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            A personalidade de Alice era o completo oposto da minha. Dava para perceber pelos seus pequenos atos, juntamente com os pormenores consequenciais. Enquanto a minha avó fazia o jantar, nós decidimos colocar os pratos na mesa para poupar trabalho a Jenna e, durante essa aborrecida tarefa, a confiança transmitida pela rapariga loira através de perguntas banais ou mesmo de involuntários sorrisos e olhares – para além de me deixar constrangido, pois eu não conseguia transmitir tanto entusiasmo quanto ela – deixava-me com algumas questões sem resposta. Não conseguia entender como ela conseguia ser tão confiante de si própria, mas, por outro lado e pegando no que Alice disse durante a tarde, às vezes as coisas não são como parecem. Talvez a rapariga da mercearia não fosse assim tão feliz como aparentava ser, tal como eu não era frio com as pessoas, apenas reservado.

– Luke? – os seus olhos cintilantes observavam o meu rosto assustado. – Estavas no mundo da lua? – questionou alegremente, mostrando o seu genuíno sorriso.

– Parece que sim. – murmurei envergonhado, após perceber que a nossa tarefa já estava concluída há algum tempo. Enterrei as minhas mãos nos bolsos e observei o chão de tijoleira da cozinha, sem saber como agir. Eu podia começar uma pequena conversa, mas não me ocorria nenhum assunto que pudesse abordar, por isso, recorri a Jenna. Aproximei-me do corpo baixo da minha avó e o cheiro agradável vindo da panela invadiu o meu nariz, deixando o meu estômago ainda mais rabugento.

– Está quase querido. – afirmou, Jenna, automaticamente. – Talvez pudesses mostrar os cantos da casa à Alice? Não quero que fiquem aborrecidos à espera do jantar. – a minha avó gargalhou e colocou, novamente, atenção nos seus cozinhados. Desviei o meu olhar até à rapariga loira e esta aceitou, em segundos, a proposta da minha avó.

Guiei a rapariga desde os quartos até à sala de estar, onde permaneceu perdida a explorar as várias fotografias que permaneciam nos móveis velhos e rústicos da divisão. A meio da sua pesquisa às várias molduras, Alice pegou numa delas e caminhou até mim com uma expressão curiosa.

– És tu? – questionou ela, apontando para um rapaz novo de baixa estatura, com as maçãs do rosto bastante proeminentes e rosadas, rodeado por dois jovens mais velhos.

– Sim, sou eu e os meus irmãos. – expliquei com um sorriso nostálgico nos lábios, lembrando-me que não falava com eles há bastante tempo. Enquanto Alice foi colocar a fotografia no sítio, tentei afastar as memórias cheias de saudade da minha mente.

– Aquelas escadas dão para onde? – questionou a loira, caminhando em direção à escadaria que dava acesso ao meu refúgio.

– Para o sótão. – retorqui, observando as fieis escadas. – Só eu é que costumo ir lá. – comentei, remexendo nos meus cabelos loiros vezes sem conta ao mesmo tempo que analisava o rosto angelical e cheio de intriga da loira.

Momentos depois, a minha avó chamou-nos para jantar, encontrando-nos, agora, sentados à mesa, já servidos. Enquanto me alimentava calmamente e me concentrava nos sons da vida noturna, os seres femininos conversavam normalmente sobre o passeio da minha avó. Em cada frase que a velha senhora pronunciava, havia sempre espaço para referir que já sentia saudades de ir espairecer pela aldeia e, para ser honesto, essas palavras magoavam-me, pois, se o meu lado teimoso não falasse mais alto, eu levá-la-ia a caminhar todos os dias, sem problemas, pelas várias ruas da localidade.

– Querida, chega de falar sobre mim. – Jenna gargalhou, levando à boca, depois, o seu copo com água. – Como estão a correr as coisas por aqui?

– Estão a correr bem. – fiz uma pausa no jantar e olhei, discretamente, para a rapariga loira que contava pormenores da sua vida. – Como o meu tio estava com falta de uma pessoa, eu ofereci-me para ajudar lá na loja.

Strawberry » luke hemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora