1_ Das cinzas ressurgiremos

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Quinta feira, 30 de julho de 1914, noite chuvosa, a Guerra estava no auge. Poucos eram os homens que não haviam sido convocados, poucas eram as mulheres que não haviam de sofrer por seus maridos, filhos, irmãos. Meu irmão Matéo, acabara de ser recrutado, minha mãe, coitada, estava desolada, já imaginando o sofrimento que viria, mas por incrível que possa perecer, ele estava contente, pois aquela era a sua oportunidade de ser reconhecido. Minha mãe passava seus dias em desalento, enquanto Matéo se preparava para seu triste destino. Diante de toda a tenção que nos rodeava, eu começo a descrever meus sentimentos e tudo que se passava, em meu diário, que havia ganhado de uma amiga.

Querido diário, é sexta feira, 31 de julho, meu irmão acaba de partir para a linha de frente, minha mãe se encontra desolada, meu pai trabalha muito e não tem tempo para cuidar dela. Está cada vez mais difícil alimentar os animais, mas eu sei como resolver isso, vou cozinhar a receita mais famosa de minha avó, a sua torta de queijo e vou vendê-las na cidade. Estou muito entusiasmada.

Ps: Eu nunca fiz isso antes.

Passaram-se três dias e eu, enfim, consegui reproduzir a receita da minha avó, infelizmente as vendas não tinham sido muito boas, as pessoas não andavam muito interessadas em tortas, com tantas coisas acontecendo. Estávamos em crise, quase não tinha o que comer, nem para alimentar os animais. Enfim, era chegado o dia de mandar algumas coisas para o meu irmão, minha mãe estava contente e havia se preparado á dias.

Querido diário, é segunda feira, 3 de agosto, o dia está acinzentado e frio, minha mãe comprou geleias, pães, nozes e escreveu uma carta, para enviar ao meu irmão. O dia parece triste, assim como o meu pai, faz dias que ele não sai para trabalhar e só agora descobri que ele foi dispensado. Já consegui vender algumas tortas, guardei algum dinheiro e vou entregá-lo ao meu pai, talvez ele fique feliz.

Naquele mesmo dia, uma tempestade terrível se aproximava. Já chovia á três horas, ouvimos um barulho, saímos para ver e nos deparamos com o celeiro em chamas, corremos desesperados para tentar controlar o fogo, mas sem sucesso. No dia seguinte só restavam cinzas, tudo havia sido destruído, assim como os meus sonhos de reerguer a nossa família, mas para a minha surpresa e de minha mãe, meu pai não se deixou abater.

- Essa não será a nossa ruína. - Disse ele, com um olhar de esperança.

Daí em diante, começamos do zero e com o dinheiro das tortas e algumas economias, começamos a reconstruir o celeiro. Minha mãe cuidava da horta, eu do pomar, meu pai das plantações e dos animais. Começamos a fazer geleias, tortas e pães e vendíamos na cidade, principalmente para os soldados de passagem e sempre que podia, minha mãe enviava ao meu irmão, notícias, comida e, principalmente, carinho.

Querido diário, sábado, 15 de agosto, tudo vai bem na fazenda, as vendas estão ótimas. Estou muito feliz, meu pai comprou um cavalo e me deixou dar-lhe um nome, o seu nome será Homero, em homenagem ao poema Odisseia, que li antes do início da Guerra. Homero e eu somos inseparáveis, todos os dias vamos á cidade para as vendas, ele é o meu melhor amigo.

Tudo ia tão bem, que parecia mentira, já não se viam soldados na cidade e nem no campo. Chegava a época da colheita e meu pai recebia ajuda dos meus tios da cidade e minhas tias, ajudavam minha mãe e eu no pomar, na produção de geleias e pães. Estávamos lucrando bastante com as vendas e isso já gerava olhares de inveja e curiosidade. O banqueiro propunha ao meu pai que depositasse nosso dinheiro em seu banco, mas ele recusava, preferia que nós mesmos tomássemos conta, mas isso iria nos custar caro.

Dois dias depois da colheita, soldados voltaram a aparecer na cidade, as ruas ficaram barulhentas e sujas, começaram a acontecer furtos e mortes desenfreadas. Quase todas as fazendas tinham sido saqueadas, com a nossa não foi diferente, ao acordar, notamos o celeiro escancarado, tinham levado quase tudo, até o mais querido.

O Diário De Margot DurandOnde histórias criam vida. Descubra agora