As folhas circulavam em volta do todo, assimetricamente, protagonizando uma coreografia encantadora entre o vento e a terra. Os criques-e-craques produzidos por esse ritual formavam um canto melódico-harmônico totalmente magnético. A beleza e a força arrepiavam meu coro em tons de fascínio e veneração pelo balanço celestial da natureza; o velho e o novo fundiam-se em uníssono. Sentia-me imponente perante toda grandiosidade primordial; nada obstante, corpo e mente compreendiam o quão abençoado era o espírito pela honra de ter em seu destino a cinesia interna provocada por esse evento.
Meus curiosos globos oculares estavam em completo estado de transe sobre o efeito do panorama, acompanhavam o movimento de subir e descer das folhas em graciosa concordância. Os cogumelos crescidos acima das raízes robustas de longas árvores deliciavam-se com o toque aconchegante do vento rente à sua matéria; as flores presas ao chão bailavam junto as correntes de ar; tons e tamanhos variantes de verde preenchiam meu campo de visão enquanto formavam uma bela cascata sobre a atmosfera. Não lembro, certamente, a durabilidade do momento, poderiam ter sido segundos, minutos ou horas; para mim, contudo, seu efeito perduraria por toda eternidade, gerara alimento a alma, frutos de lucidez lambuzados por sabedorias perenes descendentes do vaivém das passagens etéreas.
Andreza Falcão.
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Auras e Dríades
PoetryProsa poética mística simbolística inspirada nas ninfas do vento e das florestas.