Rio de Janeiro - Dias atuais
Era segunda-feira e Giovanna estava animada pelo início de mais um ano letivo. Se lembrava de quando ainda era aluna e andava pelos corredores daquela escola, hoje retornava como professora e não podia estar mais feliz.
Esse sempre foi seu sonho, seguir os passos da sua família materna e continuar o legado na área da educação. Quando seus bisavós fundaram a Escola dos Sonhos há muitos anos atrás, mal podiam imaginar em tudo que ela se transformaria, hoje, a escola que antes era pequena, era considerada uma das melhores instituições de ensino na cidade, indo muito além do currículo escolar determinado pelo MEC.
Giovanna havia acabado de passar a primeira atividade para as crianças quando sua irmã mais velha, Alessandra, bateu na porta avisando que a diretora a aguardava. Giovanna então pediu para sua amiga Amora, com quem dividia a turma, para ficar de olho nas crianças e partiu rumo à diretoria.
Ao chegar perto da porta, logo pode ouvir uma risadinha infantil vindo do interior e ao abater prontamente foi respondida com um "entra".
G: Oi, mamãe. Quer falar comigo?
S: Oi, meu bem . Nem deu tempo de te ver hoje. Só quero te apresentar sua nova aluna que chegou um pouquinho atrasada. - sorriu para a menina.
E: Disculpa, pofi. É que meu papai teve um impovisto e ele não pode me trazer, fui pala o hospital esperar meu titio e ele que me touxe.
Giovanna sorriu ao ouvir a típica voz doce e infantil da pequena, reparou também que seus pézinhos, que ainda não alcançavam o chão, balançavam ansiosamente
G: Tudo bem, querida. Essas coisas acontecem mesmo. - disse passando a mão pelas longas madeixas da menina que carregavam apenas um laçarote da cor da escola.
S: Bom, agora que já estamos resolvidas a professora Giovanna irá te levar para a sala, tudo bem?
E: Tudo!
G: Mas antes eu quero saber seu nome pequena.
E: Elisa. - disse com orgulho.
S: Olha, sabia que era o nome da minha vovó? Era dela essa escola.
E: Sério? Que legal! Eu também quelo fazer a mesma coisa que meu papai. Quer dizer, mais ou menos, não quelo cuidar de quiança e sim dos bichinhos.
As duas adultas da sala riram. E, Giovanna, não sabia dizer em que momento sua mente havia lhe traído e a levado para uma dolorosa lembrança.Flashback On
Curitiba - 18/06/2018
Giovanna acordou em um sobressalto após sonhar com as mãos dele ao redor do seu pescoço e o gosto de sangue tomando conta de sua boca. Rapidamente levantou da cama e foi para o banheiro lavar o rosto com a água gelada a fim de mostrar ao próprio corpo que tudo não se passou de uma lembrança amarga, não era mais a sua realidade.
Voltou a deitar na cama tentando normalizar a respiração e logo pode sentir pequenos chutinhos na barriga .
- Ei, você! Você é um péssimo inquilino, viu? - sorriu passando as mãos pela barriga de 7 meses e meio que ostentava. - Bom, pelo menos você não faz barulho, apenas me cutuca, mas olha, eu queria voltar dormir, tudo bem?
Giovanna sentiu mais um chute em sua barriga e logo após uma calmaria tomou conta daquele serzinho que habitava seu corpo. Não pode deixar de sorrir com a "reposta" e deitou novamente tentando voltar a dormir.
Não fazia nem 1h que tinha pego no sono quando acordou novamente sentindo uma dor intensa no pé de sua barriga.
- Qual seu problema hoje hein? Eu sei que o espaço está pequeno, mas é o que você tem e precisa ficar aí mais algumas semanas. Acalme-se.
Mas dessa vez o bebê não a obedeceu e ela sentiu mais uma fisgada, mas antes que pudesse falar mais alguma coisa sentiu algo quente molhar sua cama.
Assim que notou que era sua bolsa que havia rompido, se levantou desesperadamente procurando uma muda de roupa para se trocar e foi logo chamando o uber.
- Não! Você ainda não está pronto. Não pode nascer agora. Você não podia ter feito isso. - Giovanna tentava argumentar com o bebê que não lhe dava a menor confiança, tinha escolhido aquele dia para nascer e não havia chances de acordo.
Em menos de 20 minutos Giovanna deu entrada no hospital onde foi rapidamente atendida e encaminhada para o centro cirúrgico, pois apesar de ser caso de parto normal, ainda sim era um parto prematuro e, caso alguma coisa ocorresse, já estavam ali.
Já estava com 10cm de dilatação e não tinha mais como esperar, não podiam botar a vida dela e do bebê em risco.
Ao chegar na sala já estavam lá uma médica obstetra, uma enfermeira, um médico pediatra e seu interno. Ela estava assustada e olhava para todos os lados aflita, ela não se lembrava da última vez que havia sentido tamanha dor como aquela. Não conseguia controlar seu corpo, suas reações e muito menos suas lágrimas.
Seguiu passo a passo do que a médica pedia e algum tempo depois, deu à luz. Giovanna mal pode dar um suspiro aliviado quando percebeu que o bebê não chorava e perguntou aos gritos o que estava acontecendo. Começou a rezar para todos os santos que conhecia, até para aqueles com quem não tinha intimidade.
A médica até tentou a acalmar, mas nada naquele momento teria qualquer efeito sobre ela.
G: Você não entende! Se ela não for saudável, forte, a menos chances de alguém querer ficar com ela. - berrou.
M: Ficar com ela? - perguntou a médica.
G: Eu não posso ficar com ela Dra. Não posso. Não seria justo. Ela precisa de uma mãe melhor e que a ame incondicionalmente e eu não sou capaz de oferecer isso. Tenho medo de olhar para ele com rancor, com dor, porque ele é um resultado de uma das épocas mais tristes da minha vida. Ele não foi gerado com amor e ele não merece que eu o crie pensando nisso. Não merece! - disse soluçando.
Ninguém mais falou e apenas podia ser ouvido a respiração de todos presentes ali, os bips dos aparelhos e o respirador manual que o médico utilizava no pequeno corpinho com penugens louras no topo da cabeça que Giovanna pode ver de canto de olho.
Ela nem sequer notou quando o estado do seu bebê havia normalizado ou o momento em que o médico deixou ele aos cuidados do residente e se retirou rapidamente da sala.
R: Mãezinha, é uma menina, ela está bem e eu vou levar ela para a uti neonatal. Em poucas horas talvez você possa vê-la.
Ela já tem nome?
G: Sim, Elisa. Como minha bisavó. - disse ainda chorosa - mas eu não quero vê-la. Não posso. - caiu no choro novamente.
No fundo Giovanna sabia que se olhasse talvez desistiria da sua decisão e não queria, não podia.
E, no fim, era uma menina, como ela havia sonhado uns dias atrás. Se lembrou da sua mãe que sempre dizia que intuição de mãe nunca erra.Flashback Off
Pela primeira vez, desde que havia começado a trabalhar nesse novo hospital, Alexandre se encontrava no lavatório do Centro Cirúrgico se preparando para a primeira cirurgia que faria depois de quase 5 anos longe desse ofício.
Enquanto ele escovava suas mãos não conseguia parar de pensar que havia perdido o primeiro dia de aula da sua filhinha, sua menina e isso já foi motivo para se sentir o pior pai do mundo. Talvez, quando o destino lhe pregou uma peça e o fez perder seu título de pai, fosse um aviso e ele deveria ter aceitado
Será que ele era mesmo suficiente para sua filha? Será que havia errado muito durante o caminho? Com certeza sua doce esposa, Helena, saberia responder essas perguntas muito bem e sem dúvida alguma, mas há quase 5 anos havia partido, sem nem o permitir dizer adeus ou o quanto era amada por ele.
Ao pisar o pé direito dentro do centro cirúrgico sentiu suas mãos começarem a suar frio e uma certa ansiedade tomou conta do seu corpo. Foi tomado imediatamente por lembranças de quando achou que nunca mais iria conseguir pisar novamente numa sala dessas após todo o ocorrido naquele fatídico dia.Flashback On
Curitiba - 18/06/2018
Alexandre andava ansioso de um lado para outro no quarto em que sua esposa repousava.
H: Você está me deixando nervosa! Para quieto homem, nem parece que é médico.
A: É diferente, Lena. Eu nunca estive desse lado e estamos falando de você e da nossa filha. Não tem como eu ficar calmo.
H: Você ouviu a médica, estamos bem. A dilatação está indo bem e logo logo teremos nosso bebê gordinho e saudável em nossos braços.
Alexandre não pode deixar de sorrir, sua mulher sempre tinha tanta convicção no que falava que sempre acabava o convencendo. Fora sua voz calma que era capaz de silenciar qualquer um e acabar com guerras.
Eles eram tão diferentes, em tudo. Ela calma, ele ansioso. Ela faladeira, ele silencioso. Ele um aquariano e ela uma canceriana.
Se perguntava todo dia o que havia feito para merecê-la. Como ele podia ter sido o sortudo a ser escolhido pela médica neurologista mais inteligente e gata do hospital.
A: Você sempre me convence, né? Não tem jeito. - riu.
H: Eu sou a calmaria que te faltava Alexandre. Você sabe.
A: É, eu sei. - disse dando um beijo na testa da amada.
Estavam os dois ali se namorando apenas com os olhos quando ouviram a porta abrir rapidamente.
O: Alexandre precisamos de você na sala cirúrgica 1.
A: Está doido Olavo? Minha esposa está em trabalho de parto, não vou deixá-la aqui sozinha.
O: Mas é uma emergência e a Dra. Laís está ocupada em outra cirurgia. Sinto muito, sei que você não está trabalhando hoje, mas é realmente urgente.
H: Vai, amor. Aqui ainda vai demorar, você sabe. Vai lá salvar vidas. - sorriu docemente.
A: Tem certeza, Lena?
H: Eu sempre tenho. Vou pedir para o bebê esperar você voltar, viu?
Alexandre riu e deixou a sala sendo acompanhado por seu chefe.
A: Você me deve uma! - disse apontando para o homem mais velho.
H: Pago o whisky mais caro para você quando Alice nascer.
Rapidamente Alexandre se aprontou e entrou na sala cirúrgica dando olá para seus colegas.
Viu com sua visão periférica a paciente chegando na maca e então logo foi passando todas as instruções para seu interno.
Deixaram tudo arrumadinho apenas esperando o bebêzinho que havia decidido dividir seu aniversário com sua filha.
Alexandre podia ouvir o pranto dolorido da paciente, os comandos da médica e o "nasceu" que foi gritado algum tempo depois.
Mas Alexandre não pode ouvir o choro do bebê então correu rapidamente para pegar ele, que no caso descobriu ser ela, e, colocar na incubadora móvel, ligar ela em todos os aparelhos necessários e começar a respiração manual. Os aparelhos não paravam de apitar e a pequena que estava com os batimentos irregulares até então, parou. Alexandre não ouvia mais nada, havia abstraído tudo e todos, focando apenas na sua pequena paciente que lutava pela vida.
Poucos minutos depois Alexandre conseguiu reanimar a criança e normalizar sua respiração, passou todas as recomendações para o residente. E saiu apressado da sala, afinal, precisava ver sua cria chegar ao mundo.
Alexandre só não sabia que, enquanto estava ali dentro, a situação dos seus dois amores havia piorado muito e elas tinham sido encaminhadas para a sala cirúrgica ao lado.
Enquanto ele lutava para salvar a vida do bebê até então desconhecido por ele, era a vida da sua família que se esvaía.
E, que no mesmo momento que havia devolvido a vida àquele bebê, que havia feito o coração dele voltar a bater, era o coração da sua esposa e filha que tinham parado de bater para sempre.Flashback Off
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AVISO
Oii.
Não é minha primeira fic, mas faz tempo que não escrevo. Então, desculpa por qualquer errinho, principalmente pq escrevo pelo celular.
Acordei esses dias com essa ideia de fic na cabeça. Resolvi escrever.
Me avisem se gostarem e se quiserem continuação.
tt: ourdestinygn
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