Não foi o som irritante hospitalar que me despertou, muito menos a dor de cabeça dos infernos, nem mesmo o gosto amargo na boca. Não, foi aquela música.
Eu podia ouvir tocando em algum lugar, uma melodia suave e triste. Tentei buscar na memória se já tinha ouvido algo assim, mas minha cabeça pareceu pegar fogo.Abri os olhos com alguma dificuldade, me perguntando quanto álcool eu tinha bebido. Me perguntei também, se eu era do tipo que bebia até entrar em coma alcoólico, mas não sabia responder e tentar pensar doía muito. A escuridão tomava conta do ambiente, mas eu me sentia tonta e enjoada demais com o odor hospitalar para voltar a dormir.
Não sei quanto tempo se passou até que eu despertasse completamente para a consciência, mas quando finalmente consegui lutar contra a moleza e tornei a abrir meus olhos, era dia, e a claridade que entrava pela janela incomodava bastante.
Cobrir os olhos não diminuiu o desconforto, mas me fez notar um acesso intravenoso em minha mão. Tentei me sentar, e ao apoiar as mãos no colchão, doeu meu pulso. "Eu odeio hospitais" pensei, desistindo de sentar.Me perguntei porque eu estava ali, mas minha mente era uma bagunça disforme e sem sentido. Movi todos os meus membros notando estar inteira, aparentemente, isso era bom. Significa "sem necessidade de hospital" para mim. Uma enfermeira entrou no quarto e foi abrir as cortinas.
— Bom dia Mabel, como você está?
Perguntou enquanto abria outra cortina— Tudo continua igual lá em casa. Minha mãe continua sendo um porre de merda e Micaela insiste em querer minhas economias, mesmo depois do que ela fez ao meu cachorro. Se eu fosse mais como John Wick, resolveria em uma hora e meia, mas a realidade é que eu não faria mal aquela cachorra. Mas não se preocupe, eu tenho uma quantia maior de dinheiro acumulada essa semana. Logo, logo as coisas vão melhorar, eu tenho fé. Assim como melhorou p...
Em seguida, ela veio até mim, finalmente olhando em meus olhos e percebendo que estou acordada.
— Meu Deus! Eu... Você está acordada! Eu já volto, vou chamar um médico.E saiu correndo chamando por ajuda. Pouco tempo depois entrou uma doutora que parecia não ter mais que um metro e meio de altura, cabelos pretos presos num coque bagunçado e grandes olhos escuros que exibiam choque mal disfarçado.
— Olá, bom dia Mabel, como está se sentindo? Eu sou a doutora Joana, sou a neurologista de plantão. Vou precisar fazer alguns testes para verificar como você está. Tudo bem?
A médica se aproximou, apontando uma lanterna pequena para meus olhos.— Acompanhe o objeto com os olhos por gentileza.
A luz irritante se moveu para a esquerda e para a direita e eu fiz como a doutora pediu. Ela fez mais alguns testes físicos até se dar por satisfeita.
— Sede...
Tentei falar mas minha garganta estava ressecada, então apenas exprimi um som arranhado.— Aqui, beba.
Outra enfermeira que eu não tinha notado ainda me deu um copo d'água e eu sorvi o líquido como alguém perdido no deserto.
— Devagar, assim. Consegue responder algumas perguntas?
Inquiriu a doutora— Sim.
— Certo. Primeiramente eu preciso saber se você sabe onde está.
— Eu estou num hospital.
Olhei entre as três mulheres. Elas tinham emoções diferentes em seu rosto, particularmente a doutora Joana, que mascarava bem, mas parecia muito surpresa.— Certo.
A médica colocou o estetoscópio em meu peito, auscultou e então perguntou como eu me sentia fisicamente, enquanto alternava em pressionar meu abdômen e dar pequenas pancadinhas desconfortáveis pelo meu corpo.

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F.L.A.M.E
Ficção AdolescenteCinco amigos fazem parte de uma banda que se torna mundialmente famosa após uma Terrível tragédia. Franco Levon Asher Mabel Eloy