aqui tens o recibo. – rodei rapidamente a cabeça, voltando a encarar o rosto enrugado do Senhor Quinn. Engoli em seco e recebi o pedaço de papel infernal, pegando rapidamente no saco de plástico onde os morangos repousavam. E, numa fração de segundos, saí daquela mercearia sem proferir uma única palavra, pensado incessantemente no facto de aquela rapariga ser tão parecida com ela.



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espero que tenham gostado do primeiro capítulo da nossa querida e doce Strawberry!

O próximo, como devem calcular, irá ser escrito e postado pela minha colaborada @frigthless xp

Posso agradecer pelas duas o apoio que nos deram na pequena introdução ♥ O que levou a ficarmos classificadas em #307 (dia 29) e #271 (dia 30) em fanfiction xp e isso é tão gratificante!


@rudekittenx


(01/06/2015)

Strawberry » luke hemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora