Tentações Assassinas

Capítulo 1

E lá estava eu, a perder-me na imaginação, a perder-me no pensar de como será a minha vida aqui em Seattle, acho que vai ser bem diferente do ambiente de Liverpool. Finalmente volto à vida real, e deparo-me numa divisão diferente de onde estava antes de ter caído na imaginação. Nessa divisão estava o meu pai, a ajeitar a sua gravata com a ajuda do espelho grande da sala de estar. Não lhe disse nada, fingi estar mais concentrada em qualquer outra coisa que nem eu sabia o que era.

- Bom dia para ti também! - diz o meu pai, sem tirar o seu olhar sério da gravata pendurada na sua estrutura rígida projetada no espelho. Não respondi, não senti necessidade de o fazer.

- Que bicho te mordeu? Dormiste mal, foi?

- A mãe ainda está a dormir? - perguntei, ignorando as suas perguntas anteriores.

- Ela teve que entrar em serviço a meio da noite. Ligaram-lhe do posto, foi encontrado um corpo desfigurado, ainda estão a fazer testes para descobrir se é homem ou mulher.

- Onde é que foi isso?

- Perto da floresta tropical, ao lado do liceu.

- Fogo...para não conseguirem identificar o sexo, isso deve ter sido mesmo grave. Pode ter sido um animal selvagem, como é perto da floresta.

- Aquela zona é protegida porque é habitada por lobos, pelo que li.

- Se ao menos ela me deixasse participar no caso...- resmunguei.

- Sabes muito bem que a tua mãe não pode fazer isso, és menor e ainda és estudante. Se quiseres fazer parte da FBI tens de ter um diploma oficial em justiça criminal, e para isso tens de estudar. - disse com o seu ar sério e sereno, como habitual.
Não respondi, revirei os olhos, peguei na mochila e dirigi-me à porta de entrada. Parei por poucos segundos para verificar se não me havia esquecido de nada e depois segui caminho.
O meu pai hoje não me conseguiu levar à escola de carro, devido a um problema do mesmo, mas ao menos estava sol e conseguia desfrutar, porque pelo que as notícias afirmaram, haverá chuva nos próximos dias.
Fiquei a pensar no que o meu pai me contou, naquela pessoa que foi encontrada num estado grave. A única coisa que me distraiu desse pensamento foi a intensidade do sol a bater-me na face. Estava a andar depressa de tão atrasada que estava, e perdida naquele pensamento que não reparei no que estava à minha frente, até que choquei contra algo e quando já estava no chão e com a minha pasta espalhada é que reparei que era um rapaz.

- Desculpa, não te vi. - disse ele com um ar desnorteado enquanto apanhava os papéis que me tinham caído.

- Tens de ver por onde andas! - respondi eu cheia de raiva. Curvei-me para apanhar os últimos papéis, e quando me compus, ele já tinha desaparecido, como se fosse um fantasma. Apesar de ser estranho, a única coisa que me preocupava no momento era não chegar atrasada ao liceu.
Odeio muitas pessoas à minha volta ao mesmo tempo, quase que parecia um enxame, então tive que me preparar para passar por aquele monte de gente que estava no portão do liceu. Começar o dia com matemática só piora ainda mais a minha raiva desde que... mas quem será ele? Nem tive oportunidade de lhe ver a face, estou irritada e nem sei quem é... Será que ele anda nesta escola? Não vou conseguir lidar com cada olhar que receber de um rapaz e pensar que é ele, só piora a minha ansiedade. Dei por mim já na porta da sala, e quando entrei sentei-me numa mesa isolada de toda gente, da minha turma nova, não totalmente nova, ainda tinha alguns colegas da turma do ano passado. A Candice, a minha melhor amiga, com cabelos loiros encaracolados e com um corpo quase perfeito, e ainda assim ela tem problemas com a autoestima. Também reconheci o Carl na frente da sala, o conhecido como nerd da turma, com a sua camisa branca e azul e com os seus óculos fundo de garrafa. Era boa a sensação de não ter chegado atrasada, ao contrário do Sr. Henry, o novo professor de matemática, que até era bem parecido, apresentou-se como se tivesse ido para um casamento, com um smoking cinzento e uma gravata vermelha.