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A enfermeira que eu vi no dia em que acordei estava de volta e trouxe uma cadeira de rodas e uma bandeja com curativos. Após remover o acesso intravenoso para o soro, ela me ajudou a sair da cama e sentar na cadeira de rodas.

— Eu vou levar você agora para outro procedimento, querida.
Ela realmente parecia uma daquelas pessoas que não se importava por conversar sozinha. Sempre falando sobre o drama da vida dela sem se preocupar se eu queria ouvir ou não. Tão a vontade que me perguntei há quanto tempo ela fazia isso de falar sobre si mesma comigo sem esperar quaisquer respostas.

Saímos do quarto pelo corredor longo e desta vez, notei que quase todos viraram para nos ver passar. Quando subimos para o andar cirúrgico, vi as pessoas me olhando e acenando para mim, seus rostos tomados pela expectativa de algo.

Alguns cochichavam entre si, outros até se atreveram a tirar fotos minhas sorrateiramente e isso foi estranho até o céu. No elevador, eu criei coragem para puxar assunto com a enfermeira.

— Posso estar meio paranoica aqui, mas parece que todo mundo está me olhando.
Exclamei baixinho para a enfermeira e ela deu uma risadinha

— Não apenas parece, todos estão realmente.

— O quê disse?

— Não ligue para os olhos curiosos. Acontece que você é a estrela desse hospital. Nossa paciente mais famosa.

— Sério? Nossa, meu caso é tão interessante assim?

— Claro!
Um silêncio estranho se fez por alguns minutos e não me aprofundei no assunto, apenas fiz a primeira pergunta que me veio à cabeça
— Eu posso perguntar seu nome?

— Ah, claro! Pode me perguntar o que quiser. Eu me chamo Carolina.
Disse, apontando para o crachá e eu me senti meio imbecil por não ter observado antes.
— Mas você pode me chamar de Carol.
— Prazer em te conhecer, Carol.
Ela sorriu e girou a cadeira de rodas para o centro de suturas.

Na sala de sutura o médico era insuportável, falava comigo como se me conhecesse. O procedimento foi doloroso e desconfortável, mas acabou tão rápido que nem deu tempo de reclamar.

Durante o trajeto de volta para o quarto, resolvi exercer meu passe recém adquirido e perguntar para Carol todas as coisas que não tive coragem de perguntar a Irina e Max.

— Então... nesses dez meses que eu passei em coma, minha família esteve muito por aqui?

— Ah sim, demais. Esse hospital vivia cheio de seus amigos e famíliares, principalmente no primeiro mês, mas conforme o tempo foi passando, a presença mais constante era da sua tia, já que você não mora aqui na cidade. Mas porque você pergunta?

— Não me leve a mal. Eu só não queria incomodar minha tia com um interrogatório desnecessário, especialmente por causa da amnésia. Acho que só queria ter certeza de que alguém se preocupou comigo durante todo esse tempo.

— Eu entendo. Mas quanto a isso não se preocupe, as únicas pessoas além do hospital que estão cientes do seu quadro até agora, são sua tia e sua irmã. Fomos orientados a não fornecer nenhuma informação sobre seu estado de saúde.

Carol abriu a porta do quarto e eu percebi instantaneamente a figura disposta de maneira totalmente desconfortável sobre uma poltrona verde à direita da minha cama.

Era um homem jovem de pele negra clara, com olheiras profundas e cabelos ondulados castanhos avermelhados caindo sobre a testa. Ele vestia roupas amarrotadas e exibia uma aparente barba por fazer.

Fosse ele quem fosse, parecia realmente miserável.
Olhei para Carol em busca de alguma dica e ela me incentivou a me aproximar.
— Esse é um dos seus amigos que mencionei sempre estar presente.
Levou a cadeira de rodas adiante, até estar na frente dele e se afastou, me dando um pouco de privacidade.

F.L.A.M.EOnde histórias criam vida. Descubra agora