Fantasma do meu amor

as velas

Outra noite onde eu me encontro numa varanda fria fumando e escutando algumas músicas que me levem novamente para os momentos onde éramos realmente amantes um do outro, onde só eu existia, onde o frio na barriga me consumia, onde ele nunca dormiria brigado comigo, em momentos onde eu não dormiria sozinha numa cama fria, momentos em que só de lembrar parecem que nunca poderiam acabar.

Eu me perguntava onde errei, mesmo sabendo que era ele quem mentia, era ele quem olhava outra garota enquanto estava comigo.

Quando eu me cansava de fumar e a pressão começava a cair muito, eu seguia até o quarto, em meio ao caminho eu via vultos, eu escutava barulhos, provavelmente seria nosso gato ou só a minha imaginação no meio da noite escura, tenho medo de quase tudo e quando a noite chega meio maior medo são os demônios ou os fantasmas.

Chegando no quarto e acendendo velas, me deitando e vendo ele simplesmente se levantando e saindo, me deixando aos cacos, outra noite encarando o fogo, a cera que escorre não tão forte como minhas lágrimas que reluzente as pequenas chamas.

As chamas se apagam, o medo me corrói e simplesmente o fantasma mais temido aparece, o que assombra meus momentos de solidão, o fantasma que passa a mão entre os fios do meu cabelo, o fantasma que dança comigo anoite, ele vem totalmente hipnotizante da escuridão para luz, algo morto capaz de me esquentar, algo triste capaz de me trazer felicidade, algo que me deixa novamente apaixonada.

Ele é meu amor melancólico, acho que estou traindo meu namorado, eu estou apaixonada pelo eu falecido dele, isso é definitivamente mórbido.

Quando eu o vi no quarto, senti um calor capaz de me fazer querer tirar minha roupa e ficar nua na sua frente, olhar nos seus olhos como já olhei um dia, beijar o nada, ser vista como louca para qualquer outra pessoa por ver algo que não está aqui.

Não consigo sentir seu cheiro, mas de alguma forma sei exatamente seu perfume.

Eu tenho medo desse fantasma, medo dele sumir, medo nem dele restar.

- eu amo você.

Eu digo baixo, olhando para ele enquanto ele se deita ao meu lado na cama.

- eu amo mais.

Ele diz enquanto faz carinho em meu rosto.

- volte a vida ou me leve com você.

Minhas palavras cortam até mim mesma, era insano a forma que ele me deixava, ele fazia meu sangue correr mais que alguém que estava vivo.

Seu rosto sendo iluminado pela luz neutra, eu era incapaz de voltar para realidade.

Talvez morrer e me encontrar com ele não fosse uma má ideia, mas eu não sei como funciona o outro lado da linha da vida.

- eu quero possuir seu corpo, de alguma forma viver em você por toda eternidade, infelizmente isso não te faria bem.

Minhas lágrimas escorriam com suas palavras calmas, a morte dele era trágica demais, eu nem me importo se ele me faria mal ficando comigo por toda eternidade, eu só o queria, queria senti lo como se fosse um sexo violento, como se fosse um suicida se jogando de uma ponte e afundando no mar violento, eu quero sentir a presença dele novamente de uma forma tão desesperada que seria até mesmo doentia.

Quando ele sumir, eu vou voltar para a minha escuridão diária.

Estar com ele nem sempre precisa de assunto e muitas palavras, a presença dele já basta.

Meu maior medo é que ele não me assombre mais, o que iria restar de mim sem ele ?

A melhor forma de invocar ele sempre vai ser as cartas antigas, as músicas dedicadas, os lugares onde passamos, as pessoas que viram tudo acontecer, as velas, as memórias, as comidas, o perfume, os filmes.

Estranhamente a sombra que convive comigo em carne e osso, ela só o afasta, mesmo sendo um tipo de espelho dele, mesmo tendo a mesma aparência, afasta esse ser tão perfeito, o vivo está morto e meu morta está mais vivo que nunca.

Quando eu adormecer e sonhar com isso, vou acordar e notar que meu querido se foi novamente.

O suicídio e a dependência andam juntos nesse momento, nessas manhãs ...

Olhar para ele era a única coisa que eu fazia, sem dizer se quer uma palavra, ele já sabia que eu não tinha nada de novo para dizer, eu sempre falava as mesmas coisas, " volte, por favor", "eu te amo", "sinto sua falta", " ainda sou bonita para você", "não me largue por nenhuma fantasma"

O tempo passa rápido, aos poucos o rosto dele vai se esvaindo, ele nunca fica tanto, acho que tem um limite de tempo.

- não, não vai... Fica

Pedi aos prantos.

Ele não dizia nada, só se apagava.

O meu choro no quarto ficava gritante, parecia que algo estava sendo arrancando de mim, o tempo é diferente nessa linha sobrenatural.

Quando ele chegou eram 23:45 e agora são 5:00, o sol está nascendo e todas essas horas, na outra linha foram apenas 30 minutos.

O sol começava a nascer, o céu estava clareando devagar, tudo foi um sonho?

Outro dia...
Outro dia ...

Tantos dias que perdi a noção, a rotina consumiu tudo, é isso que se chama viver?

Ele não apareceu mais.

Eu acabei com tudo, me fazendo desaparecer e indo para a outra linha em busca dele, nem que fosse eu outro corpo, em outra vida.