Capítulo Um

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Estou sentada na poltrona de um avião a dezesseis horas. Viajando rumo à minha nova vida.
Mudanças em geral são estressantes. Mudança de casa, de escola, no corpo, hábitos, amizades ou até mesmo mudanças de opiniões.

Há alguns meses, meu pai recebeu uma proposta irrecusável de sair do Brasil para de trabalhar em San Diego, uma cidade na costa da Califórnia, às margens do Oceano Pacífico, conhecida por suas incríveis praias, seus belos parques e pelo clima calorosamente recepcionista. Um bom salário — Exorbitantemente bom, na verdade— e moradia em um condomínio localizado em Pacific Beach.
Nosso futuro "lar doce lar". Já estou familiarizada com San Diego pelo fato de que minha avó paterna cresceu lá. E sempre a visitei nas férias.
Como eu havia dito, uma proposta irrecusável.
Não acho que a mudança seja algo ruim, eu não tenho amigas ou amigos, namorado ou ficante, nada que eu possa sentir falta ou precisar me despedir.
Passava a maioria do tempo sofrendo bullying na escola ou trancada em meu quarto com meus livros.

Não querendo me gabar, mas, eu diria que uma garota de dezesseis anos ler duzentos e dez livros em um ano é no mínimo elogiável. Mas não na visão da maioria das garotas legais da escola onde estudava.
Papai sempre diz:

— Flora, as mudanças que você quer estão na decisões que você toma. Crescer significa mudar e mudar envolve riscos; uma passagem do conhecido para o desconhecido. Mudar exige confronto. Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade.

Meu pai é pouco otimista, digamos. E a mamãe? Bem, ela pensa que pode ser bom para mim socializar com pessoas, ou até mesmo achar um namoradinho. Não que eu não queira namorar, só que nenhum dos meninos no meu ciclo de convivência chega aos pés dos padrões estabelecidos pelas montanhas de livros de romance lidos e colecionados na minha estante desde os meus dez anos.
Homens românticos que entregam flores com chocolate e Bad boys que andam de moto, com um metro e noventa de altura, que paga de valentão, mas se derrete ao lado de sua garota. Homens com rabo, asas de morcegos, assassinos, mendigos, sequestradores que vão te roubar no dia do seu casamento ou coreanos que cantam kpop.
Bem, eu acho que meus gostos literário e musical afetaram a minha vida amorosa. Ou talvez seja o sonho que ando tendo desde que completei quatorze anos.
É sempre o mesmo sonho.
Eu acordo com o sol e o som do mar, sinto areias em meus pés. Meus olhos percorrem pelo céu azulado até um rapaz deitado ao meu lado.
Eu nunca o vi, mas parece que nos conhecemos há anos.

Seus cabelos ondulados, boca carnuda e o corpo em forma excelente. Tem o braço direito fechado em uma tatuagem de flores, piercing na sobrancelha e os olhos — Nossa aqueles olhos...
Azul cristalino, semicerrado com os cílios volumosos.
Passo horas a fio o olhando, e só trocamos algumas palavras perdidas antes de meu sonho acabar.

— De onde você é?
— E você, é de onde? — Rebateu.
— Onde eu te encontro? Pode parecer bobagem, mas talvez possamos nos ver pessoalmente. Caso você exista.
Ele me olha, seu sorriso apresenta uma covinha em sua bochecha esquerda.
— Aqui. —  Ele apontou para o mar. — Acho que você pode me encontrar aqui, e esse fio vai ajudar a nos encontrar.
— Qual o seu nome?
— Liam, e o seu?
— Florence, mas pode me chamar de Flora.
— Flower... — sussurrou — Acho que vou te chamar assim.
— Você sabe o que é isso?

Puxo um fio vermelho, nossas mãos estão conectadas por um fio vermelho que está amarrado em nossos dedos mindinhos.

— Para falar a verdade, acho que esse fio vai nos ajudar a se encontrar. Se você for real, é claro.
— E como vou encontrar só com esse fio?
Ele suspira e balança a cabeça, fechando os olhos e ainda sorrindo.

— Porra... Subconsciente você criou tudo isso? Valeu, cérebro, por me proporcionar essa vista linda.
Então eu acordo sempre no mesmo horário, às cinco e quarenta e dois.

Meu Destino (Uma história de amor) Onde histórias criam vida. Descubra agora