Seis

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A magia, seja ela boa ou má, sempre vinha com seu preço. Esther Mikaelson em algum momento de sua vida havia sido uma boa mãe, mesmo que não fosse uma boa esposa. Quando correu o risco de perder seus filhos, não pensou duas vezes antes de criar um feitiço poderoso que mudou seus filhos por completo, mas o preço foi cruel.
O sol virou seu inimigo, o sangue seu vício e o desejo de um futuro com filhos, esmagado por completo. Cada um dos Mikaelsons sofreram a sua maneira com sua nova natureza. Finn e Kol, ambos grandes bruxos, entraram numa prisão completa de perca e dor, sem aceitar o seu novo eu, pois o vampirismo matou por completo a sua magia. Era como se uma parte deles tivesse morrido, assim como Klaus, quando finalmente entendeu o motivo de se sentir diferente, teve seu lobo aprisionado por mil anos, negando-se a si mesmo.
Rebekah por mais que fosse valente, destemida e a frente de seu tempo, ainda tinha o simples sonho de formar uma família, encontrar alguém que a amasse e gerar em seu ventre o fruto desse amor, ser vampiro matou esse sonho. Já Elijah, trancou todos os seus sentimentos dentro de sua mente, inacessível para qualquer um, incluindo ele mesmo e apenas fez sua missão de vida, juntar sua família. Todos os Mikaelsons eram quebrados.
Em uma mansão no centro de Nova Orleans, conhecida por todos como mal-assombrada, no sótão escuro e empoeirado, havia um caixão de vidro. Qualquer criança que visse aquela imagem, diria de imediato que a branca de neve dormia ali, mas isso estava distante da realidade. Ali, em um profundo sono, estava um dos preços da magia da família Mikaelson.
Freya era dotada de uma beleza atemporal, seu poder, como de todo primogênito de sua família, era selvagem e tão forte que superava a maldição naquelas paredes. Sua aparência lembrava muito a de sua mãe, só que muito mais suave e feroz.
Apesar do escuro, o brilho da lua refletia no vidro do caixão, o rosto sereno então mudou, olhos azuis ficaram bem abertos enquanto sua mente aceitava sua situação. Não faziam cem anos que havia ido dormir, buscando em sua mente a ligação com sua tia, suspirou de alívio ao sentir que ela ainda dormia, não queria que a sua sequestradora já estivesse livre. Buscando entender o motivo de acordar mais cedo, finalmente arfou ao sentir.
O sangue clama pelo sangue.
Um de seus irmãos havia conseguido o impossível e estava gerando um filho, usando seu poder, explodiu para longe a tampa do caixão e saiu. Era hora de reunir a família.

***

— Qual é o primeiro passo a se traçar? — Charlie questionou olhando para o pai de seu neto.
— Acho que o primeiro passo que temos que dar, é procurar um médico para grávidas, qual o nome mesmo? — Klaus questionou para ninguém em específico.
Davina deu uma risadinha atraindo a atenção dele, as bochechas da jovem ficarem vermelhas com a atenção. Rebekah deu um grande sorriso ao notar a interação dos dois, mil e um planos começavam a ganhar vida em sua mente.
— Acho que você quer dizer um obstetra — a jovem bruxa falou e Klaus assentiu.
— Senhor Uley — chamou Elijah em tom diplomático, Sam o encarou aguardando — Creio que é seguro dizer que não teremos problemas com sua matilha, certo?
Sam hesitou em dizer em voz alta o que atormentava sua mente no momento, olhando de lado para seu líder tribal, respirou fundo pronto para confessar.
— Eu não sou mais o alfa — confessou e foi possível ouvir o arfar em vários lugares da sala.
— Como assim Sam? Eu não aceitei ser alfa, na verdade, desde que eles chegaram, o lobo em minha mente parou de exigir uma posição, como se tivesse... — Jacob arregalou os olhos na direção de Klaus, o ex alfa quileute assentiu com o rumo dos pensamentos do mais jovem.
— Nossos lobos reconheceram o verdadeiro alfa — concluiu o Uley, Billy Black franziu o cenho, aquilo era sem precedentes, um alfa fora da tribo?
— Por isso senti o que senti quando vi a Davina pela primeira vez — Jacob continuou sob o olhar questionador de todos — Ela parecia como matilha. Mas era o bebê em seu ventre, o sangue de Klaus.
— Então sim, Elijah, posso garantir que não teremos problemas. — garantiu Sam.
— Tudo bem, vamos focar no mais importante — começou Rebekah agarrando Davina para si — Roupas para a pequena bebê e para a futura mamãe, porque querida, essa roupa não combina com você.
  Klaus olhou com carinho para a loira e a morena. Tudo ia dar certo.

***

  Davina enrugou o nariz com o cheiro ao seu redor, o odor extremo da limpeza característico em ambientes hospitalares não era o maior aliado de uma grávida. O enjoo fez com que a jovem fechasse os olhos com a careta apenas para abri-los com surpresa ao sentir um toque em sua mão. Uma mão quente e grande, pertencendo a Klaus Mikaelson, a segurava com cuidado. A jovem olhou para seu rosto e deu um sorriso ao ver preocupação.
  — Você está bem? — questionou realmente interessado com a resposta.
  — Estou, é apenas enjoo. Normal de gravidez. — ela falou e olhou ao redor. — E você? Seja sincero comigo, como está se sentindo?
Klaus desviou o olhar para o corredor do hospital, havia sido fácil arrumar uma consulta com a melhor obstetra, Charlie era o chefe da polícia afinal, apesar de o Hospital Geral de Forks atender uma pequena população, a estrutura era grande e moderna, nada para alguém como um Mikaelson reclamar.
O híbrido suspirou ao pensar na pergunta da bruxa, o que ele estava sentindo? Por um instante, ele pensou em mentir, dizer que tudo estava bem, mas aqui estava ele, um homem destruído ao lado da sua fagulha de esperança. Ele sentia a necessidade de confiar nela e isso ao mesmo tempo que o assustava, deixava seu coração ansioso.
  — Eu estou perdido — confessou suspirando e hesitando em continuar, apenas para sentir o toque quente e suave da mão de Davina na sua, um sorriso de incentivo e ele estava pronto para continuar — Meu pai... bem, Mikael, era um pai terrível, cresci ouvindo os seus insultos e sentindo em minha pele o seu ódio. Eu sabia que todos os meus irmãos sofriam em suas mãos, mas nunca entendi o motivo de comigo ser pior, até eu matar pela primeira vez. A euforia de se tornar um lobo foi manchada pela confusão e o olhar de ódio do homem que cresci acreditando ser meu pai. O fruto de um caso, era isso que eu era, a mancha na mácula da família, o impostor. Eu passei séculos fugindo dele e aprisionando meus irmãos pelo simples medo de ser abandonado ou traído, apenas para que no fim, dois deles morressem, eu falhei com minha família e saber que tenho um filho para nascer, uma filha, só me faz ter medo de falhar de novo e acabar virando aquele a quem mais temi, meu pai.
  Davina franziu o cenho encarando o olhar quebrado do híbrido a sua frente, havia tanta amargura em sua voz e o principal, culpa. Mas ela conseguia ver além daquele ser sem esperanças. A jovem bruxa ergueu a mão e tocou com cuidado a bochecha do homem atraindo sua atenção, o sorriso suave em seu rosto fez o coração morto do híbrido vibrar.
  — Você não é seu pai Klaus, o simples fato de você achar que não é digno dessa criança, já mostra o quanto você é melhor do que ele. — ela falou e foi impossível que ele não suspirasse.
  Parecia que um fardo havia sido arrancado de seus ombros.
  — Davina Swan — a voz da médica soou chamando o casal e ambos encararam o corredor branco e imaculado.
  A jovem levantou com graça e ergueu a mão para o homem, um sorriso ansioso em seus lábios rosados e um olhar suave em seu rosto.
  — Vamos lá, para o primeiro dia de nossas vidas.

Golpe de sorteOnde histórias criam vida. Descubra agora