Parte 3 - Perdão

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Não sabia quanto tempo fiquei naquela mesa, deitada, afundada em pensamentos tão profundos que pareciam me prender em um transe sem fim. Mas, para mim, não passariam de simples minutos. Contudo, não foi o que me pareceu quando vi a porta se abrir em um baque, assustando-me. Me sentei de pressa, erguendo meu rosto rapidamente da mesa, havia tomado um susto com o barulho. Não demorei a me deparar com uma expressão fechada, irritada até, um olhar frio direcionado diretamente a mim. Aquelas ônix qual tanto eu amava estava me fitando extremamente sério. Ele se aproximou, me fazendo engolir em seco, parando a poucos metros de mim.

- Sakura. - Apenas ouvir meu nome sair por seus lábios fez meu corpo estremecer, ele estava parado, sério demais até para ele. - O que esta fazendo aqui?

- Eu.. huh... - Olhei para a mesa como se fosse encontrar a resposta de todos os meus problemas, intercalando meu olhar dos vários papéis desesperada em algo para dizer. Queria apenas me lembrar em algo para dizer, pois a minha mente havia ficado em branco assim que vi ele passar pela porta. - Trabalhar, sim.. eu queria apenas terminar isso. - Respondi, talvez rápido demais para quem deveria estar sendo sincera, mas qual era minha culpa nisso? Era impossível ficar nervosa quando a fonte de todos os seus tremor estava na sua frente, provavelmente, te avaliando.

- Vamos para casa. - Ele estendeu sua mão para mim. Seria muito estranho se eu rejeitasse e por mais que eu o quisesse longe de mim neste momento, não queria perguntas, então a aceitei, relutante. Quando estávamos a caminhar, logo desencontrei nossos dedos com a desculpa de fechar a porta, não fazendo esforço algum para voltar a dar as mãos.

Voltamos para casa em silêncio, sentindo suas ônix presas a mim. Assim se seguiu os dias a seguir, eu evitava todo toque e conversas possíveis, tanto dele quanto de Sarada, mas mais dele. Se passaram cinco dias que ele havia voltado e só faltava eu ir a Naruto perguntar quando meu marido voltaria a partir, pois parecia estar demorando uma eternidade. Hoje, eu estava saindo do hospital mais cedo. Motivo? Havia recebido uma carta de Idake, o homem quem havia me dado o vinho. Sasuke provavelmente iria me buscar mas eu não podia me preocupar com isso nesse momento, apenas queria vê-lo e xinga-lo com todos os nomes possíveis. Ele não tinha esse direito! E o pior é que ele manteve a transformação até o fim, transformando um pesadelo em um verdadeiro inferno.

E logo o vi. Dessa vez, ele não estava usando nenhum jutsu de transformação, era apenas ele. Cabelos longos e ondulados de cor escura como carvão, chegando até os ombros, olhos azuis como turquesas, tão belo quanto me lembrava, mas que agora, apenas me trazia desgosto. No meio da floresta, ali estava, parado enquanto me esperava com as costas apoiadas em um tronco de árvore qualquer. Alto, sério, com lábios que sorriam tão facilmente quando era para mim que jamais esperei algo ruim dele.

Parece que eu estava terrivelmente enganada.

Logo me juntei a ele, encarando-o com raiva. Ele se desencostou da árvore quando me viu, os braços antes cruzados agora desdobrados sobre seu corpo, as mãos indo de encontro com os bolsos. Ele estava sério e eu sabia, tinha certeza, era ele quem havia dormido comigo naquele dia.

- Como pode? - Perguntei, séria.

- Case comigo. - Ele falou, mas não me importei. Aquelas palavras de nada valia, nunca valeram. Nem antes e muito menos agora.

- Eu já sou casada. - Cuspi, sentindo novamente aquele enjôo me subir.

- Sakura... - Ele se aproximou de mim, os olhos brilhando de uma forma que nunca havia visto antes. Era bonito.

Mas, eu estava furiosa e ele ter ser aproximado foi seu grande erro. Antes que ele chegasse a me tocar, mais rápido do que ele podia prever, minha mão foi de encontro a seu pescoço e logo seu corpo já estava estirado pelo chão, meus dedos apertando sua garganta.

- Sakura. - Ele repetiu meu nome, surpreso, olhos arregalados com minha atitude.

- Como pôde!? - Repeti minha pergunta, furiosos, ajoelhada sobre aquela terra ao lado daquele corpo que, agora, apenas me trazia repulsa.

- Eu.. te amo... - Ele repetiu meu nome e dessa vez, não pude me controlar. Com todas as minhas forças, juntei todo o resto de Chakra que restava em mim e foquei em meu punho, concentrando toda a minha raiva nos meus dedos e soquei-o. Eu sabia que o mataria e parte de mim não queria o matar. No último segundo, com o resto da força de vontade que em mim existia, desviei por poucos centímetros meu soco, dando com a superfície. Aquilo acabou por causar uma enorme onda de destruição, mas não me importei, ignorei todo o barulho e destroços que se ergueram pelo chão.

- COMO OUSA? - Perguntei, gritando, olhos tão arregalados que deles lágrimas se escapavam. Mesmo com os destroços, meus dedos ainda se prendiam em seu pescoço, seu corpo ainda estirado pelo chão e faltando pouco para ficar sem vida. - COMO? - Gritei, mas logo uma tontura me apossou, fazendo-me decair sobre seu abdômen. Meus dedos se fragilizaram e desgrudaram de sua garganta. - Por quê? - Perguntei, minha voz saindo tão perdida quanto abafada pelas lágrimas que insistiam em sair. - EU TE ODEIO! - Bati com todas as forças de punho fechado contra seu abdômen, mas isso não era muito, estava me sentindo tão fraca que eu poderia jurar que ruiria a qualquer momento.

- Sakura! - Idake levantou-se ao meu auxílio, permanecendo sentado, levando suas mãos até minhas costas preocupado. - Me perdoe, huh? Está comendo? Por quê está tão fraca assim? Sakura?

Suas palavras entravam por um ouvido e saia pelo outro, eu não conseguia lhe dar atenção quando sentia tanto desprezo por sua voz. Apenas queria sumir dali, morrer, desvanecer em um canto e desaparecer.

- Você tem noção do que é não poder encarar meu esposo e filha? Do que é sentir culpa? - Perguntei, mas sabia que ele não daria a resposta que eu queria. Ela simplesmente não existia, mesmo se ele quisesse. Jamais poderia apagar o que havia acontecido.

- Ele não te ama. - Suas palavras de nada me serviram, aquilo sequer era considerado um problema agora.

Uma mão forte me encontrou, circulando minha barriga e erguendo meu corpo, me levantando. Inconscientemente me apoiei no corpo alto e forte que me segurava, estava fraca demais para conseguir me manter de pé sem ajuda. Me surpreendi quando reconheci suas roupas.

- Sasuke-kun? - Perguntei, surpresa, ignorando meus olhos úmidos e minhas bochechas molhadas.

- O estrondo se foi ouvido por Konoha inteira. - Ele disse se referindo ao meu soco. Mesmo sem ter visto, era claro que ele saberia que foi eu, nem que fosse pelas costas dos meus dedos ainda estarem meio sujas pela terra. - Quem é ele? - Perguntou-me, suas sobrancelhas juntas me contavam que ele estava preocupado.

- Sakura, me desculpe. - Idake se levantou, livre do meu soco, ele não estava nada machucado, apenas dolorido pelo baque provocado pelos destroços do chão. - Venha comigo.

- Suma daqui! - Acabei me excedendo, perdendo minhas forças e quase sucumbindo ao chão, mas o braço forte me impediu disso. Sasuke jamais me deixaria cair e eu sabia disso. - Eu te odeio! - Esbravejei, chorosa, lutando contra a vontade de sair correndo, mesmo sabendo que provavelmente falharia nisso dado pela forma em que eu estava fraca.

- Ele não te ama e você sabe disso! - Idake gritou, mas eu, pouco me afetei.

Estava hiperventilando.

Simples Pesadelo (Sasusaku)Onde histórias criam vida. Descubra agora